Qual O Impacto das Condições Climáticas na Produção e no Preço do Cacau no Brasil?

No Brasil e no mundo, alterações no ciclo de chuvas e o aumento da temperatura global diminuem a produtividade da lavoura e propiciam o surgimento de pragas. Para quem é investidor, conhecer essa dinâmica é fundamental para fazer as melhores negociações neste mercado.

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Foto de Elle inlom na Unsplash

Provavelmente você já deve ter reparado no elevado aumento do preço do chocolate nos últimos anos. Uma das explicações desse fenômeno é o déficit global da produção de cacau, matéria-prima do chocolate, que vem sendo bastante impactado pelas mudanças climáticas.

No Brasil e no mundo, alterações no ciclo de chuvas e o aumento da temperatura global diminuem a produtividade da lavoura e propiciam o surgimento de pragas. Para quem é investidor, conhecer essa dinâmica é fundamental para fazer as melhores negociações neste mercado.

Como as condições climáticas afetam a produção do cacau

A produção de cacau tem enorme dependência das condições climáticas. Isso porque a planta de cacau requer uma combinação específica de temperatura, umidade e luz solar para crescer de maneira eficaz. No entanto, as mudanças climáticas estão alterando os padrões normais de ambiente, o que impacta significativamente a produção do fruto.

O cacau é cultivado tradicionalmente em regiões de clima tropical úmido, como o sul da Bahia. Essas áreas são caracterizadas por temperaturas elevadas e bastante incidência de chuvas, condições ideais para o crescimento do cacaueiro.

O desenvolvimento pleno da planta requer temperaturas em torno de 25° C a 30° C e índices pluviométricos entre 100mm e 130mm por mês. Além disso, a umidade relativa do ar deve girar entre 65% a 85%.

Entretanto, nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado períodos de seca mais intensos e prolongados, seguidos por chuvas excessivas em curtos períodos, afetando diretamente a produção de cacau. Durante os períodos de seca, a planta sofre estresse hídrico, o que reduz sua capacidade de florescer e, consequentemente, diminui a produção de frutos.

Por outro lado, chuvas excessivas em curtos períodos podem causar o encharcamento do solo, favorecendo o desenvolvimento de fungos e outras doenças que atacam as plantações, como a vassoura-de-bruxa, uma das maiores pragas do cacau.

Além disso, o aumento das temperaturas médias também impacta na produção de cacau, visto que temperaturas elevadas diminuem a produtividade e pioram a qualidade do fruto. O ano de 2023, segundo levantamento Organização Meteorológica Mundial (OMM), foi o mais quente da história do planeta, prejudicando o cacau e outras lavouras.

O impacto nos preços

A inconstância climática do planeta afeta diretamente o preço do cacau. Afinal, as adversidades ambientais ocasionam a diminuição da colheita do fruto e aumento no custo de produção (necessidade de irrigação em períodos de seca, por exemplo), elevando os preços pela lei da oferta e demanda.

Conforme o monitoramento de preços de commodities da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o preço do cacau aumentou 136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024, ou seja, mais que dobrou em cerca de 1 ano e meio.

O impacto foi totalmente sentido no bolso dos brasileiros, que viram o custo do chocolate ter um grande aumento nesse período. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FVG), o preço do chocolate ficou 12% mais caro em 2023, índice muito acima da inflação dos alimentos no mesmo ano, que fechou em 1,03% no IPCA.

O aumento do preço da commodity não se deve apenas aos impactos das mudanças climáticas do Brasil, mas também de outros países produtores, como Gana e Costa do Marfim. Os dois países somados são responsáveis por mais da metade da produção de cacau no mundo, mas tiveram enorme déficit na colheita em 2023 por conta de pragas e do excesso de chuva.

Além das mudanças climáticas há outros fatores que explicam a variação no preço da commodity. Outro ponto a se considerar é o aumento crescente da demanda por cacau, que cresce ano a ano pela própria dinâmica da economia global.

Como toda commodity, o preço do cacau também é totalmente impactado pela variação do dólar americano. A valorização da moeda ao longo desse ano é ótima para os exportadores do produto no Brasil, no entanto, pesa no bolso do consumidor que consome chocolate importado.

Perspectivas para o futuro

Após o pico histórico do preço do cacau, em abril deste ano, o crescimento vertiginoso da commodity, que chegou a atingir os 12.000 dólares por tonelada, se interrompeu. O preço passou por oscilações agressivas desde então, variando entre 7.000 e 11.000 no espaço da apenas 1 mês. Desde julho, o preço permanece lateralizado na faixa entre os 8.000 e 9.000 dólares.

A perspectiva é que o mercado global se recupere da última safra, no entanto, não há muita confiança se o setor será resiliente às mudanças climáticas no médio e longo prazo para atender o aumento da demanda pelos derivados do cacau.

Novas áreas de cultivo da planta e as melhoras tecnológicas nos métodos produção podem estabilizar o preço, mas é muito importante que o investidor tenha cautela e se mantenha informado para tomar as melhores decisões de trading.

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