O Largo de Santa Rita, nos arredores da Igreja de Santa Rita no Rio de Janeiro, ressurge como um memorial dedicado aos Pretos Novos, africanos trazidos para serem escravizados nas Américas, cujas vidas foram perdidas durante a desumana travessia. Neste local, seus corpos eram desrespeitosamente empilhados, queimados e, em seguida, enterrados sem qualquer consideração pela dignidade humana.
O termo “Pretos Novos” refere-se aos africanos recém-chegados ao Brasil, muitas vezes jovens e em boa saúde, que eram destinados à venda como escravizados. Muitos não resistiam às condições desumanas do transporte e dos primeiros dias em solo brasileiro, sucumbindo a doenças, maus-tratos e exaustão.
Na época da gestão do Marquês do Lavradio, houveram muitas reclamações do local escolhido para o mercado e cemitério dos Pretos Novos, uma vez que era bem no centro da cidade, onde muitas pessoas passavam. Então o Marquês transferiu o local para a região do Valongo, área então localizada fora dos limites da cidade.
Historiadores apontam que o cemitério funcionou ali entre 1722 e 1769, sendo o primeiro local da cidade de sepultamento de pretos novos. Já o do Valongo, na Rua Pedro Ernesto, descoberto na década de 1996, funcionou de 1779 a 1830.
Durante as obras de implantação da Linha 3 do VLT, vestígios do primeiro Cemitério dos Pretos Novos foram descobertos. A nova linha passa por cima de um sítio arqueológico do século XVIII, o Cemitério de Pretos Novos do Largo de Santa Rita, construído em frente à igreja de Santa Rita.
Em uma decisão conjunta entre o poder público e os movimentos negros, optou-se por preservar os ossos dessas vítimas como forma de honrar sua memória.
A praça, agora revitalizada, apresenta em seu piso uma rosa negra central, circundada por outras menores, marcando de maneira perene no coração do Centro do Rio a lembrança da atrocidade cometida contra os africanos trazidos para o Brasil. A rosa negra é um símbolo muito utilizado no século XIX por movimentos contrários ao regime escravocrata.
A renovação do Largo de Santa Rita foi resultado da colaboração entre a Prefeitura do Rio, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Comissão Pequena África – composta por líderes dos movimentos que lutam pelos direitos dos negros – e a Concessionária do VLT Carioca.
Essas descobertas arqueológicas e a preservação do Cemitério dos Pretos Novos destacam a importância de confrontar o passado e honrar a memória daqueles que sofreram.
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