No ano de 2021, uma quantidade impressionante de mais de 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos pós-consumo, passíveis de reciclagem, foram aterradas no Estado do Rio de Janeiro. Essa estatística alarmante representa um desperdício de recursos que ultrapassa a marca de R$ 2 bilhões, uma vez que esses materiais valiosos foram, literalmente, enterrados. Essa estimativa é resultado do “Mapeamento de Recicláveis Pós-Consumo no Estado do Rio de Janeiro 2023” elaborado pela Firjan, que está agora em sua segunda edição com foco no contexto estadual.
O Presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Firjan, Isaac Plachta, destaca a importância desse mapeamento: “A geração total de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no Estado do Rio é de aproximadamente 7,5 milhões de toneladas anuais. O mapeamento identifica os pontos de geração e destinação desses resíduos e indica oportunidades de fortalecimento de toda a cadeia da indústria da reciclagem no Estado.”
O estudo revela que a separação dos resíduos no momento de sua geração é fundamental para o processo de valorização dos materiais por meio da reciclagem. Uma descoberta notável é o avanço na separação de resíduos pós-consumo gerados por empresas, que aumentou para 35,8% do fluxo total, um significativo aumento em relação aos 20,9% registrados em 2019. Isso aponta para um progresso na recuperação de resíduos pós-consumo no Estado. Já a separação de resíduos sólidos urbanos, representada pelo percentual de coleta seletiva, permanece em níveis modestos, correspondendo a apenas 1,3% do total.
Jorge Peron Mendes, o Gerente de Sustentabilidade da Firjan, observa que as mudanças significativas no gerenciamento de resíduos não foram impulsionadas por alterações regulatórias desde 2019, sugerindo que o avanço observado está mais ligado ao mercado e às práticas ambientais, sociais e de governança. “A gestão de resíduos é o critério ambiental de ESG mais aplicado pelas empresas em suas operações.” destacou.
Políticas Públicas
O mapeamento também fornece informações sobre as regiões do Estado que absorvem os recicláveis e identifica que a capital, o Rio de Janeiro, continua sendo a área mais representativa, concentrando 50,3% dos recicláveis recebidos. O plástico continua sendo o tipo de resíduo com a maior presença na reciclagem, sendo processado em diversas regiões.
O estudo identificou 266 empresas envolvidas na cadeia produtiva da reciclagem, sendo que 22,2% delas não estavam listadas na edição anterior do estudo. Esse dinamismo do mercado de reciclagem no Estado do Rio de Janeiro destaca a necessidade de políticas públicas para manter a estabilidade, a formalização e a competitividade desse setor.
Carolina Zoccoli, a Especialista em Sustentabilidade da Firjan, destaca a importância de fortalecer o Rio de Janeiro como um polo de reciclagem e ressalta que isso requer políticas públicas que abracem a redefinição dos resíduos. Ela destaca que a gestão de resíduos é uma estratégia incorporada em conceitos como economia circular e que isso pode contribuir significativamente para a economia local.
Desde a triagem até a sua efetiva incorporação em novos produtos acabados, os resíduos têm potencial de gerar emprego, renda e arrecadação de impostos. A recuperação de mais de 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos não aproveitados seria capaz de encadear nas indústrias de fabricação de papel e papelão, de plástico e na metalurgia um investimento produtivo adicional na economia do país em torno de R$ 4,74 bilhões, além do investimento inicial de R$ 2 bilhões. E além disso, outro impacto estimado é a geração de R$ 9,17 bilhões em renda e 31,9 mil novos empregos, sendo 13,8 mil diretos e 18,1 mil indiretos.
Impacto no Clima
As estratégias de circularidade que reduzem a demanda por matérias-primas e produtos virgens reduzem as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes da produção. E além de ser relevante para a economia e o desenvolvimento local, a reciclagem pode ser, portanto, uma importante ação de mitigação das mudanças globais do clima.
Se os mais de 2 milhões de toneladas de resíduos recicláveis aterrados em 2021 tivessem sido efetivamente reciclados, teriam sido evitadas emissões equivalentes a 5,3 milhões de toneladas de carbono. Essa quantidade de carbono evitado é comparável à capacidade de mais de 37 milhões de árvores ou a uma floresta 5,6 vezes maior que o Parque Nacional da Floresta da Tijuca.
A reciclagem também poderia gerar aproximadamente R$ 261 milhões em créditos de carbono, ao mesmo tempo em que impulsionaria a economia com um investimento adicional de cerca de R$ 4,74 bilhões, além de criar R$ 9,17 bilhões em renda e cerca de 31,9 mil novos empregos, dos quais 13,8 mil seriam diretos e 18,1 mil indiretos.