Quando se é jovem – e privilegiado – é possível enxergar inúmeras possibilidades de futuro à frente, principalmente em relação à carreira que se irá seguir. Mas o que acontece conforme a pessoa envelhece? Será que ainda é possível escolher um novo caminho? Esta é uma das reflexões que o personagem Theodoro Boaventura, ou Theo B., faz ao longo do livro A ilha e o espelho, escrito por Fausto Panicacci e publicado pela Maquinaria Editorial em 2022.
Theo B. narra as histórias que viveu na Inglaterra quando trabalhava e cursava pós-graduação em Cambridge e ficou amigo de um grupo de pessoas que conhecera em um bar. Uma dessas pessoas é seu sósia, o fotógrafo Lucca, que no passado trabalhou como correspondente de guerra na Bósnia – experiência que ele prefere não relembrar. Também fazem parte do grupo uma psicóloga, um estudante, um economista e uma executiva.
A relação com este grupo de amigos faz com que Theo B. se depare com muitas questões que antes não faziam parte de sua vida, como: o que podemos aprender ao olhar com generosidade para o outro; a dor e a beleza que existem no mundo; a atitude do ser humano diante das inevitáveis tragédias.
Durante seu relato, Theo não se prende apenas aos fatos – a partir deles, faz muitas reflexões sobre a solidão, a amizade, a miséria e a riqueza do ser humano e, principalmente, sobre o que esperamos da vida quando somos jovens e o que ela nos apresenta quando envelhecemos. Ele percebe que suas antigas escolhas talvez já não façam mais sentido:
“(…) eu me desviara dos meus propósitos originais, do idealismo que, sonhara eu quando mais jovem, seria o cerne da profissão. (…) fui pouco a pouco rodeado por uma bruma, pela ideia, melhor, por uma sugestão segredada, quase inaudível, de que minha vida podia ser uma falha, de que tudo para o que me preparara talvez estivesse trazendo apenas o contentamento morno dos descontentes.”
A ilha e o espelho traz ainda questões como a violência doméstica, a preocupação com o meio ambiente e um leve mistério sobre a autoria de alguns crimes que têm acontecido cidade. A narrativa irá agradar a quem aprecia as artes, pois elas aparecem em suas diversas formas: os personagens fazem aulas de fotografia, frequentam simpósios sobre cinema, shows de jazz, apresentações de teatro – resultado da paixão do autor Fausto Panicacci, que é formado em Direito, mas estudou também Fotografia, História do Cinema e História da Arte. Um romance repleto de questões doloridas e profundas que convivem com a leveza e a beleza das expressões artísticas.
__
- Livro: A ilha e o espelho
- Autor: Fausto Panicacci
- Editora: Maquinaria
- Páginas: 304