A região do Paço Imperial, no entorno da Praça XV, tem tudo pra lotar novamente, neste final de semana. A área virou sinônimo de revitalização cultural, e terá neste fim de semana uma programação eclética que vai desde blocos de carnaval que vão animar o Centro, a passeios histórico-culturais pelas suas ruelas setecentistas, galerias de arte, centros culturais e até passeios para crianças, incluindo até uma sacrossanta distribuição gratuita de giz bento para garantir proteção durante o novo ano que se inicia, retomada de uma milenar tradição católica.
Carnaval antecipado
Neste domingo (07/01), o Rio celebra a abertura não oficial do Carnaval de Rua em 2024. O abre alas começa bem no coração da região, logo nas primeiras horas da manhã, quando o Bloco da Frida, o Canários do Reino e o Mulheres Rodadas iniciam os trabalhos, madrugando, às 7h. A concentração está marcada para o Buraco do Lume, passando pela Pira Olímpica e chegando até o Paço Imperial.
Mais tarde, a partir das 11h30, é a vez do Calcinhas Bélicas, Marimbondo não Respeita, Os Biquínis de Ogodô, Sungas de Odara e o Só Toca Bloco. O encontro acontece em frente ao Arco do Teles – praticamente na porta da sede do DIÁRIO, próximo a estátua equestre do General Osório. Com início às 11h, dessa vez no Edifício Bolsa do Rio (Prédio da Bolsa de Valores), no número 20 da Praça XV, o Toques para Odudua, Bésame Mucho, Insana e Lança Perfume, que homenageia a Rainha do Rock, Rita Lee, agitam o domingo no Centro.
Perto dali, na Rua do Mercado, o Palco Bar Kamikaze dá sequência a folia, com a farra começando às 11h e indo até às 17h. A reunião de instrumentos e fantasias coloridas terá cortejos famosos entre os cariocas durante os dias em que o Carnaval toma conta da cidade, como o Que Pena Amor, Enxota que eu vou/Insana, Traz a Caçamba, LambaBloco, NossoBloco, Balanço, Percussaça e Balanço.
Para quem prefere uma programação menos agitada e carnavalesca, o trecho da Praça XV/Paço Imperial também oferece uma série de alternativas culturais. No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), por exemplo, a dica é aproveitar a exposição “Tesouros Ancestrais do Peru”, que traz 162 peças originárias que ajudam a contar a história dos povos andinos. A mostra vai até 05 de fevereiro e pode ser visitada de quarta a segunda, de 9h às 20h.
Cultura e Exposições
Também não faltam opções para os carioquinhas, que poderão se divertir com o festival “Um Giro pelo Mundo – Navegando pelo Cinema Infantil”. A exibição terá animações premiadas e produções de curta e longa metragem infantis de oito países (Brasil, Argentina, Austrália, Alemanha, Itália, França, Espanha e Suíça). A mostra também terá atividades artísticas. Os filmes e oficinas acontecem neste sábado (06/01) e domingo (07/01, a partir das 15h.
No Paço Imperial, o destaque vai para a exposição Iole de Freitas, anos 1970 – Imagem como presença. A mostra, organizada e já exibida pelo Instituto Moreira Salles em São Paulo, reúne 18 sequências fotográficas, 9 filmes e 3 instalações dos tempos em que a artista viveu em Milão, Londres e Nova York. Pouco conhecidas pelo público brasileiro, as obras também abordam temas como o movimento e a passagem do tempo. A obra pode ser visitada de terça-feira a domingo, de 12h às 16h, com entrada gratuita.
No número 20 da Rua Visconde de Itaboraí, o Centro Cultural dos Correios traz um presente para os fãs de cultura pop com a exposição “Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros”. A mostra conta como os quadrinhos estão em todas as regiões, com personagens que representam as características históricas e sócio-culturais brasileiras. O trabalho apresenta talentosos quadrinistas das cinco regiões do país.
A mostra pode ser visitada de até 24 de fevereiro, na sala A, 3º andar, de terça a sábado, das 12h às 19h, onde, além da apresentação dos personagens, os visitantes poderão participar de visitas guiadas, palestras e conhecer os novos lançamentos nessa área que atrai todas as idades.
Religiosidade, Música Sacra e História
Todos os meios de comunicação vem noticiando o sucesso que tem sido as missas com coral e orquestra da Igreja da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, uma pequena pérola da arquitetura rococó brasileira, aos sábados e domingos. Também a lindíssima Igreja de São José, com a irmandade por ela responsável sob nova administração, tem iluminado as manhãs de sábado com suas cerimônias e batizados. O turismo religioso histórico no Centro Do Rio tem crescido exponencialmente, com visitas de diversos blogueiros e instagrammers do Brasil todo; um vídeo dos canal de YouTube “Tesouros do Brasil” teve centenas de milhares de visualizações. São mais e mais interessados na região central por conta dos vídeos de influenciadores como Tiago Gomide, Gesttocultural, Girodacarioca e outros.
É que as missas de sábado e domingo têm lotado a igrejinha dos mercadores, todos os finais de semana. Apinhada de gente interessada em conhecer a beleza da sua nave, o belíssimo átrio onde estão expostas a bala de canhão e a imagem que caiu, assim como suas históricas imagens em madeira do século XVIII, o templo tem recebido centenas de pessoas todos os finais de semana também para assistir a celebração eucarística. As missas, conduzidas pelos padres Victor Hugo e Vítor Pereira, são rezadas em latim, e sempre acompanhadas de coral e grande orquestra, com direito a metais, órgão – o instrumento da igreja é de 1873 e foi totalmente restaurado – e cantores líricos liderados pela soprano Juliana Sucupira, que entoam clássicos sacros como Zadok the Priest e Aleluia de Handel, com adições como Panis Angelicus e muitos outros exemplos de música erudita. Este final de semana, ao meio dia dos dois dias, a igreja retomará uma tradição milenar de entregar, gratuitamente, giz bento durante a missa, para que os fiéis escrevam na porta de suas casas uma antiga oração, que se acredita ter a habilidade de conceder proteção à residência no ano que entra.
Gastronomia na região da Praça XV
Os bares e restaurantes na região também prometem bombar. O Bar Sampaio, antigo casual, bem em frente à Igreja dos Mercadores, tem ficado cheio. Famoso pelo seu churrasco misto com lingüiça toscana cortada fininha, feijoada e pela cerveja gelada, o estabelecimento do casal Dora Fontenelle e Sidney Bezerra tem recebido grande parte dos novos freqüentadores da Igrejinha, que, tendo cumprido o preceito católico de ir à missa, depois estão prontos para festejar o final de semana. “A reabertura da igreja trouxe uma luz pra este lugar, que andava meio esquecido. Não tenho como duvidar da lenda. Pra nós tem sido uma bênção e temos lotado nos finais de semana, sem contar o aumento do movimento diário“, dispara a proprietária. Dora não está sozinha. Renan Ferreira, dono do conhecido restaurante Capitu, um dos maiores da região, se junta ao coro. “Tem atraído um público muito grande, não só de fiéis como também de turistas, e estamos sentindo o aumento na procura“, diz. Verdade seja dita, há mais de 10 anos, não era possível ver o Arco do Teles lotado de mesinhas de madeira com pessoas fazendo refeições, num fim de semana.
Aos sábados e domingos, já é quase impossível conseguir um lugar pra sentar nos principais restaurantes da região, e o restaurante mais antigo da cidade, o português Rio Minho, voltou a abrir nos sábados, com o aumento do movimento. Seus frutos do mar grelhados são considerados por muitos os melhores da cidade. Nos últimos finais de semana, tem sido impossível conseguir uma mesa, tanto nos bares e restaurantes mais chiquezinhos – como o Sobrado da Cidade (melhor feijoada do Centro do Rio), o Capitu (o Bolinho de Costela e o de bacalhau são uma espécie de milagre de Nossa Senhora da Lapa) e o Cais do Oriente – quanto nos mais populares e não menos apetitosos, como é o caso do Porto Carioca, do próprio Sampaio, o 20 20, Bar do Gengibre, Toca do Baiacu e Parada Ouvidor (por favor, prove o bolinho de aipim com carne seca de lá ou peça ao Aparício pra preparar um bacalhau especialmente pra você).
Renan, que é presidente do Polo Gastronômico e Cultural da Praça XV, diz que a volta da velha igrejinha à ativa trouxe já um outro milagre, além de clientes. O policiamento voltou. “Desde a reabertura do templo, o número de turistas aumentou e acho que por isso já começamos a ver muitos guardas municipais e policiais militares por aqui. Volta e meia passa uma motocicleta, uma viatura, ou duplas de guardas, que antigamente ficavam só no Largo do Paço. Agora eles andam a todo momento pelo Arco do Teles e circulam pela Rosário, Ouvidor e Mercado“, festeja.
Outro grande atrativo da região é um evento gastronômico-cultural do Sobrado da Cidade, localizado na rua do Rosário 34, logo ali. O restaurante oferece um café da manhã especial, que usa receitas do século XIX e é seguido por uma caminhada de 1 hora pela região do Paço Imperial, e que termina com a chegada à Lapa dos Mercadores para assistir as missas, às 12:00 em ponto, enquanto dobram os sinos da igrejinha, que anuncia as horas, de hora em hora.
A região é o epicentro do programa Reviver Cultural, da Prefeitura do Rio, um ambicioso projeto conduzido pela Companhia Carioca de Participações que está incentivando a ocupação da região com novos projetos culturais. Dentre os 88 projetos já aprovados, espera-se a reabertura quase imediata de quase 40 imóveis fechados, alguns deles há anos. Cada um vai abrigar um diferente projeto cultural: os novos negócios vão desde um Comedy Club a um Museu do Carnaval, passando por galerias de arte, oficinas de teatro, e diversas outras iniciativas que vão agitar mais ainda a área. Essa sopa cultural é a cara do Rio. e a região do Paço Imperial é sinônimo desta mistura interessante que alia o profano ao sagrado, e o histórico ao moderno.
Desde que o Diário do Rio priorizou o patrocínio sobre seus leitores que, na verdade, são os que o lsustentam, dá difícil de aturar!