Nesta semana, uma mãe precisou quebrar o vidro de uma janela de um ônibus na cidade do Rio de Janeiro para que seu filho sentisse menos calor dentro do coletivo. Esses veículos, que deveriam ter ar-condicionado funcionando, possuem janelas lacradas, que nem sempre os passageiros conseguem abrir. Quando o ar não está funcionando ou até mesmo quando a refrigeração não é o bastante para a quantidade de pessoas presentes, o calor chega a níveis desumanos.
Foto: Felipe Lucena
A reportagem do DIÁRIO DO RIO percorreu a cidade do Rio de Janeiro em ônibus que deveriam ter ar-condicionado funcionando plenamente. O resultado da apuração mostra que quando a refrigeração não funciona ou quando não “dá vazão”, na maioria dos casos, a sensação térmica passa dos 40 graus e a temperatura interna do coletivo supera a do lado de fora.
Nesta sexta-feira, 17/11, na linha 611, que vai de Del Castilho, na Zona Norte, ao Rio Centro, na Zona Oeste, a sensação térmica bateu 41 graus. Na altura da Linha Amarela, dentro do ônibus fazia mais de 35 graus. Do lado de fora, os termômetros marcaram 34, 7.
Medição feita dentro de um ônibus da linha 611
Também na manhã desta sexta, na linha 390, no Centro da cidade, a sensação térmica foi de 42 graus.
No 611, o ar condicionado funcionava parcialmente. Já no 390 parecia que não estava ligado. O motorista garantiu que o aparelho estava ativado, só que não andava operando bem há alguns dias.
Medição feita dentro de um ônibus da linha 390 (Candelária-Curicica)
O problema ocorre em todas as partes da cidade. João Pequeno, jornalista de 46 anos de idade, passou por essa situação nesta semana:
“Como o 378 demora um pouco para passar, fiquei nele, mesmo percebendo que o ar-condicionado estava com defeito, total ou parcial. Logo após a roleta, uma mulher se abanava. Mais atrás, outra, visivelmente mais sensível ao calor – assim como eu –, transbordava de suor, se sentindo mal. Na primeira oportunidade, fui para onde havia uma janela aberta, na parte preferencial para cadeirantes (não havia nenhum, que fique claro). Fiquei em pé, com a cabeça para o lado de fora, sempre que podia. A diferença de temperatura e sensação dentro do ônibus e na janela era muito perceptível… não tinha um termômetro, mas estimo em uns quinze a vinte graus de diferença. Parecia uma sauna, mesmo com algumas janelas abertas. Essas janelas de ônibus com ar-condicionado são muito duras, nem todas se consegue abri-las e, ai, vem outro problema: em alguns modelos de ônibus, elas são fixas – então, quando o ar falha… já era”, afirmou.
Tentativa de abrir uma janela de um ônibus com ar-condicionado funcionando mal no Rio de Janeiro
João também lembrou outro caso que viveu na mesma semana: “Na quinta-feira, iria da Praça XV, para São Cristóvão. Desisti de um 265 (Marechal Hermes-Castelo, via Dom Hélder Câmara) e de um 298 (Acari-Castelo), pois, pondo o pé dentro deles, dava para notar que estavam com defeito nos sistemas de ar-condicionados. Esses, então, quando dão problema, parecem masmorras de tortura. Neles, a mãe que viralizou não conseguiria nem quebrar a janela, pois elas são muito grossas. Impressionante que não tenham pensado nisso, quando puseram esses ônibus para circular. Por fim, consegui embarcar em outro 298, novo. Algumas empresas estão conseguindo colocar ônibus novos, com ar bom – especialmente em linhas herdadas de outras empresas, que fecham – mas isso é a minoria. A manutenção dos ares-condicionados deveria ser redobrada nesta época, tanto pela necessidade ainda maior de estarem em boa condição quanto pelo risco que o mesmo calor impõe também à mecânica e elétrica dos veículos, aumentando o risco de panes”.
Foto: Felipe Lucena
Especialistas alertam que esse calor extremo dentro dos ônibus pode ser extremamente prejudicial à saúde. Algumas das principais consequências em nosso corpo podem ser câimbras, tonturas, náuseas, desidratação e, em casos mais graves, convulsões e até infarto levando ao óbito.
Dr. Marcelo Tenório, cardiologista da Clínica Felippe Mattoso, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e American Heart Association, explica que “o aumento da temperatura tem uma relação direta com o aumento da mortalidade e das internações por causas cardiovasculares. Temos algumas revisões sistemáticas que demonstram que o aumento de 1oC aumenta o risco relativo de morte cardiovascular em 2,1%, com maior impacto nos indivíduos com mais de 65 anos”.
A recomendação médica é não se expor ao calor nos períodos críticos, vestir roupas leves e claras, além de evitar atividades físicas nos horários mais quentes. A hidratação é fundamental, ingerindo água e outros líquidos.
Segundo o Dr. Marcelo Tenório, “a refrigeração dos ambientes principalmente para cardiopatas, crianças e idosos é fundamental”.
Foto: Felipe Lucena
O prefeito Eduardo Paes (PSD) comentou os problemas no funcionamento de aparelhos de ar-condicionado nos ônibus da cidade do Rio. Segundo ele, as empresas que não estiverem com a refrigeração dos veículos adequada poderão voltar a sofrer corte de subsídios.
“Vivemos um dilema com essas empresas. A Justiça voltou a autorizar que a gente desconte o subsídio dos ônibus que não têm ar-condicionado”, disse Paes.
Em agosto deste ano, os consórcios que operam as linhas de ônibus na cidade conseguiram uma liminar que impediu a Prefeitura de reduzir o subsídio repassado às empresas quando elas rodam com a frota abaixo da determinada e com veículos sem ar-condicionado.
Proponho a vcs do jornal a iniciar uma campanha para reverter o aquecimento global, já que isso só irá se agravar a cada ano.
E nosso prefeito via SMTR cria uma regra cuja métrica para a “qualidade” do ar refrigerado nos ônibus é ser no mínimo 8 graus inferior a temperatura externa…Pois é, se a sensação térmica é de 50 e tantos graus e a temperatura medida é em torno de 40, um ônibus pode ficar fechado e cheio com o ar relatando no visor 31,32 graus..tudo certo! Só que não. Com o calor das pessoas e do motor dentro do coletivo é lógico que o sistema não vai render…É só comparar o metrô: dentro das estações o calor interno passa dos 60 mas no trem a temperatura é decente. Por que não podemos ter qualidade? Se paga subsídio, fora os R$ 4,30 que não é um valor pequeno, por que não conseguimos fechar a equação? Só se o estrangeiro gritar lá fora que o sistema de transporte do Rio é péssimo. Nossa voz local é inexistente.