Rogério Amorim: O Craque e o Crack

Rogério Amorim fala da homenagem de chamar a Radial Oeste de Rei Pelé, mas pergunta, o que pensaria os familiares a encontrarem os cracudos por lá?

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Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio

Édson Arantes do Nascimento se foi, mas Pelé ficou, porque é eterno, disse-o bem nosso Galvão Bueno. Mas essa eternidade pode se tornar etérea depois da decisão da Prefeitura do Rio de mudar o nome da Avenida Radial Oeste para Avenida Rei Pelé. Não que o craque não mereça tal homenagem. Pelé fez seu milésimo gol no Maracanã, além de outros 68 pelo Santos e pela Seleção Brasileira. Foi no Maracanã contra o Fluminense em 1961 que Pelé fez um gol tão maravilhoso que mereceu da administração do estádio uma placa – criando assim a expressão “gol de placa”, que usamos até hoje.

Nada mais justo que a via expressa que passa em frente ao antigo Maior do Mundo (diminuído em função do duvidoso Padrão FIFA) tenha o nome de Pelé. Claro, há o transtorno para quem mora no local – ter que mudar os endereços em concessionárias, lojas, entregas etc. Transtorno sofrido pelo morador da antiga Avenida Suburbana, que teve esse nome trocado por Avenida Dom Hélder Câmara. É fato: vivemos tempos em que ninguém pensa nos moradores – se pensassem, Copacabana teria menos shows gratuitos e o réveillon seria até um pouco mais enxuto do que a megafesta que é hoje.

No entanto, como ficaremos no dia em que familiares do Rei Pelé resolverem dar uma caminhada na avenida e lá encontrarem, em vez do craque, o crack? O que diremos para eles? Que os viciados em crack ficam por ali à vontade, enquanto a Secretaria de Ordem Pública nada faz? Que o lixo, a desordem, os sinais de trânsito quebrados, já fazem parte do “time” daquele local? Que os ferros-velhos que volta e meia recebem o produto dos roubos dos viciados estão lá, todos com o nobre endereço “Avenida Rei Pelé”? O que diremos?

Seremos forçados a pedir desculpas mais uma vez. Dar o nome a uma avenida é algo que está ao nosso alcance. Manter essa avenida em ordem provavelmente vai entrar na lista de gols que Pelé não fez – embora prefira apreciar os lances contra Viktor da Tchecoslováquia e Mazurkiewicz do Uruguai, ambos na Copa de 1970 quando, seguramente, havia paz e ordem na antiga Radial Oeste. Que as bênçãos do craque nos ajudem contra o crack.

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1 COMENTÁRIO

  1. realmente a região da Radial Oeste é tudo isso e mais um pouco. some-se as péssimas infraestruturas de metrô e supervia onde muitos krakudos ficam zumbizando e se instala um cenário de desespero para que passa por alí a pé ou sobre rodas. quanto as desculpas, o prefeito está realmente se importando como que a família pensa? Se querem fazer uma homenagem, instalem uma réplica da estatua de Pelé erguendo a taça igual a de Santos no portão da radial oeste ou uma espécie de memorial exaltando os capitães do penta e o gesto que tanto inspirou o país e o mundo.

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