Dois anos após o momento em que deveria ter sido feito, o censo finalmente foi finalizado e seus surpreendentes resultados começam a ser liberados. A população brasileira cresceu menos do que se esperava, a população do Estado do Rio de Janeiro quase não cresceu (0,03%), e a cidade do Rio de Janeiro perdeu 109 mil moradores (-1,7%), figurando entre as nove capitais que também encolheram. Se, entre os dois censos anteriores, o crescimento populacional da cidade foi de apenas 0,079, agora houve redução.
O Rio não esteve sozinho. São Gonçalo perdeu 103 mil moradores, o que representou uma redução de 10,3% de sua população. Nilópolis vem em seguida, com uma redução de 6,8%. Petrópolis perdeu 5,8%, Duque de Caxias perdeu 5,5% e São João de Meriti perdeu 3,9%. Todos esses municípios estão na Região Metropolitana e a eles se juntam Niterói e Mesquita, também com perdas populacionais. Entre as diversas consequências das notícias trazidas pelo censo, está a redução do valor a ser repassado pelo Fundo de Participação dos Municípios, já que a população total de cada um deles interfere no valor a ser recebido. No caso das capitais, 10% desse fundo é destinado às mesmas, variando também em função da população.
Fora da Região Metropolitana, houve perdas significativas em Paracambi, Barra do Piraí, Valença e Barra Mansa. Em sentido inverso, ocorreram crescimentos significativos nas populações de Maricá (+54,8%) e Rio das Ostras (+48,1%). Cresceram todas as cidades da Região dos Lagos e, entre outras, Nova Friburgo, Macaé, Carapebus, Seropédica, Resende, Porto Real e Parati.
Muito ainda terá que ser estudado para uma melhor compreensão dos movimentos populacionais que estão ocorrendo. Mas, alguns fatores parecem estar presentes, como a busca por locais com melhor qualidade de vida, maior empregabilidade e menos violência, tudo isso acelerado pelas possibilidades do trabalho remoto.
Há muito se discute o fenômeno do encolhimento das cidades, ou shrinking cities. Essa seria a tendência de perda de população de certas cidades, especialmente aquelas onde ocorreram processos de desindustrialização, ou choques trazidos por mudanças bruscas, como ocorrido no Leste europeu após o fim dos regimes ditos socialistas. Regiões com baixas taxas de natalidade e pouca capacidade de geração de empregos também têm visto esse encolhimento. Mas, o censo nos informa que ocorreram processos em sentidos inversos no Brasil, tendo havido crescimento de cidades do Centro-Oeste. Isto indica a força da atratividade daquela região, inaugurada com a mudança da capital. Brasília teve um crescimento de 9,6%, Goiânia cresceu 10,4%, e Campo Grande 14,1%. São variações importantes entre os municípios mais populosos do país, somente ultrapassados pelos 15,3% de João Pessoa,
Já a cidade de São Paulo não teve redução populacional. Ao contrário, cresceu 1,8%. No entorno de São Paulo, também cresceram Campinas e Guarulhos, por exemplo. Muitíssimos cariocas conhecem alguém que tenha se mudado para São Paulo, especialmente se for da área financeira ou da economia criativa. Esse é um problema real. Se a cidade perde atratividade, pode estar formando mão de obra especializada que irá trabalhar em outros lugares, sem ganhar o correspondente em novos moradores.
O ritmo do crescimento populacional brasileiro vem se reduzindo, tendo sido de 6,5% nos últimos 12 anos. É uma tendência, e vem ocorrendo de forma relativamente suave. Mas uma perda, como a ocorrida na cidade do Rio de Janeiro e em cidades vizinhas é um sobressalto, cujas causas e efeitos precisam ser cuidadosamente analisados. Que setores da população saíram das cidades? São pessoas em idade produtiva? Qual o seu nível de escolaridade e de renda? O impacto desse acontecimento no desenvolvimento futuro do Rio depende das respostas a essas e outras questões. Há que se adaptar também o planejamento da cidade, e da metrópole, a essa nova realidade, que pode ser permanente. Será preciso abandonar uma ótica voltada para a expansão, por outra mais preocupada com a contenção e a qualidade.
As gestões do Estado do Rio de Janeiro têm sido desastrosas e as gestões municipais, em geral, não têm sido melhores. Houve desindustrialização, perda de instituições financeiras, perda de empresas e empregos, aumento assustador da violência, e a consequente perda de poder político em Brasília. Um círculo vicioso parece ter se instalado, com a eleição de representantes políticos cada vez piores. É preciso encontrar um caminho para fora da espiral de decadência.
Esse censo está muito estranho, ou os anteriores foram muito errados!
A interiorização do país é bem vinda, pois várias capitais e regiões metropolitanas estão entupidas de gente. Obviamente, esta mudança deve ser com qualidade, de modo que as pessoas tenham estímulos para sair dos grandes centros. Que seja uma opção, e não uma imposição.
É um absurdo que municípios dependam de repasse de verba de entes superiores (governos estaduais ou federal) para ‘fechar as contas’; toda cidade deveria ser capaz de gerar sua própria receita através de impostos. Entretanto, historicamente, a grande maioria dos municípios arrecada pouco (são poucos e baixos os impostos municipais), cabendo à União a maior fatia do bolo. Esse mecanismo cria o perverso joguete político do “ou me apoia ou não tem repasse”, alimentando essa doença da política do país chamada “base aliada” e a constante peregrinação de prefeitos e secretários à Brasília para “beijar a mão” do presidente. Quem faz oposição frontal ao governo federal (ou estadual) corre o risco de ter suas finanças estranguladas, inviabilizando uma administração verdadeiramente voltada para a cidade. A atual proposta de reforma fiscal trata um pouco desse mal, mas ainda acho uma iniciativa tímida. É necessária uma real municipalização da administração pública, com maior responsabilidade e autonomia dos municípios, acompanhada de um aumento de sua arrecadação. Mais cidades e menos Brasília!
Tendo o Rio pouco mais de 6 milhões de habitantes, uma redução de menos de 2% não me parece alarmante. Em Estatística, dizem que 2% é margem de erro. O importante é como está a qualidade de vida da cidade e das outras no entorno. Isso sim é alarmante, e há décadas.