Eduardo Cavaliere é deputado estadual e secretário da Casa Civil da Prefeitura do Rio
Antônio Mariano é subsecretário de Assuntos Estratégicos da Casa Civil
Que o Rio de Janeiro é a cidade mais turística do Brasil – quiçá da América Latina -, ninguém duvida. Mas o que é o turismo hoje em dia? Para além das belezas naturais e alguns atrativos já consolidados, como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, o turista do século 21 gosta de inovar. Uma cidade que não percebe essa característica dos viajantes atuais – e aposta em uma fórmula ultrapassada – está fadada ao fracasso e perderá bilhões de dólares em receitas.
Dentro dessa lógica, diversas formas de incrementar o turismo e, por consequência, todo o desenvolvimento econômico de um município vêm surgindo ao longo dos últimos anos, em todo o mundo. Desde aproveitamento de áreas que já existiam, mas nunca foram exploradas, até mesmo a criação de novos paradigmas. E o turismo gastronômico não poderia ficar fora dessa.
O Guia Michelin e o 50 Best Restaurants são excelentes exemplos para mostrar que comida move o mundo. Milhões de pessoas, todos os anos, viajam em busca dos melhores restaurantes, dos melhores pratos e dos melhores chefs. Rankings e premiações existem aos montes, e esses são apenas dois elementos – fundamentais – de uma indústria que movimenta dinheiro a perder de vista. Mas como o Rio de Janeiro pode se aproveitar disso tudo, afinal de contas?
Talvez você não se lembre, mas o que era a gastronomia peruana há 15 anos? Nada demais, com todo o respeito. Não que o ceviche seja ruim, pelo contrário, mas não era amplamente conhecido e não pululavam restaurantes peruanos em cada esquina, como agora. Este foi um intenso trabalho de “gastrodiplomacia”, a partir do momento em que os peruanos entenderam a importância de se conquistar o mundo… pela boca.
Lima soube se reinventar. Investiu milhões de dólares no seu soft power culinário e vendeu o ceviche como porta de entrada para um país que conta com muitos outros atrativos turísticos. Deu certo!
Neste mês de novembro, o Rio de Janeiro receberá a premiação do 50 Best Restaurants Latin America, pela primeira vez no Brasil – desbancando fortes concorrentes. Também já voltou o Guia Michelin, junto com São Paulo, depois de um hiato de anos. Este é o início de uma oportunidade de ouro que o carioca tem em mãos para dar uma reviravolta no turismo gastronômico e acabar com a impressão de que só se consegue comer bem em São Paulo. Não é verdade. Na lista dos 100 melhores restaurantes do mundo de 2023, São Paulo, ora vejam só, tem apenas um nomeado, enquanto o Rio tem dois.
O prefeito Eduardo Paes acertou em cheio ao apoiar a vinda do 50 Best para o Rio de Janeiro e abraçar o retorno do Guia Michelin, para iniciar a nossa transformação turístico-gastronômica. Vamos muito além da Comida de Boteco, uma marca forte da cidade. Com tantas escolas de gastronomia e chefs cariocas, devemos aprender a valorizar o nosso jardim. Temos queijos e vinhos em nossa região de excelentes produtores. Nossa costa tem peixes únicos e saborosos. Para que, então, continuar copiando receitas estrangeiras, se podemos valorizar o que é tipicamente do Rio? E mais, podemos espalhar a culinária carioca pelo mundo todo!
Que este seja o início de um novo capítulo na história da nossa cidade e do nosso turismo. Precisamos aprender a nos reinventar. Ir além das tradicionais atrações: sol, mar e paisagem. Claro, são o nosso carro-chefe. Mas podemos fazer mais! O turismo gastronômico pode e deve ser uma mola propulsora desse desenvolvimento tão almejado.