Polêmica envolve demolição de prédio histórico na Rua da Assembleia

O sobrado eclético da Rua da Assembleia, nº 13, não é tombado e a sua demolição foi autorizada pela prefeitura

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Sobrado na Rua da Assembleia será demolido - SOS Patrimônio

O centenário sobrado eclético, construído no século XX, localizado na Rua da Assembleia, n° 13, nas proximidades do Palácio Tiradentes, no Centro do Rio, será demolido pela Prefeitura, segundo a Veja Rio e o perfil Rio Antigo, do advogado e memorialista, Daniel Sampaio.

O imóvel, de quatro andares, segundo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão subordinado à Prefeitura do Rio de Janeiro, não estaria localizado nos limites da Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC), Corredor Cultural, e não seria alvo de qualquer tipo de proteção por parte do poder público.

Além disso, segundo o IRPH, o imóvel estaria localizado em um perímetro da Rua da Assembleia que sofreu muitas modificações. Sob tal contexto, segundo a Prefeitura, o representante da Belle Époque carioca seria passível de demolição, protegida pela legislação atualmente vigente.

Sendo assim, a demolição do imóvel foi autorizada pelo Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro e pelo IPHAN, os quais avaliaram que a derrubada “não interfere na ambiência da área consolidada dos bens tombados na área”.

Especialistas, no entanto, apontam que, embora o imóvel não seja tombado, preservado ou não conte com nenhuma forma de proteção, está localizado no entorno do conjunto tombado da Praça XV, o que poderia embasar uma negativa do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para a sua demolição. Negativa que não aconteceu.

A Prefeitura destaca, no entanto, que tem trabalhado para a revitalização de prédios icônicos no Centro do Rio, através de projetos de incentivo à construção de unidades habitacionais, cervejarias e espaços culturais, de forma a preservar o patrimônio cultural carioca, inclusive em outras regiões da cidade.

Em um artigo publicado na Veja Rio, a advogado Daniel Sampaio lamentou a demolição do imóvel, de propriedade de um investidor austríaco. A casa abrigou por décadas o antológico “Galeto 13” e depois o restaurante Cosmopolitan.

“Que interessante explicação para justificar uma tragédia injustificável. Mais uma ofensa à nossa alma carioca, à nossa memória. Mais um apagamento. Menos um sobrado que fez parte da minha vida. Mais um prédio espelhado horrendo será erguido às custas do nosso coração. O apagamento dos lugares onde estão a nossa memória afetiva e de tantas gerações é um projeto”, afirmou Sampaio, que pediu a Tammo Nikolas que refizesse o projeto de revitalização de forma que o sobrado não fosse demolido.

Para Marconi Andrade, do SOS Patrimônio, a derrubada do sobrado centenário é inaceitável. Ele ressalta que turistas do mundo inteiro visitam países, como França e Inglaterra, para conhecerem o patrimônio histórico local. O Rio de Janeiro, segundo Marconi, estaria no caminho inverso dessa tendência.

“Nós, que lutamos pelo património histórico da cidade, ficamos muito tristes com mais um prédio sendo demolido. Ainda mais uma edificação que tem uma arquitetura tão bonita – eclética. Mas existe, por parte dos órgãos de proteção, um preconceito contra o ecletismo. Algo que já vem de algum tempo. Com isso, nós estamos perdendo as nossa referências. Um prédio de 100 anos será demolido, Estamos vendo isso com frequência na cidade. Vemos na Europa um movimento ao oposto ao nosso. E não temos movimentos que impeçam a destruição da nossa história. Um dos exemplos foi o Palácio Monroe, demolido desnecessariamente. Os turistas vão a países, como França e Inglaterra, para conhecerem os patrimônio histórico e arquitetônico locais, que, na realidade, constituem a riqueza de uma nação”.

Seguidores do perfil Rio Antigo ficaram indignados com a derrubada do imóvel.

Uma internauta ironizou: “Engraçado que na Europa prédio antigo é turismo, é tendência, é chique. Aqui é tratado dessa maneira. Um estado sem visão que não percebe o potencial turístico de um centro histórico bem preservado”.

Outro seguidor do perfil questionou o papel do IPHAN no que diz respeito à gestão dos prédios antigos: “Absurdo o IPHAN não ter gestão sobre os prédios antigos e, sim, sobre áreas. Eu sei que o crescimento da cidade deve existir, mas a memória é o que dá a personalidade a ela. Enfim, vamos virando uma cidade sem desenho e sem história”.

O arquiteto Hugo Damasceno, também seguidor do Rio Antigo, observou: “A preservação de nossos bens culturais é importante, e como melhor fazê-lo pode ser controverso. Os proprietários de bens imóveis tombados na cidade do Rio de Janeiro podem, em muitos casos, se beneficiar da Transmissão do Direito de Construir mas para que isso aconteça o tombamento é pré-requisito. Os profissionais da área, no Rio, poderiam fazer os cálculos de créditos possíveis e conversar com o proprietário e a prefeitura. É uma sugestão prática para tentar sustar a demolição”.

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11 COMENTÁRIOS

  1. Não bastasse o que o tal do Modernismo equivocado fez com a cidade do Rio de Janeiro: agora estão acabando com o pouco que ficou para contar a história dos nossos antepassados. Mas o dito Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro não está nem aí!. O que manda são interesse$ e esquema$!.
    Botafogo está sendo botado no chão:palacetes e casas lindas (c/ grande valor artístico e histórico) estão sendo destruídos sem nenhum critério: um palacete lindo com janelas e portas em madeiras nobres talhadas no estilo art nouveau, um dos últimos exemplares do estilo no Rio, foi demolido na General Polidoro para dar lugar à uma clínica médica (no estilo caixote horroroso, um lixo!). Busquei contato da empresa que fez a demolição, na tentativa de comprar janelas e portas para preservar pelo menos uma parte do belo palacete: aí me disseram que alguém de MG (tal como os leões do Moroe, em 1976) já havia comprado tudo (18 janelas 14 portas lindas com fechaduras, trancas e detalhes em bronze dourado, além de 2 vitrais grandes e 2 pequenos: todos no estilo art nouveau) por 20 mil reais. Uma tristeza!.
    Até hoje fico triste e revoltado com o que fizeram com aquele palacete de 1927. E assim o Rio de Janeiro vai perdendo sua memória e sua vida, passada e presente!.

  2. E assim, aos poucos, nosso patrimônio artístico e histórico vai desaparecendo. Várias vezes já parei em frente a esse prédio para contemplar sua beleza. Ano passado, caminhando pela rua Riachuelo, me surpreendi com a derrubada da casa de 3 andares onde residia a matriarca da música brasileira Chiquinha Gonzaga. Hoje no local temos um caixote de concreto que ninguém quer alugar. É lamentável que o nosso prefeito esteja de acordo com esse tipo de crime.

  3. É uma propriedade privada.
    Não posso criticar alguém por fazer uso do que é seu pelo que melhor lhe convém. Seria muito autoritário de minha parte, mas muitos não estão prontos pra esse tipo de conversa.

  4. Concordo com o Alberto Ferreira. A arquitetura, pricipalmente de épocas específicas como La Belle Époque Carioca, é parte da história e desenvolvimento cultural da cidade. A perda de monumentos deste tipo podem pareder inofensivos, mas as perdas, aos poucos, tornam o ambiente mais pobre. Este edifício, assim como outros, são parte da história da cidade do Rio de Janeiro. Outros monumentos já foram derrubados e vai-se aos poucos perdendo a identidade do que fez o Rio ser o Rio de Janeiro. Eu gostaria que a prefeitura focasse em outros prédios, mais recentes e realmente sem valor artístico/arquitetônico/cultural/histórico. Existe muitos abandonados deste tipo que comentei e que podem ser utilizados para os fins que se procura. Ainda, esse edificações história podem ser parte de departamentos da prefeitura ou algima outra empresa com os devidos incentivos. Eu tenho o fiel desejo de que vejamos essas edificações para além de tijolos que podem ser substituídos. Esses materiais até podem, mas tudo aquilo que eles representam, uma vez pedido perde-se também um pouco de cada um de nós.

  5. Quanto ao surradíssimo e ofensivo argumento de que “quem quer preservar que arque com os custos de manutenção”: ninguém é obrigado a comprar ou permanecer com a propriedade de um imóvel histórico.
    O que não impede que em lugares com um nível básico de civilização se tenha sucesso na preservação do patrimônio histórico e da paisagem urbana.
    Não faltam exemplos de sucesso onde há o mínimo de civilização e não necessariamente dinheiro jorrando,
    como Hungria e Polônia.

  6. Não é necessário que um edifício tenha alguma importância histórica especifica para que mereça proteção do poder público.
    Se ele ajuda a compor a paisagem, a identidade e ajuda a contar história local, e o suficiente. Mais um prédio de arquitetura medonha não nos torna só mais pobres culturalmente. Tornar a cidade ainda mais destrói valor econômico inclusive do resto da vizinhança.
    Quem tem propriedade tem responsabilidade para com a coletividade.
    O ridículo é ainda ter que se repetir algo que seria óbvio num lugar com o mínimo de arremedo de civilização.
    Corrupção é barbárie.

  7. Tem algum valor por fato histórico que tenha abrigado ?
    Se não pode derrubar, quem se dispõe a custear a manutenção e os ganhos que o proprietário pode ter ?
    A prática corriqueira para imóveis particulares tombados pelo poder público é deixar desabar, daí sobra o terreno que não tem porque ser mantido sob tombamento. Mas quem acha que mesmo o que não tem valor por fato histórico deve ser preservado, que arque com as despesas de manutençâo. Os cinemas de rua acabaram porque não havia mais público para mantê-los economicamente e, portanto, fisicamente também. É lamentável? Sim. Alguns foram transformados para novos comércios, outros foram demolidos para dar espaço a novo empreendimento.

  8. Se o Estado não interfere, vem um monte de gente reclamando que é omisso e incompetente. Se interfere, vem um monte de gente histérica gritando que o Estado é intervencionista, que mete o bedelho na propriedade privada, que é comunista, e todo esse blá, blá, blá irritante.

    A terra foi privatizada há tempos, e esse processo só vem se aprofundando com o passar dos anos. Para que um punhadinho de sanguessugas vagabundos ganhe (muito) dinheiro fácil, é preciso privatizar e transformar tudo em mercadoria negociável. Essa escumalha vagabunda não produz nada, e fica rica dia após dia só negociando pedaços de terra, passando por cima da memória coletiva e até de pessoas.

    Ficar se lamuriando pela destruição de uma bela construção como essa é chororô de gente preguiçosa e cínica. Se não houver uma mudança drástica de mentalidade e principalmente da prática, vai ser um chororô por semana. Apoiar e votar na direita, pactuar com a santificação da propriedade privada, adorar dinheiro e aumento de riqueza material e tudo mais que se refere a esse capitalismo criminoso, é fornecer oxigênio para manutenção desse sistema horroroso, que passa por cima de tudo em nome do lucro indecente de pouquíssimos. A culpa é de quem concorda e gosta disso, ou seja, da maioria da população. Temos a sociedade que merecemos.

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