Por: Leila Marques – Arquiteta e Urbanista – CEFET RJ
A pesquisa foi realizada pela historiadora Camila Belarmino, professora da USP, que investigou, a história das primeiras mulheres matriculadas (de 1907 a 1938), no primeiro curso de arquitetura do país, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, como informou o Jornal da USP de 24 de junho passado.
Em 16 de dezembro de 1911, o jornal “O Paiz” anunciava o inédito nome de Arinda da Cruz Sobral, como a primeira e única mulher matriculada em Arquitetura (1907) e com previsão de formatura para o ano seguinte 1912, pela Escola Nacional de Belas Artes, onde o curso era vinculado desde 1890. A pesquisa apresenta foto do documento oficial, manuscrito, que se configuraria como seu diploma emitido somente em 1914.
A historiadora Camila Belarmino mostra ainda que Arinda Sobral sofreu uma injusta invisibilidade de sua formação e seu trabalho, pois, ela seria a autora da capela/oratório de São Silvestre, situada na Estrada Heitor da Silva Costa, localizado em um área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Parque Nacional da Tijuca, e seu nome não é citado em documentos oficiais. No site “Inventário dos Monumentos do Rio de Janeiro”, por exemplo, administrado pela Arquiteta e urbanista Vera Dias, servidora da Fundação Parques e Jardins da PCRJ, a autoria do projeto do oratório consta como “desconhecida”, entretanto, o jornal da época da inauguração, “A Imprensa”, de janeiro de 1912, traz uma matéria citando Arinda como autora do desenho da singela edificação.
De acordo com dados do CAU Brasil de 2019, a presença de mulheres graduadas em Arquitetura e Urbanismo tem sido crescente e, atualmente, do total de 193.443 profissionais registrados, 64% são mulheres, embora poucas sejam reconhecidas e valorizadas pelos seus trabalhos, corroborando com a tese de Camila Belarmino que “as narrativas sobre essas profissionais estão praticamente ausentes da historiografia nacional”.
Mesmo que os demais projetos de Arinda não tenham provocado interesses da academia e/ou não tenham relevância patrimonial, o fato de ela ter estudado, ter escolhido um curso “genuinamente” masculino, ter conseguido se formar e trabalhar, rompendo o paradigma das mulheres de seu tempo (nascida em 1888), já faz de Arlinda uma mulher merecedora de um lugar de destaque na nossa história. Destaque inclusive, onde só há bem pouco tempo começamos a perceber a presença de mulheres relacionadas à categoria, como o caso da presidente do CAU BR, Nadia Somekh, a presidente do IAB Nacional, Maria Elisa Baptista, a presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e urbanistas, Eleonora Mascia, a primeira mulher a receber o Colar de Ouro do IAB em 2019, Rosa Kliass e a segunda a receber tal honraria, Dora Alcântara.
Arinda Sobral, mais do que projetos, sem dúvidas, abriu portas de um novo cenário para mulheres, que demorou a se concretizar, mas que não tem mais volta.
Se tem documento comprovando que ela é autora do projeto nada mais justo de ter seu trabalho reconhecido. O que estão esperando p colocar o nome dela no projeto? Já passou da hora!!
Realmente já passou da hora de uma obra de arte ter seu criador reconhecido pelos
nossos governantes se e que assim possam ser chamados,