Rogério Amorim: Homer Simpson e a educação do Rio de Janeiro

Vereador Rogério Amorim critica o secretário por culpar a Polícia Militar do Rio de Janeiro pelos problemas educacionais

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Imagem apenas ilustrativa de sala de aula da rede municipal - Divulgação / Prefeitura do Rio

Em 2005, o jornalista William Bonner, editor do Jornal Nacional, da TV Globo, disse que ao fazer a pauta de cada edição, pensava se “Homer Simpson” iria entender. Quem acompanha a série de desenhos animados da Fox que há quase trinta temporadas diverte milhões de fãs mundo afora entendeu na hora a expressão do âncora: Homer é descrito como um americano médio, pouco interessado em estudar ou aprender, e que gosta mesmo é de ficar no sofá comendo rosquinhas e bebendo cerveja. Quando comete erros sua dificuldade argumentativa o leva a dizer a frase “A culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser”. O problema é que em Os Simpsons, o pai de família Homer não é responsável por mais que três crianças – Lisa, Bart e Maggie (que é eternamente um bebê na série). Já no Rio de Janeiro, Homer Simpson cuida de quase 700 mil crianças nas mais de 1.500 unidades escolares. E, ao que parece, também está no sofá comendo donuts.

Enquanto isso, o secretário Homer Simpson decidiu colocar a culpa em quem ele quiser. No caso, a Polícia Militar do Rio de Janeiro. Argumenta o secretário de Educação que o problema todo é da “política de Segurança Pública” e que “operações precisam ser feitas com inteligência”. Faço aqui uma ressalva importante: o fato de uma operação ter resultado em ferimentos a bala (tanto de policiais quanto de bandidos) não significa de forma alguma que ela foi feita “sem inteligência”. Inteligência é usada para mapeamento do terreno, localização de alvos, avaliação das ações, do esforço, custo-benefício. Não é uma operação mágica em que policiais entram desarmados e persuadem os bandidos com armas de guerra a se renderem. Feita a ressalva, lembremos ao secretário que outro dia mesmo a Globo mostrou uma escola na Taquara, em Jacarepaguá, sofrendo com a falta de professores. Houve operação naquele dia? Os professores estão faltando voluntariamente? O que aconteceu? A PM está impedindo os professores de entrar na escola?

O nosso secretário Homer talvez não esteja com tempo – sua rotina de donuts e programas de auditório é pesada – para ir pessoalmente às escolas e verificar a falta que fazem os Mediadores, profissionais da maior importância, que conseguem apoiar alunos e professores ao mesmo tempo. Hoje a rede tem menos de mil mediadores – e que fazem falta principalmente às mais de 20 mil crianças especiais matriculadas nas escolas. Recebi outro dia no meu gabinete uma história alarmante, de uma criança com autismo saindo do prédio de uma escola na Cidade de Deus e ficando horas exposta ao perigo na rua. Por sorte, foi localizada e tudo ficou bem.

Teria sido culpa da PM? Não parece.

A PM tem “culpa” de tentar evitar que crianças sejam cooptadas por traficantes armados que, por sua vez, querem tirá-las das escolas para aumentar seu exército. A PM, por outro lado, tem “culpa” de, só no Rio de Janeiro, já ter atendido, por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), mais de dez milhões de crianças – que receberam toda a orientação de como e por que evitar este flagelo que são as drogas. A PM tem “culpa” de oferecer gratuitamente, em algumas unidades, o tratamento de equoterapia, excelente para crianças com diversos tipos de condições como autismo e síndrome de down. A PM tem “culpa” de ser exemplo de dedicação para as crianças, de ser referência no apreço pela ordem e pela lei.

Mas essas “culpas” foi a própria PM que colocou nela própria. Já a culpa da falência educacional, esta, pelo bom senso, deveria ser do secretário Homer – mas como é dele, ele coloca em quem quiser, ou seja, na PM.

Haja rosquinhas.

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1 COMENTÁRIO

  1. Será que grupos organizações criminosas que atuam no tráfico de drogas só existem no Brasil???

    Por que outros países que também enfrentam problemas com suas organizações criminosas não passam por tal problema de pessoas que nada tem a ver vítimas de conflito polícia x criminosos, não tem notícias de tiroteio com bala perdida???

    Se possuir arma ilegal e cometer crimes com armas, legalizada ou não, tem como consequência penas leves então continuam as organizações criminosas e pessoas armadas, seja em que circunstância haverá maior potencial de vítimas …

    (em muitos países um crime envolvendo uso de arma de fogo é gravíssima com penalidade para mais de década até pena perpétua automática no caso de homicídio múltiplo e o porte ilegal sujeita a penas também rigorosas… com isso, quem vai andar armado? Consequência: até as organizações criminosas usam armas leves)

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