Em novembro de 2023, o Diário do Rio publicou matéria de Raphael Fernandes, abordando estudo realizado por um vereador que apontava a necessidade de melhorias urgentes em 2/3 das escolas municipais.
Ainda que oficialmente as aulas foram iniciadas no início de fevereiro do 2024, efetivamente começarão após o carnaval, como era comum até a sucessão de reformas de ensino pouco fundamentadas, que associam qualidade à quantidade de dias lecionados, em todos os níveis educacionais. Em seu curta metragem “Di-Glauber”, censurado, de 1977, Glauber Rocha afirmava que a quantidade está na qualidade, assertiva fácil de compreender para quem esteve naquelas escolas antes das reformas do governo militar.
Em poucos momentos da história da Educação no Brasil houve uma preocupação integrada entre aspectos didáticos e pedagógicos e o edifício escolar como instrumento participante do processo.
A década de 1920 assistiu a uma busca por essa integração, principalmente através do trabalho de Fernando de Azevedo, Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal (Rio de Janeiro), educador diretamente envolvido em ações para melhoria da educação nacional, incluindo a autoria de um projeto para reforma educacional, em 1928. Azevedo defendia uma educação pública, gratuita e laica em todos os níveis, atendendo aos direitos do cidadão.
Nessa década, assistiu-se à participação de um médico pernambucano, José Marianno Filho, radicado no Rio de Janeiro, que desenvolveu uma campanha incansável pela adoção de uma arquitetura com raízes nacionais, incluindo os edifícios escolares., denominada, com restrições, de movimento neocolonial.
Marianno Filho acreditava conferir um caráter pedagógico para a arquitetura que poderia contribuir para formação do povo brasileiro através de sua estética e da elaboração de seu programa.
Ao final da década de 1920, algumas escolas primárias foram construídas no Distrito Federal (Rio de Janeiro), aplicando os preceitos defendidos pelo médico e endossados por Azevedo.
Houve toda uma transformação no programa e na disposição dos elementos escolares substituindo escolas que ocupavam edifícios adaptados, com problemas de circulação, ventilação e iluminação, conforme artigo de Fernando de Azevedo, relatando que “em todas essas construções, a maior parte das quais condenadas como impróprias ao funcionamento de escola, não foram postos nem resolvidos os mais elementares problemas de índole higiênica e pedagógica, em cuja solução o arquiteto deverá procurar o ajustamento perfeito do edifício à sua finalidade”, publicado no Boletim de Educação Pública do Distrito Federal, em 1930.
Mesmo sem a formação de arquiteto, Azevedo manifestava suas preocupações com os aspectos físicos dos prédios escolares, relativos ao conforto e salubridade. Defendia a implantação dos edifícios em áreas arborizadas, providas de pátios, ginásio para atividades físicas, salas de arte, biblioteca, além de gabinete médico e oftalmológico e orientação educacional. O ensino deveria ser oferecido em horário integral, incluindo refeições com café, almoço e lanche.
Em relação às fachadas, havia uma proposta formalizada em apresentar uma arquitetura com elementos da formação nacional associados à funcionalidade climática. A arquitetura colonial era resgatada através de volutas, azulejos, janelas treliçadas, avarandados, pátios internos, criando um ambiente capaz de associar a criança à sua arte e tradições culturais, como defendia José Marianno Filho, inclusive em congressos internacionais de arquitetura.
Essa política estava integrada a um movimento panamericano de resgate das próprias raízes, combatendo a europeização cada vez mais presente. Azevedo defendia que não se reproduzissem velhos modelos, mas, numa proposta antropofágica, retirasse deles aquilo que poderia ser efetivamente aproveitado em seus aspectos funcionais e simbólicos.
Esses esforços, associados à iniciativa do Prefeito Antônio Prado Júnior, geraram alguns edifícios escolares, denominados Escolas Públicas do Distrito Federal, construídas em vários bairros do Rio de Janeiro, como Engenho Novo, São Cristóvão, Catumbi, Tijuca, que adotaram muitos dos princípios enunciados por Azevedo.
Até mesmo a Escola Normal do Distrito Federal, que se tornaria o famoso Instituto de Educação, inaugurou seu novo conjunto com este repertório estético, além de um complexo e eficiente programa de arquitetura.
Foi uma revolução educacional e arquitetônica, que perdurou até a Revolução de 1930, pois o governo que se instalava através de um golpe iria adotar outro repertório para suas escolas, nem sempre com resultados tão satisfatórios.
Mas isso é uma outra história.