Barra e Recreio são bairros bem jovens e de população, na sua maioria, formada por classe média alta. Na maioria das vezes, condensada em grandes condomínios com infraestrutura completa, o que lhes permite passar boa parte do tempo em um mundo quase particular. Talvez por isso, às vezes, assuntos que não dizem respeito aos bairros não são alvo de maiores discussões. Em compensação, quando o tema é local, esses bairros têm protagonizado uma série bastante interessante de manifestações de ruas. É sobre elas que falaremos a seguir.
Considerando o ano de 2012 para cá, a primeira manifestação aconteceu na Av. das Américas, organizada por alunos e professores da Colégio Estadual Vicente Jannuzzi; eles fecharam a avenida e interditaram o trânsito dos BRTs, reivindicando a implantação de um sinal para travessia de pedestres, após um acidente em que o BRT vitimou um aluno. O segundo tema que gerou polêmica foi a construção de um hotel em um terreno na Reserva de Marapendi, na orla da Barra da Tijuca. Ativistas e moradores fizeram duas manifestações no local e conseguiram grande repercussão.
Em 2013, o ano em que o “gigante acordou” e espalhou manifestações por todo o país, a Barra da Tijuca também teve uma para chamar de sua, quando manifestantes interditaram a Av. Ayrton Senna e o Terminal Alvorada em uma grande manifestação que parou toda a região. Entretanto, como não se trata de um tema local, essa manifestação não será alvo de nossa análise.
Impulsionadas pelas grandes manifestações, outras três relacionadas a temas locais aconteceram no segundo semestre de 2013. A primeira contou com grande mobilização das Associações de Moradores que reivindicavam a expansão do Metrô até o Terminal Alvorada e fizeram um ato na Av. das Américas, além de espalharem centenas de faixas ao longo da via. A seguinte, sem o apoio de associações, reivindicou mais segurança para o Recreio e promoveu um abaixo assinado na orla do bairro, que foi enviado para o Secretário de Segurança. A terceira manifestação de 2013 aconteceu quando foram iniciadas as obras do campo de Golfe para as Olimpíadas, escolhido para ser construído em uma área degradada, porém de proteção ambiental. O inicio das obras levou moradores e ativistas para as ruas.
Já em abril de 2014, o protesto foi a favor do poluído Canal das Taxas – um pequeno rio que liga a Lagoinha das Taxas à lagoa de Marapendi – no Recreio dos Bandeirantes. Moradores e comerciantes organizaram um belo ato cívico, chamado de “Abraço ao Canal das Taxas”. O ato simbólico contou com mais de 1000 participantes, entre elas, muitas crianças acompanhadas pelos pais, que rodearam o canal e fizerem um “abraço” reivindicando a despoluição e inclusão do canal nas obras de dragagem das Lagoas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
Ainda em 2014 as Associações de Moradores da Barra da Tijuca uniram forças mais uma vez e organizaram um ato contra a falta de segurança no bairro e o excesso de crimes que estavam acontecendo naquele momento.
O ano de 2015 começou agitado: já no primeiro mês, moradores do Recreio se uniram e fizeram uma manifestação, que parou a orla do bairro, contra a crônica falta d´água. Essa manifestação contou também com a participação de manifestantes contrários às obras do campo de golfe, repetindo protestos anteriores.
Em março de 2015, uma manifestação diferente, mas muito interessante, chamou atenção de toda a região: foi o “Bicicletaço” que aconteceu na Estrada Vereador Alceu de Carvalho, também conhecida como Estrada do “Rio Morto”, entre Vargem Grande e o Recreio dos Bandeirantes. Organizado pelo grupo “Quero ir de Bike das Vargens à praia sem ser atropelado”, o evento contou com mais de 400 moradores, que percorreram todo o trecho de bicicleta reivindicando a construção de uma ciclovia no local.
Ao que tudo indica, abril de 2015 será o mês com maior número de manifestações dos últimos anos. Duas já ocorreram nos primeiros dias do mês e uma terceira já está marcada. As primeiras foram de moradores da Vila do Pan que, cansados de esperar as obras de recuperação das vias internas do condomínio, fecharam a Avenida Ayrton Senna em protesto à não liberação das verbas necessárias ao início das obras. Outra manifestação pouco comum aconteceu no início de abril, quando moradores da Rua Silvio Pozzano fecharam a via, no Recreio dos Bandeirantes, protestando contra os transtornos gerados pela obra de construção de um condomínio de prédios e o constante tráfego de caminhões.
Até aqui, onze temas diferentes tiraram os moradores da Barra e do Recreio de suas casas e os levaram às ruas. O pleno exercício de cidadania demonstrado coloca os dois bairros no topo da lista com maior número de manifestações em nossa cidade. E eles estão longe de parar por aqui! Conforme já mencionado, a terceira manifestação de abril já está marcada para o próximo Domingo às 10:00: será o 2º Abraço ao Canal das Taxas e vem tendo grande divulgação.
O Canal das Taxas
A poluição do Canal das Taxas é um problema com que os moradores do Recreio não suportam mais conviver. Praticamente transformado em um valão devido ao lançamento diário de esgoto, o Rio das Taxas, como era conhecido em épocas passadas, corta todo o bairro do Recreio dos Bandeirantes e faz a ligação entre o Parque Natural Municipal Chico Mendes e o Parque Natural Municipal de Marapendi.
Com grande potencial turístico, o Canal das Taxas deveria ser mais uma das belezas naturais do bairro; e é isso que centenas de moradores e comerciantes desejam. Eles se uniram para produzir mais de 50 mil panfletos, que foram distribuídos em todas as ruas do bairro e também entregues aos colégios, convidando professores, pais e alunos a participar do abraço ao canal. Além disso, dezenas de faixas foram espalhadas pelo bairro e a mídia local também está divulgando.
O Canal das Taxas recebe esgoto formal e informal. Significa dizer que ligações clandestinas poluem o canal, mas que também o esgoto “formal” da CEDAE é despejado nele. Todo o sistema da CEDAE, seja dos troncos coletores ou das estações elevatórias, têm falhas e constantemente despeja esgoto in natura no Canal. Essa absurda situação não é nova e existe um inquérito civil no Ministério Público desde 2010. O Canal das Taxas também precisa ser dragado, mas não está incluído nas obras de dragagem das Lagoas da Barra e Jacarepaguá.
O fim do lançamento de esgoto e a necessidade de dragagem do Canal são os dois objetivos do Movimento de Despoluição do Canal das Taxas, que organizou, juntamente com o Grupo Recreio – Facebook, o 2º Abraço ao Canal das Taxas para o próximo domingo, dia 12/04, às 10:00 horas.
Queremos a despoluição do Canal das Taxas!