O programa Consultório na Rua, uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, conta 13 equipes que atuam em todas as áreas da cidade para garantir serviços de saúde à população de rua. No primeiro semestre deste ano, os profissionais do programa fizeram mais de 20 mil atendimentos e 36 mil procedimentos. Também foram feitos mais de 1,3 mil de testes rápidos de gravidez e identificação de infecções sexualmente transmissíveis (IST), como HIV, hepatite C e sífilis, além de outras doenças.
Criando em 2011, o Consultório na Rua registou um forte crescimento nos últimos dois anos, quando o número de equipes passou de sete para 13, promovendo um aumento do número de pessoas e lugares atendidos, como as zonas Sul e Oeste da capital fluminense. Hoje, o programa está presente em 118 bairros, 40 a mais do que em 2011.
“O Consultório na Rua é uma extensão do trabalho realizado dentro das unidades básicas de saúde. O programa foi pensado para garantir o acesso e o direito das pessoas em situação de vulnerabilidade à saúde pública. A importância das equipes é justamente ajudar e facilitar o acesso dessas pessoas que, historicamente, têm muita dificuldade de acesso às políticas públicas. O principal objetivo das equipes, além do atendimento integral em saúde, é garantir que essas pessoas acessem o SUS”, explicou Fabiana Baraldo, gerente da área técnica de Consultório na Rua.
Atuando no Consultório na Rua da Clínica da Família Anthídio Dias, no Jacarezinho, Zona Norte da cidade, o médico de família Laio Victor destaca que ser proativo ajuda no atendimento da população de rua, que enfrenta problemas recorrentes, como ferimentos, dores, tosse e sintomas de abstinência de drogas, além de sofrimento mental. Laio disse ainda que informar as pessoas sobre os serviços de acesso à saúde também é de grande importância, pois muitas delas acham desprovidas de direitos sociais.
“O maior desafio é lidar com o que temos. Na rua não temos macas, cadeiras, computador para registrar em prontuário eletrônico, e nem a privacidade de um consultório fixo para algumas situações. Eu já precisei examinar uma paciente deitada sobre uma placa de concreto, debaixo de um viaduto, auscultar o coração e examinar o abdome para começar a investigar o que viria a ser uma insuficiência cardíaca grave. Conseguimos encaminhá-la para um hospital para estabilizar o quadro e realizar exames. Agora eu sigo tratando dessa paciente no consultório e com visitas ao lugar em que ela costuma dormir para entregar as medicações e examiná-la. Algumas pessoas não estão em condições ou não desejam ser transportadas, mas fazemos o melhor que conseguimos dentro das limitações do contexto, sempre com muito diálogo e compreensão”, disse o médico do Consultório na Rua cujas equipes são compostas por enfermeiro, técnico de enfermagem, agente social, psicólogo, médico e assistente social. Algumas delas também contam com terapeuta ocupacional.
Há há dois anos na equipe de Consultório na Rua da Clínica da Família Marcos Valadão, em Acari, na Zona Norte da cidade, a enfermeira Danielle Nogueira relata que, apesar de a região ser de risco, a equipe consegue realizar bons trabalhos, como a cura da tuberculose ou direcionamento do paciente a uma clínica da família de referência.
“A gente busca trazer visibilidade para esse público que só é visível quando incomoda. São pessoas muito presentes no território e muito pouco notadas pela sociedade civil. A gente trabalha levando acesso para elas, levando dignidade para que tenham direitos como cidadãos que são, e para que possam exercer a sua cidadania e ter direito ao SUS. Para mim, é gratificante ver a importância da vida, de cada ser humano e de como somos a única referência de cuidado para essas pessoas”, comentou Danielle.