O DataSUS confirma: a quantidade de suicídios no Brasil dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 para 14 mil episódios por ano. Entre 2010 e 2019, ainda antes da pandemia, foram 112.230 mortes por suicídio em nosso país, com um aumento anual de 43%. Tirar a própria vida é a quarta maior causa de mortalidade entre os brasileiros de 15 a 29 anos de idade. E o que nós fizemos, enquanto Poder Público, para combater esse mal, nos últimos anos, diante desses números que continuam crescendo? Será que reagimos à altura para proteger os adolescentes de ideias suicidas? A saúde mental entrou nos planos de ação do Estado?
Tanto a adolescência quanto o início da fase adulta merecem atenção especial por representarem períodos de maior vulnerabilidade emocional. Afinal, a insegurança, a baixa autoestima, os episódios de abuso em família e o ingresso no mundo das drogas costumam ocorrer com mais frequência nessa fase, agravando quadros de depressão. O uso intenso de aparelhos eletrônicos, especialmente telefones celulares, por parte de crianças e adolescentes, intensifica a busca pelo prazer imediato e amplifica as dificuldades de lidar com a frustração e as adversidades — deixando as crianças ainda mais suscetíveis a quadros mentais que contribuem com ideias suicidas. A geração Z, ou seja, os nascidos após 1995, são os mais afetados pela chamada nomofobia, a dependência dos celulares e outros aparelhos eletrônicos.
Nas escolas, a incidência de bullying pode gerar graves sentimentos de desconforto que também aumentam o risco de suicídio, conforme comprovam pesquisas realizadas em diversos países. Por isso, neste Setembro Amarelo, não podemos falar em prevenção ao suicídio entre os jovens sem focalizar o risco de bullying ou evidenciar a necessidade de capacitar nossos educadores para identificarem sinais importantes nas salas de aula.
O Estado deve reagir a esse grave problema de saúde pública, capacitando sua mão de obra nos cuidados com a infância e adolescência e disponibilizando o atendimento especializado de psicólogos e psiquiatras a crianças e jovens. O acolhimento deve vir acompanhado de medidas socioeducativas para gerar impacto real na comunidade.
As residências constituem o local mais frequente para o ato do suicídio (83,9%), de acordo com o SUS. Mas como saber se nosso filho está em perigo? As famílias devem estar atentas em casa aos menores sinais emitidos pelas crianças deprimidas, mas, para tanto, também carecem de orientação por parte do Estado. Desejo de isolamento, baixo nível de interação social e outros padrões de comportamento não podem ser menosprezados, tanto em casa quanto na escola. Por isso, a interação entre pais e educadores faz-se imprescindível.
Somente com uma sinergia entre as escolas, o sistema de saúde e as famílias será possível frear o triste crescimento dos casos de suicídio. No estado do Rio de Janeiro, diversas comissões deram parecer favorável ao meu Projeto de Lei Nº 1134/2019, que cria o Programa Estadual de Prevenção e Combate à Depressão e ao Suicídio, a ser aplicado nas escolas de ensino secundário de todo o estado. O texto, que aguarda para entrar em votação no Plenário da Alerj, prevê a realização de cursos de capacitação de professores e demais profissionais da educação a fim de qualificá-los como agentes preventivos, capazes de identificar e encaminhar alunos com perfil de comportamentos propensos à depressão severa e ao suicídio junto à Rede de Atenção Psicossocial pelos CAPS infantil.
Neste Setembro Amarelo, devemos refletir, sim — mas ir além dos cartazes e partir para a ação de verdade. A população tem pleno direito ao efetivo suporte sanitário e educacional que trate a depressão e previna o suicídio entre adultos e crianças, seja em casa, seja nas escolas.