A grávida Queli Santos Adorno, de 35 anos, teve o deu bebê no chão do setor de admissão da Maternidade Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, na madrugada do último domingo (24). Apesar de ter chegado com antecedência para o parto, ela teve a internação negada por uma médica plantonista. O parto dramático foi registrado em vídeo pelos familiares da parturiente. Segundo o jornal O Globo, a profissional teria sido demitida e uma sindicância aberta.
De acordo com Luciano Adorno, irmão da grávida, outra médica que havia atendido Queli, na noite de sexta-feira (22), disse que ela não poderia sair da maternidade, pois o bebê Azafe poderia nascer a qualquer momento. A grávida relatou a recomendação à segunda profissional que negou a internação.
“Minha irmã falava o tempo todo: ‘Eu avisei para ela. Eu avisei para ela’. Só que essa médica não acreditou na minha irmã. Ainda ficou com cara de deboche. Assim que ela saiu de perto da minha irmã, depois de falar esse lance da contração de treinamento, a Queli começou a ter filho”, disse o irmão, conforme reportou o jornal O DIA.
Luciano contou que a profissional que atendeu a sua irmã, na sexta-feira, disse que, por Queli já ter tido outras três crianças, o quarto parto poderia evoluir rapidamente.
“Essa primeira médica entendeu a situação dela, disse para ela ficar, falou que por ela já ser mãe de outros três, ela poderia evoluir muito rápido para dar à luz”, relatou Adorno.
Na madrugada de sábado (23), com o início de outro plantão, a médica, Sheila Peixoto Atthie Maia fez uma nova leitura do quadro clínico e disse que a grávida não precisaria ficar internada. A médica, segundo familiares da gestante, teria entregue um documento escrito à mão e carimbado com o seu nome, mandando a grávida para casa. No documento, a médica ainda registrou a recusa de Queli em sair na unidade.
Outra irmã de Queli, Carine Adorno, disse que a profissional minimizou a situação em tom de deboche.
“Ela disse várias vezes que minha irmã só estava tendo contrações de treinamento e que ela não deveria estar lá. Minha irmã conhece o corpo dela, já era mãe de quatro, como que ela não sabia o que estava acontecendo? É muito revoltante tudo isso”, contou a Carine, que ficou com parturiente nos últimos dias.
Os familiares da gestante pretendem entrar na Justiça contra a maternidade por negligência médica.
De acordo com o jornal o Globo, os irmãos de Queli, que ainda está internada com pressão alta, teriam tentado registrar o caso na delegacia, mas os policiais teriam se negado a fazê-lo. Ainda assim, os familiares dela contrataram uma advogada para cuidar do caso. A Polícia Civil informou ao veículo que vai apurar porque a ocorrência não foi registrada.
“Isso que fizeram com ela vai ficar para o resto da vida dela. É um trauma que ela nunca vai esquecer. Não só para ela, mas também para a família. Queremos justiça. Queremos que eles resolvam isso daí, que eles paguem pelo que fizeram”, comentou Carine, acrescentando que a sua irmã sequer recebeu apoio de psicológico após a ocorrência, o que só aconteceu nesta quarta-feira. “Ficaram enrolando dizendo que iriam mandar, mas só enviaram depois que o caso foi parar em vocês da imprensa”, disse Carine Adorno.
A Prefeitura de Duque de Caxias divulgou uma nota, na qual prometeu analisar o prontuário da paciente, para verificar as possíveis falhas ocorridas e responsabilizar os profissionais envolvidos. A Prefeitura disse ainda que Queli chegou à maternidade, no sábado, em boas condições, mas o parto teria evoluído rapidamente, ocorrendo no setor de admissão.
“De imediato, a paciente e seu recém-nascido receberam toda a assistência médica necessária. A direção da unidade informa ainda que, no momento, a mãe permanece internada para ajuste de medicação de controle da pressão. O recém-nascido está de alta médica, mas permanece na maternidade acompanhando a mãe”, disse a municipalidade de Caxias, por meio da nota.
A Dra Sheila Peixoto enviou ao DIÁRIO DO RIO a seguinte nota: “à paciente foi dada a orientação de reavaliação a cada duas horas. Durante a consulta, ela comentou que não desejava ir para casa. Para garantir um registro preciso e completo, eu coloquei essa informação na ficha médica dela. Tanto é que, conforme pode ser verificado, na ficha médica consta “nova reavaliação às 6h30”. Portanto, não há como eu tê-la orientado a ir para casa e, ao mesmo tempo, a fazer a reavaliação duas horas após.
De acordo com as diretrizes da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e do Ministério da Saúde do Brasil, mulheres grávidas são internadas quando atingem cerca de 4 a 6 centímetros de dilatação. Quando eu avaliei a paciente ela apresentava 2 centímetros de dilatação. Por isso, a médica que a atendeu antes de mim e eu não indicamos a internação.
Tenho um histórico sólido de prática médica ética e de cuidados junto às minhas pacientes. Sou médica há 32 anos, dos quais 29 foram dedicados à obstetrícia, com mais de 2000 partos realizados. Ao longo de todo esse período, nunca respondi a nenhum processo, o que pode ser confirmado junto ao CREMERJ. Embora eu tenha seguido os protocolos adequados, entendo que isso não diminui a angústia que a paciente enfrentou. Gostaria de expressar minha profunda empatia e solidariedade pela paciente e sua família”, disse .
Com informações dos jornal O DIA e O Globo