Peças sacras são devolvidas à Catedral de Belém pela PF do Rio após ação do Iphan

Material tombado e desaparecido foi identificado por dirigente de irmandade carioca, que notificou o IPHAN sobre o leilão. Acionada, a PF apreendeu as peças no escritório de arte Dagmar Saboya. A Prataria da catedral do Pará estava desaparecida desde a década de 1970

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Toucheiras estavam desaparecidas desde a década de 1970 - Divulgação

O acervo da Catedral Metropolitana de Belém teve restituídas, nesta segunda-feira (22), duas grandes peças sacras que pertencem ao patrimônio histórico e cultural brasileiro e que estavam desaparecidas desde a década de 1970. A Polícia Federal e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foram os responsáveis pela devolução das pratarias, após o provedor da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores – na rua do Ouvidor – encontrá-las indo a leilão em Copacabana.

O material tombado foi identificado pelo IPHAN nas mãos do escritório de arte Dagmar Saboya, um dos mais conceituados do país, após ser notado por Claudio André de Castro, provedor da Igreja dos Mercadores junto com peças que pertencem à sua Irmandade e à Ordem Terceira do Carmo, da rua Primeiro de Março. Após a confirmação de que se tratavam de bens tombados, o Instituto determinou a retirada imediata das peças sacras do evento. Para a verificação da procedência, o IPHAN tomou como base uma fotografia da vista interna da Catedral Metropolitana de Belém, que constava na Biblioteca Virtual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que foi encaminhada ao provedor Castro por Flávio Miranda, um amigo paraense ligado também à igreja. A fotografia mostrava os imensos castiçais no meio de outros, igualmente desaparecidos.

Em outubro de 2023, após ser acionada pelo Instituto, a Polícia Federal deu início às investigações sobre a procedência da prataria, que depois de apreendida foi encaminhada para análise pericial, que constatou que as peças eram dois tocheiros fabricados em Lisboa, Portugal, entre 1822 e 1870. Uma fonte do DIÁRIO no Pará disse que nos anos 70 as peças foram retiradas para “restauro” e jamais devolvidas. Segundo fontes do DIÁRIO, as autoridades investigam o espólio de um famoso colecionador de arte e autor de livros sobre o assunto, já falecido, como sendo o possível detentor de parte deste acervo.

Nos tocheiros consta o selo da Catedral de Belém do Pará, escrita, bem grande, na base de ambos: a inscrição em latim SIGILLUM CAPITULI CATHEDRALIS ECCLESIAE MAGNI PARÁ – MATER GRATIAE. Em tradução livre, a inscrição significa: Selo do Cabido da Grande Igreja Catedral, Pará/Senhora da Graça. Na base dos tocheiros também consta gravada a representação de N.S. da Graça, de Belém. Especialistas consideram curioso que a renomada casa de leilões não tenha identificado os imensos selos nas bases dos tocheiros, que tem quase 1 metro de altura.

Com parecer técnico do IPHAN e laudo de perícia criminal federal, os dois tocheiros foram entregues pelo Superintendente Regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Leandro Almada da Costa, e pela Delegada Chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), Paula Mary, ao Diretor Coordenador do Círio de Nazaré, em Belém, Antônio Salame.

As peças sacras foram então recolocadas no altar-mor da Catedral Metropolitana de Belém, que foi confeccionado em Roma, Itália, pelo escultor Luca Carimini, em mármore e alabastro. O mármore de Carrara foi ofertado pelo Papa Pio IX.

Na última quinta-feira (18), o DIÁRIO DO RIO repercutiu vitória semelhante para a arte sacra do Rio de Janeiro, com a restituição de cinco peças ao acervo da capela da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Centro do Rio. Os objetos, que datam do século XIX e são tombados pelo IPHAN, foram localizados em um catálogo de leilão pelo provedor e benfeitor da igreja, que culminou tamném na apreensão das peças, desaparecidas há pelo menos 50 anos.

Os dois tocheiros e três “sacras” – espécie de ‘cola’ das principais orações da antiga Missa Tridentina para o sacerdote ler -, em formato de placas trabalhadas de prata, foram identificadas no mesmo escritório de arte, em Copacabana, na Zona Sul da cidade. As peças, avaliadas em mais de R$ 200 mil, ostentavam o símbolo da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.

“Para a irmandade dos Mercadores, receber de volta essas cinco peças que estavam desaparecidas há mais de 50 anos é um feito significativo. Isso é apenas o começo de um trabalho que deve restituir toda a arte sacra roubada da igreja. Um trabalho que une a Polícia Federal, a Arquidiocese, a nossa Irmandade e os meios de imprensa”, celebrou o Castro.

O conjunto de valor histórico e cultural inestimável voltou a recompor o acervo da igrejinha, com a celebração de missa solene realizada ao meio-dia do último sábado (20). O evento contou com participação de coral e grande orquestra.

“Como responsável pelas celebrações, é profundamente gratificante poder oficiar a Santa Missa diante dessas peças agora restauradas ao seu lugar de direito no altar-mor da igreja”, comemorou o padre Vítor Pereira, Vice-Chanceler da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso e celebrante das missas dos sábados na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.

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1 COMENTÁRIO

  1. Parabenizo a jornalista Patricia Lima pela matéria “Peças sacras são devolvidas à Catedral de Belém pela PF do Rio após ação do Iphan”, mas gostaria de saber: foi perguntado quem deixou as peças no leilão? Porque o leiloeiro dá uma “nova” certidão de nascimento a peças. Mas quem as tirou da sua origem? Para quem vendeu e com quem estava desde a década de 1970? Sem essa ponta, não se desbarata quadrilhas. Obrigada

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