Pesquisas eleitorais sempre foram superestimadas pela opinião pública no Brasil. Não é a primeira vez que o resultado das urnas surpreende por distanciar-se das sondagens dos institutos mais renomados, como Ipec e Datafolha. Em outros países, as amostragens de entrevistas realizadas antes do pleito são encaradas como devem ser: tendências das preferências do eleitorado e não prévias das eleições.
Não foi apenas o erro das pesquisas que surpreendeu, e sim a discrepância. Bem distante da “margem de erro”, a ampla diferença em relação aos 43,2% dos votos para o presidente Jair Bolsonaro ultrapassou os 10 pontos percentuais. O Ipec, o antigo Ibope, mostrava Bolsonaro com apenas 37% no primeiro turno, ou seja, de quatro a cinco pontos acima da margem de erro máxima. O Datafolha, em sua última pesquisa, atribuía a Bolsonaro somente 36%. Antes vista como quase descartada pelos institutos de pesquisa, a reeleição de Bolsonaro hoje é considerada factível.
No caso do pleito estadual no Rio de Janeiro, as pesquisas não captaram sequer a possibilidade de vitória do governador Cláudio Castro em primeiro turno, o que aconteceu de maneira incontestável, com quase 60% dos votos. Castro pontuava apenas 38% em uma pesquisa do Ipec divulgada a apenas quatro dias do pleito de 1º de outubro.
O fato de os erros terem sido particularmente escandalosos quanto aos números atribuídos a Jair Bolsonaro e aos seus aliados, principalmente ao governador Cláudio Castro e ao candidato Tarcísio de Freitas ao Palácio dos Bandeirantes, é, no mínimo, curioso. Diante de tamanha desproporção, beira a injustiça criticar a desconfiança generalizada despertada na população em relação ao trabalho dos institutos.
Por que estamos diante de um episódio ignóbil, que merece toda a nossa atenção? Justamente porque a divulgação de tais pesquisas exerce uma notória influência sobre o voto do eleitor. Ao saber do resultado das sondagens de opinião, divulgadas com estardalhaço pelas emissoras de TV, sob um clima de “quase eleição”, os cidadãos podem reconsiderar sua escolha original, engrossando o chamado voto útil e abandonando a sua mais autêntica preferência eleitoral.
As gritantes imprecisões dos renomados institutos de pesquisa em 2022 não passaram somente ao largo da margem de erro: passaram também distante da margem de tolerância da sociedade. Que aprendamos a mirar as pesquisas não como oráculos e sim como aquilo que são: meros indicadores de uma possível realidade de momento, às quais não devemos atribuir mais valor do que elas merecem. Afinal, eleição sempre foi uma caixinha de surpresas e é decidida somente na urna.
Assino embaixo.
Parlamentarismo resolve isso.
tudo combinado. democracia de bosta é assim.