Papo de Talarico: Carnaval no Rio, o maior espetáculo da terra

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Bloco Bangalafumenga. Foto Gabriel Monteiro /Riotur

É só mais uma linda história de amor que me contaram e agora eu vou contar nessa crônica. Rio de Janeiro e Búzios foram as cidades que mais receberam turistas no Brasil nesse carnaval 2023. Como carioca da gema que já viveu muitos carnavais, devo dizer que nunca vi a cidade maravilhosa tão lotada. O metrô parecia que era reveillon todo dia. A alegria tomou conta dos muitos blocos que nem conseguiram dar vazão a tanta gente. Mas aí alguém botava uma caixa de som aqui e acolá, outros iam só no gogó. A Lapa era uma profusão de línguas diferentes, e me lembrou o mito da Torre de Babel, quando Deus se irritou com a prepotência das pessoas, e espalhou várias línguas distintas pelo mundo. Não vi prepotência, mas sim, potência. É o que o Rio é.

Além disso, outras línguas se falaram. Fadas e marinheiros se beijavam. Anjos e demônios se amavam, nem que fosse por um simples momento. Quando as músicas de Jorge Ben e Tim Maia ecoavam o povo pulava como nunca. Sim, muitos furtos e uma ou outra pequena confusão, mas pela quantidade imensa de pessoas e procissões de um bloco a outro, foi muito pouco. De verdade.

O carnaval de rua do Rio de Janeiro se consagra como o melhor do Brasil. A praça São Salvador, certo dia, pareceu a Bahia. “Minha pequena Eva, Evaaaa”, e todos cantavam. “Na casa do Senhor não existe Satanás, Xô, Satanás!”, veio em seguida, exorcizando fantasmas e ghostings. Foi somente na terça-feira, pela noite, que a chuva prometida para todos os dias caiu. Vento ventania rolando e a água desceu lavando a alma dos foliões que seguiram cantando na chuva, como num dos maiores clássicos do cinema.

Carnaval no Rio, a catarse

Só o Cume Interessa na Urca teve aquela galera boa, na qual me incluo, de amantes da natureza, trilheiros e montanhistas. Na Tijuca, o Marcha Nerd reuniu cosplayers e famílias, com heróis de todas as idades e tamanhos. Em Botafogo, o Bloco Barbas tinha a ajuda de um caminhão pipa que banhava os fantasiados e refrescava do calor fogoso. Arco-íris se formavam iluminando a alegria. Por outro lado, ruas foram fechadas por multidões e a locomoção era difícil. Mas, convenhamos, carnaval é uma vez por ano. Paciência e compreensão são virtudes necessárias. Afinal, é um momento único esperado por todos, seja para aqueles que viajam, vão em retiros espirituais ou viram pierrôs e colombinas. E esse foi a catarse após tantas tristezas advindas da pandemia.

O comércio, em especial gastronômico, que se manteve aberto em determinadas localidades vendeu como nunca e a depressão na quarta-feira de cinzas era visível em muitas faces. Pessoas de outros estados e países se foram já pensando em voltar, encantados com as belezas naturais cariocas, as praias e essa animação que só a gente tem.

“Carnaval de rua, perigoso e divertido, mas passei por tudo isso entre mortos e feridos” como disse Marcelo D2, muito bem, na canção “1967”. Ver o que vi, viver o que vivi, nesse carnaval carioca, renovou meu amor por essa festa, excomungada por uns, e amada por tantos. Se você ver um pirata feliz, navegando entre um mar de pessoas e distribuindo sorrisos, pode ser eu. Se fluir, vem comigo, deixa acontecer. . Velejemos por esse Rio de amor.

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