“Um ‘sim’ de uma família que não me conhecia me deu a oportunidade de viver.” Com essas palavras, a pedagoga Caroline Alves resume o impacto do transplante de fígado que salvou sua vida. Nesta sexta-feira (27), Dia Nacional da Doação de Órgãos, o governo do estado do Rio de Janeiro comemora o aumento de captações na rede hospitalar estadual, trazendo esperança para aqueles que aguardam por um transplante, como foi o caso de Caroline.
Dados da Central de Transplantes do RJ, divulgados pelo Registro Brasileiro de Transplantes, indicam que, de janeiro a junho de 2024, o estado atingiu uma média de 27 doadores por milhão de habitantes (pmp), número superior à média nacional de 19,9 pmp. Entre 2023 e 2024, a taxa de recusa familiar para doação de órgãos diminuiu 15% no estado, colocando o Rio de Janeiro na terceira posição no Brasil.
“A redução significativa da taxa de recusa familiar e o aumento no número de transplantes realizados no estado são frutos de um trabalho sensível e da grande capacitação dos profissionais. Cada transplante envolve muitas histórias de vida, com a generosidade do ato de doar das famílias enlutadas e a renovação para quem recebe o órgão,” declarou o governador Cláudio Castro.
No primeiro semestre deste ano, a taxa de recusa familiar para doação de órgãos no estado foi de 32%. Nos últimos cinco anos, essa taxa caiu 15%, refletindo um crescimento na valorização do gesto de doar por parte das famílias.
Caroline Alves, que hoje preside a Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), sobreviveu à insuficiência hepática fulminante, doença muitas vezes causada por medicamentos ou vírus. Após sentir sintomas de má digestão e notar a pele amarelada, Caroline rapidamente entrou em coma e foi submetida a um transplante de fígado de urgência. Ela recebeu a nova chance de viver graças à generosidade de uma família enlutada.
“Quando acordei do coma, dois dias depois de dar entrada no hospital, me deparei com uma nova vida. Recebi um ‘sim’ de uma família que não me conhecia. Enquanto eles choravam pela perda de um ente querido, eu recuperava minha vida. Sou extremamente grata,” conta Caroline.
Aumento de 25% nos transplantes
O programa RJ Transplantes, da Secretaria de Estado de Saúde, registrou a realização de 486 transplantes de órgãos e tecidos no primeiro semestre de 2024, um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando 390 procedimentos foram realizados.
Além do aumento no número de transplantados, a quantidade de doadores também subiu de forma significativa. No primeiro semestre deste ano, foram efetivadas 217 doações de órgãos, um aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2023, quando 188 doações foram feitas. Os órgãos mais captados foram: rim (293), fígado (151) e coração (19).
Para as famílias dos doadores, o gesto de doação traz algum conforto em meio à dor da perda.
“Estávamos nos despedindo da sétima pessoa da nossa família, mas naquele momento, nossos corações estavam em paz por saber que meu neto, tão jovem, ajudou a salvar mais de 50 vidas. Somos gratos a Deus por termos tido a possibilidade de ajudar a salvar outras vidas,” relata Valéria de Assis Corrêa, avó de Guilherme Lima Corrêa, de 14 anos, que faleceu em um acidente de trânsito em Magé. No Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), foram captados os pulmões, coração, rins, pâncreas, pele, ossos e córneas do adolescente.
O coordenador do RJ Transplantes, Alexandre Cauduro, atribui o sucesso do programa ao preparo das equipes médicas e à gestão da Secretaria de Saúde. Ele destaca o amplo treinamento das 106 Comissões Intra-Hospitalares para Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT), que são responsáveis por abordar as famílias de maneira profissional e humanizada.
“Os cursos são importantes, mas o olhar da secretaria mudou ao longo dos anos. Hoje, os membros da comissão CIHDOTT são profissionais dedicados exclusivamente à doação de órgãos,” explica Cauduro.
Cursos profissionalizantes e especialização
Em 2024, a Secretaria de Estado de Saúde promoveu a capacitação de 803 profissionais, oferecendo 16 cursos presenciais e 9 cursos remotos. Esses cursos cobrem temas como a doação de órgãos, diagnóstico de morte encefálica, acolhimento das famílias e técnicas de comunicação com familiares enlutados.
“O acolhimento às famílias do doador começa antes mesmo de ser decretada a morte encefálica irreversível do paciente. Os profissionais especializados acompanham a evolução do quadro grave e buscam criar um relacionamento acolhedor, tirando dúvidas e oferecendo apoio,” explicou Cauduro.
Programação especial para a Semana Nacional da Doação de Órgãos
Como parte das comemorações do Setembro Verde, o Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), em Niterói, está promovendo até esta sexta-feira (27) a Semana do Doador de Órgãos. O evento visa conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos. No primeiro semestre deste ano, o Heal realizou 47 captações, beneficiando cerca de 200 pessoas. Esse número representa um aumento de 100% em comparação ao mesmo período do ano anterior, quando foram realizadas 28 captações.
O Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, organizou uma exposição fotográfica para marcar a data e reuniu famílias de doadores para plantar 200 mudas de jasmim no Jardim do Doador de Órgãos da unidade. A fachada do Centro de Trauma também recebeu iluminação especial na cor da campanha.