Imperatriz Leopoldinense, depois de 22 anos volta a ser merecidamente a grande campeã do Carnaval carioca. Uma geração inteira cresceu sem saber como a verde e branco de Ramos reinava sempre entre as melhores Escolas de Samba do Rio de Janeiro desde 1960, e alguns até esqueceram que além de Madureira, as festas populares já tiveram outros redutos na Cidade como nos bairros do subúrbio da Leopoldina. Zona da Leopoldina apesar de não ter um nome representado em nenhum mapa oficial da cidade, ganhou este nome devido a exclusividade da histórica Leopoldina Railway atravessando seus bairros, que diferente dos ramais da Central, tinha sua Estação de partida e chegada a Barão de Mauá, em São Cristóvão.
Vamos retornar a 1959, fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense (GRESIL), quando a Zona da Leopoldina através de um cidadão orgulhoso de seus bairros de moradia na cidade permitiu-se caracterizar, além de Zona Norte, Zona Sul e Zona Oeste, uma Zona só para ele. A construção no século XX desta unidade territorial não oficial da cidade do Rio de Janeiro veio através de um novo modelo de ocupação, que ainda na década de 1930 tentava aproveitar os benefícios públicos da área mais moderna e aprazível da cidade: uma das primeiras regiões a receber iluminação pública elétrica, trens de passageiros, bondes, e ter disponível praias com agradável balneabilidade; tudo era um ativo para ocupar a região não somente de Ramos, mas de bairros vizinhos, como Bonsucesso, Olaria e a já famosa devido a sua festa, Penha. Anúncios que atualmente remetem nossa mente a outros bairros do Rio de Janeiro como: “Venha morar perto da Praia com conforto e modernidade” eram veiculados nos jornais e rádios por construtoras para os recém lançados loteamentos nestes bairros da Zona Norte. A oferta de terrenos com medidas que permitiam construir grandes casas e quase mansões, longe do tumulto do Centro da cidade, projetou a estes Subúrbios uma imagem de status social em pleno Belle Époque. O reflexo destes novos moradores com maior poder aquisitivo na região se fez de imediato com a então classe média consumindo lazer através de uma enorme rede de cinemas nos centros dos bairros, onde só Ramos possuia 4 deles próximos a estação de trem, da ampliação em atividades de clubes exclusivos com os nomes de cada bairro, refletindo na elite do futebol carioca. No cenário cultural, o enorme mix das classes sócioeconomicas que a região permitia em suas ruas e praças ter, junto com a enorme história rica em Chorinho e em Samba que a Leopoldina tem criou ambiente perfeito: Grandes nomes da música vieram da festa popular da Penha, dos alegres blocos de carnaval como do Cacique de Ramos dentre outros e é claro da própria formação da Imperatriz Leopoldinense.
Coincide na década de 60 a percepção de importantes mudanças urbanas e políticas na cidade do Rio de Janeiro, que mesmo com todo amor que os Leopoldinenses tinham aos seus bairros, começaram a perceber alterações urbanas que cumulariam problemas que somente recentemente os engenheiros e urbanistas atuais identificaram a gravidade, destacando-se as perdas dos seus principais ativos: a modernidade ao longo das décadas não foram atualizadas e as praias perdidas, com aterros e com poluição. Nas décadas de 80 e 90 a Leopoldina começou a mudar de perfil não somente em sua área urbana ultrapassada e degradada, mas também em seus moradores de classe média que buscavam novas áreas da cidade, em uma nova geração nascida na Leopoldina mas respondendo mais uma vez aos anúncios de uma nova área do municÍpio também perto da praia com conforto e modernidade. Mas os elos sociais e culturais em território leopoldinense se mantinham mesmo após esta mudança geográfica, estimulando até mesmo ao poder público municipal na década de 90 a desenvolver um projeto de Metrô (depois de Bondes Elétricos, e no final em 2016 com o BRT), ligando a Barra a Penha. Quando vieram os anos 2000, os laços sócio-culturais já não eram mais tão fortes; a Praia de Ramos poluída foi substituÍda por uma Piscina de água salgada no bairro da Maré em uma tentativa de artificialização da natureza da região. A Imperatriz Leopoldinense parece entrar em um período de adaptação sem chegar ao titulo de campeã. Em 2009 a escola comemorou seu cinquentenário sem conseguir desfilar no desfile das campeãs, com seu 7° lugar. Em paralelo nos mesmos anos 2000 a Prefeitura do Rio tinha apresentado o resultado uma consultoria Catalã contratada para reproduzir o sucesso olímpico de Barcelona e seu projeto olímpico na Rio 2004: investir na Zona Norte da Cidade, no entorno da Ilha do Fundão e Zona Portuária, tendo potencial de voltar a trazer conforto e modernidade para esta região da Zona Norte na conexão entre estas duas áreas, exatamente onde fica a Zona da Leopoldina. Assim como muitos moradores da Zona da Leopoldina, o projeto Olímpico se mudou para a Barra da Tijuca e curiosamente, em uma coincidência no estilo “efeito borboleta” as obras Olímpicas começaram em 2012 e neste mesmo ano houve o pior resultado da escola de Samba em sua história.
A década de 2020 foi um período de reinvenção da Imperatriz Leopoldina, trazendo em 2023 novos nomes e novidades não somente no setor criativo como o de Leandro Vieira como Carnavalesco e a batida de ritmo nordestino de Mestre Lolo, mas como o próprio influenciador Rene Silva estando mais próximo. A bandeira da Imperatriz foi fotografada nas mãos do Presidente e da Primeira Dama do Brasil antes mesmo de se tornar campeã. Mais que uma escola de samba de Ramos, da Zona da Leopoldina, do Complexo (CPX), a GRESIL se tornou uma Escola de samba de projeção nacional, e esperamos que este destaque resgate um pouco do que a região pode ser para o Rio de Janeiro, criando novas memórias e lembrando que a Cidade Maravilhosa enquanto marca turística também passa pela antiga Leopoldina Railway.