Erguida nas ruas antigas e cheias de história do Centro Histórico do Rio, a Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa é uma relíquia que nos transporta no tempo. Apesar de sua fachada ser neocolonial por conta da demolição do templo original, suas origens remontam a séculos passados, quando os primeiros tijolos foram assentados em direção ao céu, inaugurando uma jornada que perduraria por gerações. Esta construção monumental não é apenas um marco arquitetônico; é um testemunho vivo do legado religioso e cultural que moldou nossa comunidade.
Porém, passou por anos de abandono. A igreja, com entrada para três ruas e nobre implantação em plena Avenida Passos, pertence a uma Confraria Católica, devotada ao culto da Virgem da Lampadosa; uma associação de fiéis que na ocasião se uniram e edificaram o templo, com as bênçãos da Igreja. Mas os tempos mudaram e a entidade passou por diversos problemas, que acabaram prejudicando o templo, que recentemente teve sua fachada restaurada, e agora começa a organizar-se sob uma nova administração. A Arquidiocese do Rio de Janeiro, num esforço que vem fazendo para recuperar patrimônios que vinham sendo perdidos por irmandades religiosas, a pedido de membros da Confraria preocupados com a situação do templo, interviu e nomeou um Comissário Administrativo, espécie de interventor que substituiu a antiga diretoria da entidade e agora começa a tomar providências que não eram tomadas há décadas.
Foi assim que tomou posse da provedoria Maurício Barros da Cruz, que já era membro da confraria, nomeado pelo Cardeal Arcebispo. Tomando posse em Missa Celebrada pelo Monsenhor André Sampaio de Oliveira – Vigário para as Associações de Fiéis, Cruz verificou que sequer a lâmpada do santíssimo funcionava. O histórico sacrário da igreja, que estava trancado há nada menos que 45 anos e sucessivas administrações diziam ser impossível voltar a ser utilizado, foi aberto por um chaveiro em menos de 1 hora. Uma gama de providências visando a profissionalização do gerenciamento da Confraria foram tomadas, inclusive a contratação de uma administradora de imóveis profissional para zelar pelo patrimônio da entidade; a empresa escolhida foi a Sergio Castro Imóveis, que já assumiu os edifícios da associação católica.
A regularização contábil, imobiliária e jurídica da confraria, no entender de Cruz, estabelece bases sólidas para o futuro. Também foi realizada uma ampla e meticulosa limpeza do templo, que já restaurou sua beleza. As majestosas portas principais foram finalmente reabertas, após anos fechadas, convidando de novo a comunidade a compartilhar das celebrações. Os bancos foram restaurados e vidros quebrados trocados; preocupada com o culto divino, a provedoria adquiriu novas vestes e paramentos para os sacerdotes.
A Igreja foi reaberta para visitação de turistas e grupos, compartilhando sua beleza e espiritualidade; em poucas semanas, turistas de mais de 20 nacionalidades já estiveram na igreja, que fica colada na Praça Tiradentes. A recolocação de suportes com água benta, na Capela do Santíssimo e na entrada, permitiu aos fiéis participar ativamente nos rituais de purificação e benção.
“Essas realizações, empreendidas com amor e dedicação, têm um objetivo claro: preservar a história e a espiritualidade da Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa, tornando-a acessível e acolhedora para todos. São passos significativos para manter a chama da devoção acesa, honrando nossa amada santa e sua sagrada casa”, disse o novo comissário, cheio de planos para o futuro. Cruz determinou que o número de missas diárias na igrejinha seja aumentado, o que deve ocorrer nos próximos dias.
A devoção a Nossa Senhora da Lampadosa
O culto a Nossa Senhora da Lampadosa tem suas origens em uma antiga tradição religiosa que remonta à Itália, mais especificamente à cidade de Palermo, na Sicília. A devoção à Nossa Senhora da Lampadosa está ligada a uma história lendária que se diz ter ocorrido naquela região.
Segundo a tradição, no século XII, durante o período em que os cristãos enfrentavam desafios significativos devido às invasões muçulmanas na Sicília, um pescador chamado Matteo Bonello estava pescando no mar quando avistou uma pequena ilha próxima à costa de Palermo. Naquela ilha, ele encontrou uma estátua de Nossa Senhora segurando o Menino Jesus.
A estátua estava iluminada por uma lâmpada acesa, daí o nome “Lampadosa” (ou “Lampedusa” em italiano). A descoberta da estátua e o fato de ela ser iluminada mesmo durante o dia foram interpretados como um sinal divino e uma intervenção milagrosa. Nossa Senhora da Lampadosa passou a ser considerada a protetora dos marinheiros e dos pescadores da região.
A devoção a Nossa Senhora da Lampadosa se espalhou, e um santuário foi erguido no local da descoberta da estátua. Ela se tornou uma figura importante na cultura religiosa da Sicília e, posteriormente, em outras partes do mundo onde a diáspora italiana levou a devoção.
É importante observar que a devoção à santa é considerada por alguns um belo exemplo de sincretismo religioso, no qual elementos religiosos e culturais de diferentes tradições se fundem. No caso dessa devoção, a história da lâmpada acesa e a veneração de Nossa Senhora se tornaram elementos centrais da fé dos devotos.
Portanto, a origem do culto à Virgem da Lampadosa está associada a uma lenda que se desenvolveu na Sicília medieval, enfatizando a importância da fé e da proteção divina em tempos difíceis, especialmente para aqueles que dependiam do mar para sustento e sobrevivência.
As raízes históricas do templo localizado na Avenida Passos, número 13, remontam ao distante ano de 1748, quando um terreno foi generosamente doado à Irmandade Negra de Alampadosa, também conhecida como Lampadosa. No entanto, somente no final da década de 1740 é que a irmandade efetivamente deu início à construção de um templo que abrigaria uma venerada imagem religiosa.
Ao longo dos anos, a devoção à figura de Nossa Senhora da Lampadosa ganhou um lugar central na vida espiritual e cultural da comunidade. A imagem da Virgem Maria, cuidadosamente venerada e adorada, tornou-se um farol de esperança e refúgio para os fiéis. Sua presença iluminava os corações e mentes daqueles que buscavam conforto espiritual e orientação divina.
No ano de 1930, a antiga estrutura que abrigava essa profunda devoção foi cuidadosamente demolida para dar lugar a uma nova edificação. A construção do novo templo, concebido em um estilo neocolonial, foi um projeto arquitetônico liderado pelos renomados arquitetos Paulo Candiota e Eduardo de Sá. Após anos de trabalho dedicado, o novo prédio foi finalmente inaugurado em 1934, marcando um capítulo importante na história da devoção à Nossa Senhora da Lampadosa.
Este templo não é apenas um marco arquitetônico; é também uma testemunha viva da devoção e fé que têm perdurado por séculos. A história da Irmandade Negra de Alampadosa e de sua venerada imagem de Nossa Senhora da Lampadosa continua a ser uma parte rica e significativa do patrimônio religioso e cultural que enriquece nossa comunidade. É uma história de devoção que transcende o tempo e permanece como um farol de esperança e inspiração para todos que se aproximam dela.
Ninguém fala sobre a IGREJA NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO E BOA MORTE – ROSÁRIO COM RIO BRANCO – que fechou com a PANDEMIA e não abriu mais…é isso mesmo? Vão deixar desabar? ou ser invadida!?
Não sou católico mas adoro fotografar igrejas