O “complexo de vira latas”, expressão consagrada pelo nosso gênio Nelson Rodrigues criticando a eterna mania de brasileiros de se diminuírem, tem ao longo da sua criação recebido muitos exemplos objetivos para sua contestação.
Na área da Engenharia a superação brasileira vem de longa data, muito antes da criação de nossas escolas de engenharia, já no século 17, quando construímos o navio “Galeão Padre Eterno” na Ilha do Governador na sua ponta, que, poucos sabem, deu o nome ao bairro do Galeão.
Na área da Aeronáutica a empresa EMBRAER quase entregue ao exterior em passados sombrios recentes, em uma homenagem póstuma ao “Engenheiro” Santos Dumont nos enche permanentemente de orgulho.
Hoje, 25 de janeiro, em Houston nos EUA foi anunciado pela 5ª vez que a Petrobras irá receber o prêmio “Distinguished Achievement Award 2024” da Off-Shore Technology Conference, que é considerado o cobiçado Oscar da Indústria Mundial do Petróleo e que será entregue em breve em cerimônia no evento OTC que acontece anualmente em Houston nos EUA.
No ano em que o Brasil celebrará 50 anos da descoberta da Bacia de Campos, esse Prêmio enche de orgulho não só os técnicos profissionais engenheiros e profissionais da geociências que atuam direta e indiretamente na empresa, mas todo o nosso país!
É o fruto da superação dos brasileiros de todas as raças e de origens de cada recanto do Brasil.
O Prêmio consiste na contribuição da Petrobras na Bacia de Campos, em especial a revitalização do importante campo de Marlim, que tem proporcionado notáveis contribuições tecnológicas pioneiras para as tecnologias aplicadas ao desenvolvimento dos chamados Campos Maduros
Não há como não se emocionar com tal reconhecimento internacional, em especial aqueles que trabalham e trabalharam nessa empresa e vivenciaram pulhas e vendilhões que acusavam a empresa como se o paradigma de competência só fosse objetivo para sua transferência nas mãos privadas e certamente vendida na Bacia das Almas.
Muitas vezes uma conquista como essa passa despercebida, pois não interessa o país ser visto como centro de inteligência, capacidade industrial através do desenvolvimento de tecnologia de ponta e não como um mero mercado consumidor para importados e um “celeiro” de produção de Commodities de exportação para o mundo.
Lembro com orgulho que ao final da década de 1980, como engenheiro “novinho” da Petrobras, no então Serviço de Engenharia (SEGEN), fui escalado para ser o representante pela Engenharia do Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) do Sistema Piloto para produção de Marlim que aprovamos com sucesso e implementamos através da adaptação de uma plataforma Semi Submersivel existente. Mesmo com o sufoco que passei com o então Diretor de Produção da Petrobras, Wagner Freyre, que em uma sabatina me fez explicar todos os números de orçamentação para colocar em pauta na Diretoria, o que aliás foi fundamental para, no susto, eu aprender um pouco mais do tema.
Dentro dos meus caminhos cruzados com Marlim, onde certamente milhares de petroleiros tem suas histórias, recordo-me de estar em Houston para fiscalizar uma empresa para um outro projeto. Na ocasião recebi a convocação do então Presidente Joel Rennó para no dia seguinte apresentar um trabalho na OTC, feito por um outro autor Engenheiro, Fernando Homem, que não havia viajado. O trabalho era sobre a plataforma semi submersível P19 que estava em construção no antigo Estaleiro Verolme para o Campo de Marlim. Essa plataforma até então seria a maior do tipo no mundo. Para a apresentação lembro-me que fiz um malabarismo, pois sequer conhecia a plataforma e os slides foram recebidos só na hora.
O Brasil, a Petrobras e o povo brasileiro estão de parabéns por mais essa grande conquista que é mais do que um prêmio, mas um atestado da capacidade de superação do povo brasileiro e um tapa de pelica para quem assim pensa diferente!