O bom líder, tal como um bom pai, é aquele que não se deixa tomar pela função que exerce. Um e outro, de maneira distinta, também estão submetidos aos efeitos de lei, presentes em suas funções. Eles não se alimentam de um paralisante desejo de ser amado – dos liderados, dos filhos – e sim da posição de respeito. Esta é a sua ética!??
Isso equivale dizer que aquele que ocupa o lugar de líder não deve se identificar com a função de liderança. Esta é um traço que preexiste ao líder, ele somente está ali, no sentido de exercer o papel de algo, que é anterior a ele próprio. ?
O desejo de liderança habita cada um de nós. O embrião está ali, de saída, desperto ou adormecido, pronto para se deixar ser descoberto. Mas pode ser que você se acomode, numa sobrevivência, onde impera, de maneira veemente, um desejo de submissão. ?
Um bom líder é aquele que dissemina esse despertar em seus liderados. Isso impede uma proliferação de dependentes, seres sem desejo. Esse é o luto inerente à função de liderança. Há, portanto, uma distância entre a pessoa e a função do líder. ?
O bom líder não usurpa a função de liderança. Ele, com suas habilidades carismáticas, está ali como suporte, como um agente, como secretário de algo que o transcende. Deve saber que tal função não é de sua propriedade, pois também ele próprio, está submetido aos efeitos que emanam de um estatuto que o transcende, é maior que ele mesmo. ?
O bom líder deve admitir que pode errar, ele inclui a possibilidade do erro, sabe que o ser humano erra, que é portador de emoções, por vezes desencontradas. O fundamental é que ele aprenda fazer bom uso de erros que habitam a intimidade de suas emoções. Isso pode ser o seu melhor. Quando ele se identifica com a função de líder, acreditando que não pode errar, sempre querendo mostrar uma perfeição, acontece o pior. ?
Por isso mesmo, o ato de um bom líder carrega uma certa serenidade consigo mesmo. Um líder ansioso é alguém que vive atrapalhado com o lugar que ocupa. A pessoa que ocupa o lugar de liderança deve ter em conta que esta função não é de sua propriedade, ela é simbólica, e não é justo que ela seja usurpada. Se ele a usurpa, torna-se um péssimo líder, um bobo, um fraco, um inapropriado.??
E você, meu caro, quer ser um bom líder? Inclusive, é lógico, deseja ter uma posição de destaque, ser respeitado, ganhar um bom salário. Isso não é ruim, você tem esse direito, desde que lute por isso, estando aberto a um aprendizado, que é distinto do conhecimento em si. ?
Mas você está realmente disposto a pagar o preço que custa uma renúncia? Ser um bom líder implica em abrir mão de um querer ser a partir dos modelos ideais que se apresentam. A renúncia de ideais, de ser isto ou aquilo, é o que está na origem do tornar-se um líder. Esta é a condição de uma conquista verdadeira. Você deve procurar dentro da intimidade de sua vida, no mais íntimo de sua existência como ser humano, o traço de virilidade de um líder que o habita. Homem ou mulher, não importa o gênero.?
Renunciar aos modelos ideais, equivale a fazer o luto de uma criança que demanda ser conduzida, passar a pedir um pouco mais, a partir de seus valores próprios. Podendo deixar-te ser, sem o falseamento de querer ser aquilo que você não é, implica em dizer sim ao líder que o habita. Permitir-se ser você mesmo, respeitando suas limitações, explorando o que existe de melhor em suas emoções desencontradas. Isso que você deve acolher com carinho, respeito, se permitir ser si mesmo. ?
Os ensinamentos que vêm de fora procuram amputar os erros de um possível processo de aprendizado. Aprender a partir de si mesmo, não sem um sentimento custoso, é se deixar inseminar de algo novo, a partir daqueles que realmente têm algo a transmitir. Pensar, se questionar, se atrever, sem medo de errar. O erro é uma grande fonte de ensinamentos que podem se tornar férteis.