A Festa Literária de Paraty (FLIP) completa 20 anos de existência em 2022 e termina com um sabor agridoce. Foi a FLIP da retomada, toda presencial, não tão cheia como outras edições (afinal, temos a covid), com menos casas e até alguma falta de organização para saber o que estava acontecendo em cada uma delas, ou até onde estavam. Sou daqueles que preferem encontrar debates interessantes pelas ruas de pedras e as casas variadas que oferecem tais trocas, fora do auditório principal.
Apreciei a FLIP 2022 de quinta, 24 de novembro, a domingo, 27. Minha hospedagem foi no bairro do Jabaquara, na pousada Gabimar, com café da manhã caseiro, onde o pudim se destaca, e com a companhia estelar de Dona Glória, com suas histórias, simpatia e irreverência. Era uma bela forma de começar o dia, aprendendo mais sobre a realidade dos antigos moradores e suas vidas.
A pousada é simples, o que é parte de seu charme, e funcional, a duas quadras da praia de Jabaquara, a qual consegue unir mangue, rio e mar, e sempre proporcionava uma visão deslumbrante enquanto caminhava até o centro histórico de Paraty. O quarto 8 me recebeu como um portal para o infinito literário que se abria.
Magicamente, a FLIP segue com seu poder de conectar fãs de literatura, editoras, autores, Entretanto, uma coisa que ficou mais gritante em 2022 do que em outros anos do evento foi a falta de maior presença dos moradores da cidade nas mesas e eventos, e num envolvimento geral que fosse além do comércio e do lucro que a festa literária causa. Foi o que muitos dos locais me relataram nas conversas que tive pelos caminhos que fazia.
Itamar e Marcelino
Entre os escritores, Itamar Vieira, do sucesso Torto Arado, e Marcelino Freire, de Contos Negreiros, sobressaíram nas mesas em que participaram sempre com humor afiado, humildade e a capacidade de exaltar a literatura. O Sesc Santa Rita e a Edições Sesc tiveram uma programação diversa e útil, como de praxe. Aliás, foi na segunda citada que acompanhei a conversa “MPB, Jorge Ben e o Álbum África Brasil”, mediada por Alexandre Matias, com Kamille Viola, autora de África Brasil: um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver da Coleção discos da música brasileira e Dadi Carvalho, baixista que acompanhou grandes nomes da nossa história musical.
O papo foi divertido ao extremo com as situações que Dadi contava e o conhecimento de Kamille. Como fã de Jorge Ben desde minha infância, pude aprender muito sobre esse alquimista da música que marcou a história do mundo com suas canções. Iniciei a leitura do livro no mesmo dia, enquanto aguardava o começo do Prêmio Off-FLIP. E é bom demais!
Ah, impossível não exaltar as projeções mapeadas na fachada do Sesc Santa Rita, que ofereciam uma ludicidade bebendo no melhor do folclore e da criatividade brasileira. Já o sábado fechou animado com o Samba da Benção, tradicional nas segundas-feiras da cidade história de Paraty, seguido pelo DJ Orkidea. Era uma efervescência de jovens dançando e cantando. Foi a noite mais cheia da cidade.
No domingo, na FLIPEI, área voltada para editoras independentes, ganhou corpo um protesto pela valorização da educação em Paraty. Os professores do município lutam pelo cumprimento total da Lei 026/16, que traz o Plano de Carreira do Magistério. Além disso, esperam novo concurso desde 2016 para suprir a carência de profissionais.
Teve muito mais, porém, conto depois.