Você se atreveria a mudar o que não anda bem em sua vida: os entraves, os disparates das suas repetições, uma vida vivida dentro de uma prisão, ou seja, uma maneira de ser distorcida, fruto de uma cabeça doente?
Mudanças são possíveis. Elas são difíceis, mas não impossíveis! Você está disposto a pagar o preço de uma mudança?
Pode ser que você tenha se habituado a viver uma vida doente, desgastada, amarga, imerso numa depressão, aprisionado ao dever, cumprindo de maneira obediente às ordens práticas, não fazendo outra coisa senão aquilo que tem que ser feito. Você se tornou seu próprio algoz, senhor de sua impotência, alimentando a negação do seu viver. Resignação! Não existe coisa mais triste do que fazer tão somente aquilo que tem que ser feito! Nesse caso, o sujeito verdadeiro, o sujeito do desejo, não está presente em seus atos, ele se torna um mero expectador da sua vida.
Preste atenção, há muito você se acovardou. Você recuou diante dos impasses de poder escolher viver sua vida, nem mesmo se atreveu a se perguntar, realmente, “eu gosto daquilo que faço”? Não, nada disso, você foi se tornando um ser mofado, moldado, se aperfeiçoou numa indelével disciplina, passou a fazer justo o que tem que ser feito! Você não tem mais propriedade alguma de escolher o que quer, o que deseja, tornou-se servil, o comando da sua vida agora vem de fora, das supostas necessidades, e não de dentro, onde residem seus reais valores, que seria o mais íntimo de seu íntimo. Você permitiu, e se acomodou, a cumprir as ordens que vêm de um mal-estar, de algo que jaz oculto nas entranhas da cumplicidade dos humanos, de uma máquina burocrática que brota de uma insanidade moral, cruel, de uma estranha paixão pelas ordens sociais, a assim chamada ordem pública. O amor, o desejo, o gozo sexual, agora obedecem a uma ordem única, obscena, insensata, de uma exaltante burocratização da família que se deixou levar pelo rebanho, como ovelhas que gestam suas depressões, que já não pensam mais, e que só dizem sim.
Silenciosamente, o casal selou sua cumplicidade ao desejo de submissão. Mas é lógico, isso incluiu os filhos no pacote, não permitindo que eles pudessem, cada um à sua maneira, ter uma vida diferente. Sim, em nome de um amor à ordem prática, cômoda, de só fazer o que é necessário para sobreviver. Você abafou aquilo que poderia ter sido!
Mas é claro que você entende! Muito cedo você censurou a tenacidade da sua palavra, de se atrever a pensar coisas destoantes, por isso mesmo não pode se escutar na sua voz, tão sublime, que somente poderia emanar do esplendor de um erotismo, e que só é possível de ser experimentado nos contornos do amor, de algo livre, de uma novidade que emana de uma vida privada, íntima, dos batimentos ensurdecedores do coração dão vida à uma vida conjugal. Procure lembrar: a vida privada funda a vida pública, e quando a recíproca se torna verdadeira, é a morte da vida, o silêncio do desejo. O seu verdadeiro valor já não é mais procurado dentro de você mesmo, de seu interior, dos seus ideais, tudo vem de fora, de uma prateleira de ventos enfraquecidos, que diz o que você é e o que você vale. Que tristeza, não é mesmo?
De todo modo, você acredita que viver é assim, é o normal, uma vida amarrada, contornada pelo desejo de submissão. As coisas, na sua família, caminham num ordenamento compacto, sem oxigênio, sem atrevimento para mudar. Sim, porque não, sua família aprendeu, ao longo dos anos, a não se questionar, acredita que esta mesmice, esse como os outros, é a melhor maneira para se sentir reconhecido e amado. Sim, amado no desejo de submissão!
Você se satisfaz num gozo, sem experimentar as delícias possíveis de uma alegria, e até mesmo dos poucos instantes de uma felicidade. Ao longo dos anos, você aprendeu a se defender, segue convivendo com as suas desgraças, à custa de angústias, depressões, colocando todas as suas incompreensões, tanto nas pessoas mais próximas quanto no entorno de sua vida. O erro está nos outros!