William Siri – O perigo no ar: quando respirar adoece

Programa de monitoramento carioca evidencia desigualdade até no combate da poluição

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Rio de Janeiro (Apu Gomes/Folhapress/VEJA

É muito provável que a maior parte do público nunca tenha ouvido falar em Dióxido de Enxofre (SO2), figurando como exceção aqueles que estudam para o ENEM, trabalhem na indústria ou tenham formação em química. Chuva ácida, no entanto, é conhecidamente um conceito muito mais “pop”, algo interessante de observar visto que um está diretamente ligado ao outro. Para quem não sabe, o Dióxido de Enxofre é um dos principais causadores da chuva ácida, sendo produzido pela queima dos combustíveis fósseis. O SO2 eleva (e muito) os índices de poluição atmosférica nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro com seus muitos carros e congestionamentos já sabe. Por isso, existe por aqui um programa municipal para o acompanhamento da qualidade do ar em diferentes pontos da cidade.

Trata-se do MonitorAR Rio, responsável por medir os índices de poluição e colocar tais dados à disposição da população. Ele é fundamental na elaboração de políticas públicas, uma vez que a qualidade do ar que respiramos é um dos principais garantidores de qualidade de vida e de saúde do povo. Do contrário, há o aumento do número de pessoas com doenças respiratórias, entre outros problemas, o que pode ser considerado fruto de um modelo econômico que ainda ignora a preservação ambiental para o desenvolvimento das sociedades.

Ao olharmos para o programa, verificamos que, ao todo, existem 8 estações localizadas no Centro, em Copacabana, em São Cristóvão, na Tijuca, no Irajá, em Bangu, em Campo Grande e na Pedra de Guaratiba. Assim, numa rápida análise territorial, é possível perceber que a Área de Planejamento 4 do Rio de Janeiro (que reúne os bairros da Barra, Jacarepaguá e adjacências) não possui nenhuma para o monitoramento.

Essa falha já foi apontada pelo nosso mandato à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima por meio de ofício, buscando providências para que o monitoramento atenda a todas as regiões do Rio. Da mesma forma, é notória a falta de medição nas áreas imediatas aos Distritos Industriais, algo que precisa ser corrigido para que se verifique se a nossa atual produção industrial está em conformidade com o necessário para um desenvolvimento sustentável. A cidade de Volta Redonda, por exemplo, conhece bem o custo disso: a grande poluição do ar gerada pela Companhia Siderúrgica Nacional adoece e mata a população, como vem sendo noticiado pela imprensa.

O trabalho realizado pelo MonitorAR se mostra ainda mais necessário quando afere um patamar abaixo do minimamente aceitável. Isto aconteceu em 25 de junho de 2023, dia que marcou o primeiro domingo do inverno. Na data, verificou-se que a qualidade do ar em três estações (Campo Grande, Irajá e São Cristóvão) foi classificada como ruim, enquanto que nas outras cinco, a classificação ficou em “moderada”. Ou seja: percebeu-se que o nível de poeira e fumaça estava fora do recomendável nessas três localidades. Quem sofre mais com isso são os grupos sensíveis como as crianças, os idosos e as pessoas com doenças respiratórias e/ou cardíacas.

Os incêndios florestais, por sua vez, pioram o cenário. Por isso, faz tempo que nosso mandato denuncia focos de incêndios florestais pela cidade. Foi assim na Serra da Posse, no Parque Estadual da Pedra Branca, no Morro do Juramento, no Morro da Coroa e, mais recentemente, em 25 de julho, na Floresta da Tijuca. O momento é de redobrar a cobrança já que o bem-estar da cidade depende da existência e efetividade das medidas de prevenção. Para tal, é necessário uma ampla gama de ações, começando pela educação ambiental e pela articulação do Poder Público com os coletivos dedicados à temática. Alto investimento dos entes federativos no reflorestamento e plano de resposta imediato aos focos de incêndio, logicamente, faz parte do caminho a ser trilhado.

Precisamos ser ágeis: a falta de chuva característica do inverno, somada ao fenômeno climático El Niño (que influencia no aquecimento das águas do Oceano Pacífico) pode levar a fenômenos extremos em todo o mundo, inclusive o Brasil. Há previsão de estiagem além do comum, o que faz com que as partículas prejudiciais fiquem suspensas no ar por mais tempo. Resultado: dificuldade de respiração e aspecto de névoa na paisagem que nada mais é do que pura poluição.

Precisamos reconhecer o mérito do programa MonitorAR Rio através do aumento significativo dos investimentos, cujas estações devem adotar os mesmos parâmetros na identificação de substâncias prejudiciais à saúde humana e de toda a biodiversidade como o Monóxido de Carbono (CO), obtido principalmente a partir da queima incompleta de combustíveis fósseis.

É nosso compromisso inegociável a luta pelo Meio Ambiente, que vai além das cadeiras de vice-presidência da Comissão de Meio Ambiente e da presidência da Comissão Especial de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental da Câmara Municipal. A luta é anterior, construída e amplificada ao lado dos movimentos sociais e especialistas. Cabe a nós ser a ponte do diálogo entre as partes, fiscalizando, propondo e agilizando com os órgãos do Poder Executivo medidas concretas. Uma cidade mais justa e saudável começa na missão de respirar melhor.

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