O ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, vem sofrendo nos últimos anos, contínuas e rápidas alterações, algumas duvidosas, sob influência de fatores de ordem política, tecnológica, socioeconômica, quer seja pelo próprio MEC, pelas Instituições de Ensino Superior e outros atores, que, por sua vez, sofrem a influência do cada vez mais exigente, mais globalizado e mais competitivo, “mercado de trabalho”.
Esses fatores, que influenciam e direcionam a reorganização do ensino no país, vão se refletir diretamente nas cidades em que vivemos pois, é função dos arquitetos e urbanistas a formação de todos os espaços nela construídos, abertos ou fechados, públicos ou privados e todas as relações entre eles.
Assim, se estamos construindo uma geração de arquitetos mais reflexivos, criativos e colaborativos e que tenham compromissos com desenvolvimento social e ético no Brasil, isso vai contribuir positivamente na qualidade das cidades em que hoje vivemos.
Nesse mesmo período, uma enxurrada de softwares e outros dispositivos tecnológicos penetraram na cadeia produtiva da Indústria da Construção Civil, que, certamente, foi uma das mais beneficiadas pelo movimento da “Indústria 4.0” que o mundo viu (está vendo ainda) acontecer.
Por outro lado, em função do advento da pandemia da COVID-19, o comércio, o consumo e a mercadoria aceleraram a mudança de base e de conceito, e, com isso, a própria relação entre pessoas se transformaram significativamente. Nas cidades, câmeras de segurança se multiplicaram por todos os lados, acompanhando as pessoas em tempo real, em seus smartphones, que estão desempenhando um papel de parte do corpo das pessoas, incluindo dentro de salas de aula. Quando a sala de aula não é o próprio celular.
Todas essas transformações e tecnologias, entretanto, não têm sido capazes de conter desigualdades sociais, insegurança alimentar, discriminações de gênero, raça, religião e outras doenças sociais das grandes metrópoles. Esse fenômeno de tecnologia de ponta de um lado, e problemas sociais basilares do outro, foi percebido tanto em cidades de países em desenvolvimento, quanto em Tóquio, no Japão, onde surge o novo conceito, Sociedade 5.0, mais avançado que seu antecessor.
Essa expressão, sociedade 5.0, provém de uma série histórica cronológica, denominada por cientistas, quando querem se dirigir a períodos distintos da história da civilização humana, que começa com a época da vida à base de caça (sociedade 1.0), e segue para sociedade agrícola (sociedade 2.0), sociedade industrial (sociedade 3.0) e sociedade da informação (sociedade 4.0).
Sociedade 5.0 é um conceito que vem ganhando força em todo o mundo, perpassando transversalmente em todas as atividades humanas, com o objetivo de usar todas essas tecnologias digitais para promover inclusão, sustentabilidade e equidade, ou seja, bem-estar coletivo. Em outras definições ligadas às Ciências Sociais, e o Urbanismo é uma delas, diz-se que este conceito evoca toda as transformações tecnológicas com centralidade no SER HUMANO, portanto, sua aplicação vem trazendo resultados que mostram que a sociedade evolui, quando cidadãos, organizações e governo, e, com intermédio da tecnologia, desenvolvem um ECOSSISTEMA SOCIAL SUSTENTÁVEL.
O passo adiante da Sociedade 5.0 (com estudos ainda iniciais), terá a numeração cronológica de 6.0, que deverá acrescentar a IA (inteligência artificial) para proteção de dados pessoais dos cidadãos e redirecionamento de assuntos de seus interesses, já que uma parcela gigantesca de contratos com dados pessoais migrou para plataformas digitais, e o “aceite” está à curta distância de um simples clique na tela. Esperemos que mais valores sejam incorporados a esses novos estudos, que são muito dinâmicos.
Por ora, Sociedade 5.0 é o conceito que precisa nortear todos os debates curriculares e todos os colegiados da Arquitetura e Urbanismo do país, para que futuros atores e gestores de nossas cidades sejam melhor capacitados. Nenhuma indústria, academia, prestação de serviço, autarquia, entidade pública ou privada sobreviverá, ou melhor, terá sustentabilidade, se não absorverem e colocarem em prática este conceito que prima por valores vitais, cujo objetivo final é a QUALIDADE DE VIDA HUMANA.
Prof. Cristina Reis
Arquiteta e Urbanista