Tirando dúvidas em língua portuguesa

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Livro por Diogo Rodrigues Gonçalves

Olá, caros leitores do Diário do Rio de Janeiro.

Hoje, inicio nesta coluna um espaço para que vocês tirem dúvidas relativas à Língua Portuguesa e à redação.

Como sou professor adjunto de Língua Portuguesa e Filologia Românica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ, essas dúvidas serão sanadas com o apoio e amparo da equipe do CEFIL — Centro Filológico Clóvis Monteiro —, que, entre os serviços prestados à comunidade, oferece também, desde 1993, o de consultoria linguístico-gramatical, agora estendido aos leitores do Diário do Rio.

Nosso site é este.

Publicaremos esta coluna inicialmente a cada 15 dias. Aqueles que quiserem tirar suas dúvidas podem escrever para cefiluerj@gmail.com. Independentemente de sua dúvida e resposta serem publicadas, todas são respondidas por e-mail por nossa equipe, que conta com a participação dos professores Flávio de Aguiar Barbosa, nosso coordenador, com a minha, Marcelo Moraes Caetano, e com a do graduando em Letras Filipe Reis, estagiário do CEFIL.

Para esta primeira coluna, trazemos as dúvidas do consulente Vítor Brandão, que foram dirigidas há alguns dias ao CEFIL. Transcrevemos os dois e-mails do Vítor e, logo abaixo, a resposta elaborada por nós.

Aguardamos seu contato e suas dúvidas!

Abraços,

Marcelo Moraes Caetano

Dúvida 1:

Prezado CEFIL,

Há certas palavras que ora são substantivos, ora são adjetivos. Eu gostaria de saber qual é o critério de diferenciação para descobrir se é substantivo ou adjetivo em uma palavra composta. Por exemplo: arroz-doce, batata-doce, sequestro-relâmpago (sequestro relâmpago), planeta anão, carro esporte. Todos os segundos termos podem ser substantivo ou adjetivo (doce, relâmpago, anão). Como classificar, esses segundos termos, dentro de uma palavra composta?

Por exemplo:

Ex.: Minha avó fez um delicioso arroz-doce.

Ex.: A batata-doce é rica em carboidratos.

Ex.: Houve um sequestro-relâmpago em frente ao supermercado.

Ex.: Eu quero comprar um carro esporte.

DÚVIDA 2:

Prezado CEFIL,

Por que “fita pirata”, “sequestro relâmpago” não levam hífen, mas já “seguro-desemprego”, “garoto-propaganda” possuem hífen sendo que todos os vocábulos citados são substantivos? Muito obrigado.

Caro Vitor,

Mesmo que a segunda palavra esteja acrescentando valor de caracterização ou qualificação, quando se agrupam duas palavras, elas passam, em todos os casos que você questiona, a ter um valor único de substantivo, funcionando como uma unidade de sentido (exemplo: carro esporte como modelo de carro).

A essa unidade de sentido damos o nome de lexia. A lexia pode ser composta (quando há hífen ou unidade gráfica, como em “arco-íris” ou “girassol”), complexa (sem hífen, mas com unidade de sentido, como em “Idade Média” ou “pé de moleque”) ou até um item fraseológico (como “Cão que ladra não morde”, que significa aproximadamente “inofensivo”).

Ou seja, além da combinação do substantivo “arroz” com o adjetivo “doce”, cria-se um novo sentido que corresponde a uma receita de doce. Portanto não é qualquer tipo de arroz doce, mas uma receita específica que ganhou este nome, constituindo a unidade de sentido de que falamos.

Observe a diferença nas frases abaixo:

“Este arroz (substantivo) é doce (adjetivo)”.

“Minha avó fez um delicioso (adjetivo) arroz-doce (substantivo composto)”.

Ainda cabe ressaltar o que vem escrito na Gramática Reflexiva da Língua Portuguesa (CAETANO, 2009, p. 126):

“São denominados Adjetivos Eventuais quaisquer classes gramaticais que, não pertencendo à dos adjetivos, estejam modificando um substantivo, funcionando, portanto, como adjetivo. Por outro lado, é Essencial o adjetivo que tiver preponderância de uso com funções morfossemânticas de adjetivo:

EXEMPLOS:

Adjetivos Eventuais:

Mãe-pátria

Navio-modelo

Inúmeros algarismos

Nossos amigos

Adjetivos Essenciais:

Pátria gentil

Navio comercial

Algarismos arábicos

Amigos antigos”.

Em relação à segunda dúvida, o livro Dúvidas em Português Nunca Mais (PEREIRA, 2011, p. 57 – letra b), diz assim:

NÃO se emprega hífen

b) nas locuções substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas, conjuntivas e interjetivas: fim de semana (dois substantivos)/ hei de fazer (dois verbos)/ ao passo que (duas conjunções)”.

Logo, assim como nos exemplos acima, “fita pirata” e “sequestro relâmpago“, são locuções substantivas, por isso, não levam hífen. Porém, em relação aos vocábulos “seguro-desemprego” e “garoto-propaganda“, assim como em “arroz-doce“, os quais são casos mais específicos, o mesmo livro acima (p. 51) diz assim:
Emprega-se hífen

Em palavras compostas por justaposição

 

a) cujos elementos, de natureza nominal, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica, mantendo cada um a sua tonicidade:
ano-luz, arco-íris, azul-escuro, médico-cirurgião, tenente-coronel, segundo-sargento, primeiro-ministro, tio-avô, turma-piloto, quinta-feira, conta-gotas, guarda-chuva, guarda-noturno, norte-americano […]“.

Por isso, esses substantivos compostos devem ser hifenizados. Remetemos você, ainda, ao site do VOLP — Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa —, da Academia Brasileira de Letras. Nele, ao digitar a palavra em dúvida, você será orientado acerca da sua correta grafia, o que inclui o emprego do hífen.

Esperamos ter ajudado.

Abraços,

Equipe do CEFIL

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PhD em Língua Portuguesa pela UERJ. É professor adjunto de língua portuguesa e filologia românica da UERJ e author and content developer da California State University. Tradutor de inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, latim e grego, pesquisador das filologias russa e mandarim. Escritor com mais de 40 livros publicados e premiados no Brasil e no mundo. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia, do PEN Club Rio-Londres, da Académie des Arts, Sciences et Lettres de Paris e da Academía de Letras y Artes de Chile. Em 2011, recebeu a Comenda e a Médaille de Vermeil do Governo francês.

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