Uma bucólica ruazinha de paralelepípedos liga a Rua Sete de Setembro ao Largo de São Francisco de Paula, no Centro Histórico do Rio de Janeiro. É uma servidão que ladeia a histórica Igreja de São Francisco de Paula, e algumas lindas fachadas coloniais, fechada por grades de ferro que tinha tudo para fazer bela memória que relembrasse tempos em que o Rio de Janeiro vivia dias mais prósperos. Só que a servidão, que há tempos é ocupada por carros estacionados da LOTERJ – empresa estatal do governo estadual que mantém as loterias fluminenses – virou agora um matagal que serve como depósito de sucata e serve de grande vetor para a proliferação de doenças. O local fede e está sempre repleto de ratos e – pior – mosquitos, nesta época em que a dengue é o maior problema de saúde pública que temos. É uma caçamba de lixo em forma de rua.
A LOTERJ ocupa a ruazinha como estacionamento, segundo averiguamos, já há alguns anos, a título gratuito. E, segundo comerciantes da área, cuidava bem do logradouro, onde seus funcionários sempre pararam os carros, pois a empresa estatal tem sua sede na Rua Sete de Setembro 170, logo ali ao lado. Porém, desde que seu presidente atual – Hanzenclever Lopes Cançado, ex-assessor do Senador bolsonarista Magno Malta – assumiu a entidade em 2022, o local se transformou num verdadeiro lixão. Cançado preside a empresa fluminense de Loterias mas reside grande parte do tempo em Brasília, tanto que em seu perfil do Linkedin afirma: “Atualmente me divido entre Brasília, onde reside minha família, e o Rio de Janeiro, onde vivo o estimulante desafio de engrandecer a história da Loterj, contribuindo para destacá-la no atual cenário de loterias e potencializar sua relevante atuação social.”
Desde sua posse, carros que estavam parados lá há tempos começaram a ser depredados quase que livremente por cracudos, que invadem o local e levam os automóveis, pedaço por pedaço, para vender a algum dos vários ferros velhos ilegais que funcionam na região nas barbas das autoridades. Além de ter se transformado na alegria dos cracudos, os carros – transformados em sucata nos útimos meses – acumulam água parada, ratos, mosquitos e baratas. Também há no local muito lixo, fezes, sacos plásticos e recipientes velhos juntando água que serve de criadouro para mosquitos da dengue (fotos). A situação se prolonga há mais de um ano e nada nunca é feito. Enquanto isso, automóveis – que provavelmente são bens públicos, ou, pior, alugados de terceiros pela LOTERJ – se transformam em sucata.
“Não consigo mais trabalhar sem passar repelente por causa deste estacionamento“, disse Neusa Lins, comerciária que trabalha numa loja na rua da Conceição, ali perto. Ela pontua que o fedor de urina de cracudos às vezes incomoda quem passa no Largo de São Francisco. Outro comerciante que preferiu não se identificar, diz que os carros estavam em bom estado até que os cracudos começaram a depredá-los, mas explica que o Presidente da Loterj e seu Motorista são figuras conhecidas na região, e estacionam lá sempre, mas longe das sucatas. “O motorista chega de carro também”, conta. “Tenho que correr atrás das ratazanas que saem do meio dos carros com o rodo da loja“, diz. Enquanto isso, os automóveis
Em tempos de projetos de revitalização da região, o entorno da Igreja de São Francisco de Paula começa a se organizar. Recentemente a Santa Casa da Misericórdia recebeu a posse do belo imóvel onde funcionou por muitos anos a histórica papelaria Casa Cruz, logo ali em frente. O imenso lojão, de 3 andares, está para alugar, após muitos anos de abandono e até de invasões criminosas. A Igreja do Largo é muito freqüentada por turistas e por fiéis, principalmente nas sempre lotadas Missas Tridentinas que celebram-se ali todas as quartas-feiras. Também é polo de amantes da cultura, como no lotado concerto promovido recentemente com apoio da Sergio Castro Imóveis, que juntou quase 1.000 pessoas apaixonadas por músicas clássicas religiosas.
A recente e aplaudida decisão do Prefeito Eduardo Paes de finalmente livrar a região da Uruguaiana da camelotagem ilegal que vem degradando e criando uma crescente sensação de insegurança também deve gerar grande movimento. “Mas ícones da bagunça como a transformação desta ruela histórica em depósito de sucata e vetor de pragas devem também ser combatidos“, dispara Valdemar Barboza, administrador do Shopping Center Paço do Ouvidor, que fica ali próximo.
Esse é o resultado da política nacional de troca de favores que na maioria das vezes indica pessoa incompetente e sem compromisso com a gestão pública como é o caso agora
Há muito frequento o Centro pelo trabalho e o Largo de São Francisco hoje nem pode ser sombra do que já foi. Lojas com ênfase em papelarias, livrarias, moda e antiguidades, sempre com público, os pontos de ônibus que funcionaram muito bem a população apesar da crítica de que enfeiam e atraem comercio irregular. O IFSC da UFRJ e o Gabinete Real davam o toque cultural e a Igreja imponente…Essa passagem já foi muito útil com pequenas lojinhas inclusive… As obras de alteração de fluxo de transito, retirada de transporte coletivo e eventuais “melhorias” expulsaram usuários e clientes. Hoje, o Largo, 7 de setembro e Pça.Tiradentes sofre com lojas e prédios fechadas, pouco movimento, uma favela vertical. Sujeira de toda sorte espalhada pelos cantos potencializada pelos ocupantes que vivem da rua. O fedor de rejeitos humanos, comida estragada e expelida ao chão é nauseante. E não é só lá mas no Centro como um todo tem áreas hoje insalubres e com risco de toda sorte ao ser humano. Uma pena, mas isso tem método.