Por: Thaís Ferreira
Na Lapa estão aos milhares pessoas em situação de rua, dependendo todos os dias de quentinhas que são entregues por organizações civis. Desemprego e miséria são partes da paisagem como os próprios Arcos.
Estão ali várias crianças indo e vindo em situação de trabalho infantil, no horário em que deveriam estar na escola. Os adolescentes negros frequentemente estão empurrados para o trabalho informal, onde entram em contato com o universo adulto antes de terem maturidade para fazer escolhas adequadas, nesta fase que para jovens brancos é classificada como “típica de rebeldia”.
O contexto na Lapa é de uma população negra abandonada à própria sorte, com jovens sem perspectiva, inteligentes, mas fora da sala de aula, e adultos capazes, talentosos, fazedores de cultura e economia, que no entanto se vulnerabilizam na informalidade, em pequenos bicos, somando-se à população que corre mais riscos com insegurança alimentar, problemas de saúde, depressão, suicídio e a violência.
A mão do Estado – com menos diferença entre períodos com governos de esquerda e de direita do que nós esperávamos – jamais interveio nesta região no sentido de ocupar os agentes públicos de resolver as carências. O cadastramento, por exemplo, de quem fica perambulando pela região é incipiente.
Alguém poderia citar que muitos estão por ali porque se tornaram dependentes químicos e que, portanto, seria preciso “internar”. Só que os centros de atendimento psicossocial na região, se alguém não sabe, estão em péssimas condições, com atendimento precário, e ainda por cima subordinados a uma lógica religiosa fundamentalista – que não é, com certeza, o tratamento mais moderno e eficaz que existe disponível. Tanto que vários passam por esses centros e não conseguem sair da situação de dependência.
Outra ideia que algumas pessoas têm é que o povo de rua é o problema, e que “ele não quer ir pro abrigo”. Gente, esse discurso é desesperador. Porque não há vagas! As poucas vagas que são oferecidas pela prefeitura à enorme população de rua nas imediações do centro são preenchidas rapidamente, e funcionam em horário reduzido, sem sequer servir um almoço. A prefeitura do Rio, inclusive, passou a chamar esses abrigos de “albergue”. O cúmulo da desfaçatez sobre a responsabilidade de garantir moradia.
No mundo todo albergue é onde viajantes se hospedam para pegar uma praia, por exemplo, mas no Rio virou o discurso oficial da prefeitura e a sua política mais importante para lidar com uma população desempregada e sem-teto que não pára de crescer com o Governo só para ricos do Bolsonaro.
Eu estive há poucos dias em um abrigo da prefeitura na Lapa para fiscalizar uma denúncia dos acolhidos de que a prefeitura servia alimentação de péssima qualidade.
Mandaram as fotos para a gente, horríveis, e eu fui lá ver. Já na porta tinham várias pessoas desabrigadas, porque do lado de dentro a lotação já era a máxima. E ninguém negou que tinha problema nas refeições que estavam sendo servidas. Eram péssimas, mesmo!
Esse bolsão da desigualdade, como não é diferente dos outros, ainda cria um terreno fértil para o aliciamento. Os grandes criminosos que operam a maior parte dos lucros com tráfico de drogas disputam ali espaço e mão de obra de pessoas que são completamente marginalizadas pelas políticas públicas, e transformam muitos deles em soldados na posição mais vulnerável do crime.
É ridículo quando nós denunciamos essa miséria, esse racismo escancarado, essa marca persistente da escravidão, que se reproduz com participação e conivência de amplos setores, e ainda tem gente que vem com a conversa que estamos é “defendendo bandidos”. Como seria?! As artimanhas que atrapalham o cumprimento de sentenças justas no Brasil só têm domínio os grandes escritórios e só existem para criminosos de colarinho branco. Nós não temos defesa a não ser em uma Defensoria Pública que opera superlotada.
O jovem negro no Rio conhece a rotina dos esculachos, das abordagens que o policial nem sequer se apresenta (e quem dirá apresenta um mandado de qualquer coisa!). Abordagens essas que muitas vezes terminam em desfechos fatais, como foi o caso recente na rua Joaquim Silva.
Na Lapa a segregação entre os novos estabelecimentos voltados para classe média e a mendicância e o escambo ao redor, está ainda mais ainda visível porque forma um ambiente particular, onde a cultura negra é ao mesmo tempo reverenciada e assassinada. O bairro produz samba com seguranças orientados a não deixarem outros muitos negros pedirem um troco.
Nós realmente estamos fartas de gerações de tristeza e agonia, sangue derramado, e a humilhação de ter que defender que a Lei também deve valer para nós.
A segunda-feira da semana passada na Lapa foi de tiroteio que para alguns “só atrapalhou o trânsito”. É o cartão-postal do racismo nos trópicos. Montmartre como só nós conhecemos. E para alguns “ilustrados” formados em Harvard, Columbia e Yale é uma nova “revitalização”.
É urgente a dignidade para o povo negro! Nós não estamos fazendo bravata. É ali na Lapa. Agora. Vamos para lá! É insuportável olhar os retratos, e é especialmente cruel quando são rostos de garotos! Demais autoridades, doutores, levem um curso! Coloquem as crianças para sair mais tarde da escola!
Prefeitura, faça o seu papel! Governo, faça o seu papel! Nós estamos fazendo a nossa parte e queremos que vocês também façam a de vocês. Nós estamos trabalhando corretamente e queremos que vocês também trabalhem. Queremos nossos jovens negros vivos e felizes.
Em 2024, que as urnas enviem essa vereadora para o esquecimento. Não fala coisa com coisa.. imagina as leis que se arroga a propor?!
Texto patético. Não tem a minima noção do que é a lapa de verdade.
Em 2008 quando comecei a frequentar a Lapa, aquilo ali já era entupidos de mendingos e dependentes químicos. Sai desse mundo de nárnia, minha filha.
Ninguém conhece mais a Lapa do que quem mora na região da Lapa.
Esta veredora fala muita coisa que não sabe.
Há muito mais obscuridades do que imagina na região.