Os profissionais de saúde estão entre os mais afetados pela Síndrome do Esgotamento Profissional, o Burnout. A sobrecarga da enfermagem, por exemplo, se acentuou ainda mais durante a pandemia de Covid-19. Uma pesquisa do Instituto Qualisa de Gestão (IQG) entrevistou 1.484 profissionais nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e Mato Grosso do Sul. 69,1% dos entrevistados queixaram-se da baixa realização profissional. Outros 18% estão com exaustão emocional, problema relacionado ao Burnout.
A enfermeira e empresária carioca Jaqueline Luquini conta que muitos profissionais de saúde, em especial os da enfermagem, são submetidos a uma jornada de trabalho exaustiva. Eles chegam a trabalhar de 12 a 48 horas, às vezes com poucos ou nenhum intervalo de descanso, comenta Jaqueline.
“Isso acontece porque muitos têm dois ou três empregos para poder juntar um bom salário. Por isso a aprovação do piso salarial da enfermagem é tão importante. Mas essa medida sozinha não resolve o problema de doenças relacionadas ao esgotamento físico e mental, pois perpassa a questão salarial”, disse.
“A falta de condições de trabalho e de reconhecimento profissional também ocorre, pois, a enfermagem desconhece outro caminho que não seja estudar para concurso ou distribuir currículo em hospital. Esse caminho muitas vezes é uma prisão para algumas que acabam tendo que aceitar as condições impostas pelo seu local de trabalho”, acrescentou.
Jaqueline reforça que, dentro do ambiente hospitalar, a enfermagem é preparada para saber cuidar de tudo e de todos. Mas questiona: quem cuida da enfermagem? Ela frisa que muitas funções ficam sob responsabilidade dos enfermeiros, que acabam sobrecarregados.
“A maioria abandona a profissão por desconhecer ser possível atuar na enfermagem sem patrão ou plantão. Eu desenvolvi TAG [Transtorno de Ansiedade Generalizada] quando acumulava dois empregos. Hoje, tenho centenas de alunas que simplesmente não sabiam que poderiam empreender sem precisar gastar muito e serem donas do próprio negócio, até que elas se encontraram no empreendedorismo”, contou.
Jaqueline reforça que a valorização profissional vai além do salário. A empresária cita ser necessário reconhecimento do talento de cada enfermeiro, e que é possível ocupar outros espaços. Ela afirma que a profissão existe para além dos muros do hospital.
“Ter mais enfermeiros empreendendo mostra que podemos ter não só resultados financeiros, mas sermos reconhecidos e desejados pelo nosso talento. Se todos os profissionais de saúde podem, por que a enfermagem não? Às vezes pode parecer algo muito distante para aqueles profissionais que estão dentro dos hospitais, mas, com certeza, é uma opção ainda pouco explorada pela nossa categoria”, conclui.