Pouco mais de uma semana após as prisões de Domingos e Chiquinho Brazão, acusados de mandar matar a ex-vereadora Marielle Franco, um prédio localizado na Taquara, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, onde atendimentos médicos são realizados de forma gratuita, continua funcionando normalmente. Historicamente, o local é associado a Domingos. Por anos, o nome dele esteve em destaque na fachada do imóvel.
A associação é tão direta que, mesmo depois de alguns anos sem o nome da família estar na frente do prédio, ainda é comum as pessoas falarem que vão “no Brazão”. Os aplicativos de transporte marcam o local como “Serviço Social Domingos Brazão”.
Tela de um aplicativo de transportes. Reprodução
A família Brazão é suspeita de vínculos com as milícias da cidade do Rio. Na região de Jacarepaguá, Chiquinho e Domingos são conhecidos por ações assistencialistas e campanhas políticas com apoios de milicianos. Além de denúncias de invasões de terras e construção de imóveis em comunidades como Rio das Pedras e Muzema, entre outras suspeitas de crimes relacionados às práticas milicianas.
No ano de 2008, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as milícias na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o então vereador Nadinho – um dos fundadores da milícia de Rio das Pedras – disse que Domingos Brazão teria feito campanha com apoio de milicianos na comunidade. O relatório também cita Chiquinho Brazão. Os irmãos são apontados como atores políticos ligados a um grupo miliciano que atuava nos bairros de Campinho e Oswaldo Cruz.
Integrantes da milícia que agia na Muzema e em Rio das Pedras faziam parte do Escritório do Crime. O grupo de matadores tinha Ronnie Lessa (um dos presos por assassinar Marielle e o motorista Anderson Gomes) entre seus membros.
Funcionamento normal
A movimentação na entrada e na parte interna do prédio foi bastante intensa nos dias em que a reportagem do DIÁRIO DO RIO esteve no local. Pacientes de diversas idades chegam na portaria, que fica aberta, e entram para a recepção. Oftalmologistas, ortopedistas, pediatras e outros médicos atendem, realizam consultas, exames e tratamentos no prédio. Tudo gratuitamente. Basta pegar uma senha e esperar.
“Já me trato aqui há bastante tempo. Fiz as consultas e agora faço tratamento para dores que tenho na perna“, conta uma senhora que esteve no prédio na manhã desta terça-feira, 02/04.
O local, refrigerado e silencioso, tem aspecto de uma clínica particular. Funcionários auxiliam, no primeiro andar, as pessoas que chegam em busca de atendimento. Nos outros andares acontecem as consultas, tratamentos e realização de exames com os profissionais da saúde.
Ao lado, nesta mesma recepção, ficam pessoas em cadeiras esperando o atendimento. Na manhã desta terça-feira, 02/04, eram cerca de 10 na fila
“Aqui faz até cirurgia de catarata“, disse uma moça que esperava ser chamada para o atendimento. Outra mulher, ao lado dela, respondeu: “Mas aí tem que dormir na fila porque é muita gente“. A primeira retrucou: “Quem precisa dorme até dois dias“.
Questionada pela reportagem se estava tudo funcionando normalmente no local após a prisão dos irmãos Brazão, uma delas falou “graças a Deus. Tomara que não acabe“.
Funcionários
Entre os trabalhadores que ocupam diversas funções no prédio, inicialmente, logo depois da prisão dos irmãos Brazão, o clima era de preocupação. Temiam perder o emprego. Passados esses dias, ainda há uma incerteza no ar, no entanto, a ideia de que “está tudo funcionando normalmente por enquanto“, vem ganhando força entre eles.
Nomes de empresas na frente do prédio
Na fachada do imóvel, onde já esteve o nome de Domingos Brazão em letras destacadas, atualmente existem as logomarcas de duas empresas: Dimagem e Riolabor. A reportagem tentou contato com ambas, contudo, não conseguiu falar com ninguém responsável que pudesse responder aos questionamentos da imprensa.
Também há, no alto do prédio, uma grande placa amarela na qual está escrito: “Bem aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”.