O estado do Rio de Janeiro abriga atualmente 106 lagoas de chorume, um dos líquidos mais poluentes e de maior complexidade de tratamento que existem no planeta. Juntas, essas lagoas armazenam pouco mais de 900 milhões de litros de chorume, volume equivalente a 360 piscinas olímpicas. Os dados fazem parte de um diagnóstico inédito da geração e tratamento de lixiviados dos aterros sanitários do estado, produzido por pesquisadores do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida (UVA).
“O estudo mostra que os aterros do estado não estão dando conta de tratar o chorume gerado, seja por dimensionamento incorreto da geração, seja por insuficiência técnica para tratá-lo”, diz Carlos Eduardo Canejo, professor do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da UVA e um dos idealizadores da pesquisa.
De acordo com o levantamento, dos 19 aterros sanitários licenciados e operacionais no Rio de Janeiro, 13 (Angra dos Reis, Barra Mansa, Campos dos Goytacazes, Macaé-Zadar, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Santa Maria Madalena, São Gonçalo, São Pedro da Aldeia, Seropédica, Três Rios e Vassouras) possuem algum tipo de sistema de tratamento interno de chorume, onde foram identificadas as lagoas.
Os seis restantes (Itaboraí, Macaé-Essencis, Macuco, Niterói, Sapucaia e Saquarema) enviam o resíduo para tratamento externo em estações de tratamento de esgoto (ETEs) ou de tratamento de dejetos industriais (ETDIs).
“Embora os aterros sanitários sejam uma solução que atende aos requisitos mínimos para a disposição adequada de resíduos, o volume e a pulverização dessas lagoas de chorume preocupam, já que há menor rigor tecnológico em suas construções. O cenário se agrava com a falta de acompanhamento adequado dos órgãos ambientais”, explica Canejo.
O lixiviado, ou chorume, apresenta composição bastante variável devido ao seu contato com os resíduos sólidos em decomposição, podendo conter compostos tóxicos, como amônia e metais pesados. O líquido é produzido pela decomposição de substâncias contidas nos resíduos sólidos, e tem como característica a cor escura, o mau cheiro e a elevada demanda bioquímica de oxigênio.
Segundo o pesquisador da UVA, um aterro encerrado continua gerando chorume por, no mínimo, 25 anos. “Trata-se de um problema ambiental de proporções enormes. Diferentemente do biogás, outro produto de aterros sanitários, que gera receita, o chorume representa apenas gastos, correspondendo a até 80% do custo operacional de aterros”, completa.
O caso dos seis aterros sanitários do estado que enviam o chorume gerado para ETEs ou ETDIs pode ser ainda mais grave. Proibida por normativa nacional, mas autorizada pelo órgão ambiental estadual, a prática consiste em “pingar” o líquido na vazão de esgoto que entra para tratamento, de modo a tornar sua concentração imperceptível. A alternativa ambiental correta seria o tratamento prévio do líquido antes do envio às estações, o que não é feito.
O estudo se baseou em processos públicos do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) de licenciamento ambiental das empresas públicas e privadas, concedidas ou contratadas para operar aterros sanitários no estado. Os pesquisadores cruzaram os dados com informações geográficas e de satélite do Google Earth para calcular as áreas e medir o volume das lagoas de chorume mapeadas.