Márcia Silveira – Um certo nascer ali: O olhar atento para o cotidiano

A colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre "Um Nascer Ali", o livro mais recente de Moacyr Godoy Moreira

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No texto “A vida ao rés do chão”, o crítico literário Antonio Candido define a crônica como um gênero que “pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza e uma singularidade insuspeitadas”. É este olhar especial para as miudezas do cotidiano que encontramos em Um certo nascer ali – Breves retratos, livro de Moacyr Godoy Moreira, publicado em 2023 pela editora Paraquedas.

Em seus textos, Moacyr parece apontar a lente de uma câmera para as cenas do dia a dia. Atento aos detalhes, descreve gestos, falas e cenas que passariam despercebidos a um observador menos interessado. É justamente esse interesse do autor pela vida e pelas pessoas que transforma seus escritos em atraentes recortes do cotidiano. É possível observar também uma preocupação com a linguagem, em especial quando o autor traduz emoções em imagens: “(…) caminhar a seu lado é tatear, com indecisas pontas dos pés, um lago recém-enrijecido pelos primeiros sopros gelados de novembro.”

Memórias, sonhos, viagens, um diálogo no ambiente de trabalho – tudo é aproveitado como matéria-prima para os breves retratos de Moacyr, que foram escritos ao longo de mais de dez anos. Os temas vão desde a poluição do rio Tietê até a grandiosidade das obras de Rodin e dos azuis de Van Gogh.

Uma das passagens mais bonitas do livro trata da emoção do narrador ao ler ou ouvir o trecho de um poema de Adélia Prado, que o faz pensar no pai e na mãe, já falecidos. Em outro breve relato, Moacyr conta a história de um neto que descobre na biblioteca do avô, impecavelmente organizada, livros repletos de anotações caóticas que destoam do entorno – e é por meio das anotações que o narrador consegue, finalmente, sentir-se mais próximo do avô.

Os textos de Um certo nascer ali habitam um lugar entre a crônica e o conto, numa costura feita com habilidade por Moacyr, transformando os relatos em híbridos de realidade e ficção. A capa e as ilustrações presentes no livro são do artista plástico Enio Squeff, e conversam diretamente com o conteúdo trazido pelo escritor, enriquecendo a obra.

O que Moacyr nos traz são textos curtos, fotográficos, que, ainda assim, contém profundidade e provocam reflexão. Lembrando novamente Antonio Candido, os relatos de Moacyr são uma “conversa aparentemente fiada”, despretensiosa, que, no entanto, exploram a fundo o ser humano, seus sentimentos e contradições. Breves retratos de todos nós.

  • Livro: Um certo nascer ali – Breves retratos
  • Autor: Moacyr Godoy Moreira
  • Editora: Paraquedas
  • Páginas: 222

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