O Triduum Paschale compreende os três dias transcorridos desde a Quinta-Feira Santa, quando ocorre a instituição da Eucaristia e a cerimônia do lava-pés. Em seguida, na Sexta-Feira Santa, sem a celebração da Eucaristia, há a contemplação do Cristo Crucificado, que precede a saída da procissão do Senhor Morto, posteriormente exposto para reverência dos fiéis. No Sábado Santo, a Assembleia reflete sobre a crucificação de Cristo, antes da noite da Vigília Pascal, quando a Igreja celebra a vitória sobre a morte, na manhã da Ressureição, no Domingo de Páscoa. As mantas roxas são retiradas das imagens, permitindo a iluminação radiosa do significado da data católica.
Apesar das muitas mudanças sociais que diminuem a participação dos fiéis e a própria valorização do sentido principal da data, muitas igrejas do Rio de Janeiro incentivam a participação dos paroquianos nos rituais que celebram evento de tal magnitude, desde a procissão realizada no Domingo de Ramos.
Na Semana Santa, pequenos grupos ainda percorrem as ruas, detendo-se diante de alguns lares escolhidos para realização de leituras referentes às Estações. Posteriormente, há a celebração da Paixão antes da procissão do Senhor Morto, que precede encenações do Auto da Paixão de Cristo, realizados em alguns templos.
A cidade do Rio de Janeiro abriga uma igreja singular, diretamente associada às celebrações da Semana Santa. Trata-se da Matriz do Santo Sepulcro, localizada à rua do Sanatório, n. 310, no bairro de Madureira. O edifício é um bem tombado municipal desde 15 de abril de 1996, considerando sua importância histórica, artística e, em especial, marco na paisagens dos bairros de Madureira e Cascadura, conforme expresso no decreto de proteção.
Segundo informações da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, a igreja foi fundada em 1914, substituindo uma capela mortuária que recebia as vítimas fatais da tuberculose, originários do sanatório localizado junto à linha férrea, a menos de um quilômetro, depois transformado em unidade da Santa Casa da Misericórdia.
Os frades responsáveis pela sua fundação eram holandeses, da Ordem de São Francisco, que se estabeleciam em lugares diversos pelo mundo em sua missão de evangelização. O Rio de Janeiro, capital de uma república recentemente instalada, se apresentava como um terreno fértil para propagação da fé cristã, principalmente num momento em que a constituição republicana separava a Igreja do Estado.
Contando com o financiamento oriundo da Matriz da Ordem, na Holanda, os franciscanos conseguiram abrir a igreja à população. Além disso, instalaram o Comissariado da Terra Santa, responsável pela arrecadação de fundos para a manutenção do Santo Sepulcro, em Jerusalém, com a presença dos seus confrades.
Devido ao trabalho desenvolvido junto à comunidade e assistência aos desvalidos, a igreja foi ampliada, tornando-se paróquia em 1945, localizando-se no alto de uma ladeira, um marco para a vizinhança como ocorre com diversos edifícios afins pelo mundo.
Trata-se de um singular exemplar de arquitetura religiosa, que adota o ecletismo para sua fachada, inspirado na arquitetura medieval com sua torre única, central, arrematada por quatro bastiões, à feição de edificações militares. A rosácea, destacada sobre a portada, complementa a associação.
A tradição popular, incorporada como verdadeira, afirma que o edifício é uma réplica, em escala natural, do templo erguido sobre a sepultura do Cristo, em Jerusalém. Uma simples observação dos dois exemplares contraria a curiosa afirmativa, pois aquele edifício recebeu diversas modificações ao longo dos séculos e se encontra no interior de um conjunto monumental que constitui a Basílica.
Existem algumas semelhanças na volumetria e nos detalhes interiores, a destacar a exuberância presente em todo o edifício original que procura, parcialmente, ser reproduzido na igreja carioca. Seu interior, que pode abrigar cerca de 400 fiéis, apresenta painéis policrômicos com cenas sacras distribuídos por toda a nave do templo, destacando-se a capela-mor.
A população católica da vizinhança e até mesmo de outras paróquias, frequenta assiduamente suas atividades religiosas, participando de casamentos, batizados, crismas, devido à sua atrativa arquitetura e, principalmente, pelo simbolismo de sua devoção.
Em 1987, após a fundação da Casa do Irmão Sol, abrigando meninos em situação de rua, houve um incidente grave envolvendo um frei que foi ferido quando tentava resgatar um menor numa favela próxima. Em 2000, os franciscanos afastaram-se para outras regiões do país e houve do apoio europeu aos programas de assistência social. Com apoio da Ordem Franciscana com sede em Campinas, São Paulo, retornaram em 2001, O antigo abrigo foi transformado na sede dessa ordem no Rio, acolhendo população em situação de vulnerabilidade.
Aquela pequena ermida construída para receber desvalidos no final do século XIX, foi reformada, ampliada, recebendo policrômicos painéis em seu interior e tornou-se a única paróquia da Arquidiocese do Rio de Janeiro dedicada ao Santo Sepulcro que merecer nosso destaque especial no limiar de mais uma Semana Santa.