Rogério Amorim: Navegando sem bússola

Colunista do Diário do Rio fala sobre a criação de secretarias pela Prefeitura do Rio que tem dado o que falar nos últimos dias

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Foto: Divulgação/Prefeitura do Rio

O filósofo e dramaturgo Sêneca, nascido na Espanha mas criado em Roma – então capital do Império Romano – tinha uma frase que se encaixa perfeitamente em algumas figuras da nossa política carioca-fluminense: “Não há vento favorável para quem navega sem direção”. Mesmo no mundo moderno, Sêneca continua atual. Os eleitores-contribuintes têm, com o advento das redes e mídias sociais, além dos messengers, um acesso à informação como poucas vezes teve; há, claro, a eterna caçada às fake News – caçada essa que muitas vezes se direciona àqueles que têm a coragem de falar a verdade. Mas esta é outra história.

Neste artigo para o DIÁRIO DO RIO quero lembrar Sêneca para falar do desempenho da Prefeitura. A criação desordenada de algumas secretarias e a ocupação de outras, fundamentais, por pessoas que visivelmente não são do ramo – tudo com o intuito de agradar à esquerda – fazem do prefeito mais um desses navegantes de Sêneca: falta bússola, direção (esquerda? direita?), e ventos favoráveis estão cada vez mais raros.

Agora, pasmem, foi criada a Secretaria Especial de Inclusão e Diversidade Religiosa. Já existia a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD), a Secretaria Especial de Cidadania (SECID), a Secretaria Especial de Ação Comunitária (SEAC-RIO ) e a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS). Temos também, com essas secretarias todas, a Secretaria de Ordem Pública (SEOP) com políticas sociais como ‘disque-racismo” e “denuncie assédio no ônibus” (poderia ser com a Secretaria Municipal de Promoção da Mulher? Quem sabe?).

E a cidade? Navega sem direção, pois com todas essas secretarias, as ruas estão repletas de população de rua e viciados em crack, atacando e ameaçando idosos e crianças. Há políticas para pessoas com deficiência em ação na cidade? Há rampas para cadeirantes? E qual a função de uma Secretaria de Cidadania ao lado de uma Secretaria de Ação Social?

São misteriosos os rumos que o barco da Prefeitura toma. Voltemos ao ano de 1996, quando o então prefeito era subprefeito da Barra da Tijuca, prestes a se lançar na política. Era um fiel seguidor do então prefeito Cesar Maia, que na época tentava ocupar o espaço político da direita – para se alinhar ao chefe, o hoje prefeito criticou publicamente Herbert de Souza, o Betinho, irmão de Henfil. “Ele deveria se submeter ao crivo dos votos”. Naquele cenário, o hoje prefeito era direitista. Dez anos depois, manteve a pegada, a ponto de merecer artigo na revista Veja do jornalista Augusto Nunes (“A história do homem que vendeu a alma para virar prefeito do Rio de Janeiro”). Augusto, hoje na revista direitista Oeste, descrevia as frases do então deputado em relação ao Mensalão:

“Entre julho de 2006 e agosto de 2006, o deputado federal Eduardo Paes, do PSDB fluminense, um dos mais veementes representantes do partido na CPI que apurou o escândalo do mensalão, fez as seguintes declarações:

  • “É preciso investigar o inexplicável crescimento do patrimônio dos filhos do presidente
  • “Lula sabe de tudo. A sede da quadrilha do mensalão é o Palácio do Planalto”
  • “O conjunto de escândalos que envolvem o governo é tanto, e a desfaçatez dos principais atores envolvidos neles tão grande que às vezes parece que a CPI não conseguiu ainda provar muita coisa”
  • “Comprovamos o mensalão com cópia de recibo e tudo. Como é que o Lula ainda tem coragem de negar?’”
  • Pulem mais dez anos, e veremos a gravação do diálogo, publicada pelo então juiz Sérgio Moro, em que o prefeito ataca a cidade de Maricá e se declara “soldado” de Lula. Não parece, nem de longe, o autor das frases relatadas por Augusto Nunes!
  • Pulemos mais sete anos, em seu terceiro mandato de prefeito, e teremos o município pedindo dinheiro emprestado para um BRT que bate recordes de acidentes. Enquanto isso, o organograma da Prefeitura é todo feito de lacração, se tornando, nas palavras do colunista Quintino Gomes Freire, um “balaio de gatos para as eleições”. E se pularmos mais cinco anos? Como estará o prefeito. E, mais importante: como estará o Rio? Terá navegado para a direita, com ordenamento urbano, meritocracia, bons negócios e empregos? Ou terá navegado para a esquerda, com tolerância mil à desordem, esvaziamento econômico, fuga de investidores e um eterno ciclo de desemprego e violência?
  • Os eleitores precisam entender que não se trata de romper o diálogo entre direita e esquerda. O diálogo e o conflito servem à democracia. Keynes x Hayek brigarão eternamente, e o campo de batalha é o cérebro dos governantes (sim, estou parafraseando Dostoiévksi, que dizia que “Deus e o Diabo brigam eternamente e o campo de batalha é o coração dos homens”.
    Mas para se governar, é preciso fazer escolhas. Uma rua desordenada, uma cidade em caos, não é problema para ser resolvido com políticas demagógicas e um município paquidérmico, repleto de secretarias para agradar o PT e outros aliados.
  • É preciso escolher uma direção e deixar que o vento o ajude a navegar, prefeito.

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