No dia 28 de setembro, durante uma de minhas caminhadas por Paris, onde estou a passeio, me deparei com uma placa que me surpreendeu e trouxe à tona memórias e histórias que conectam Brasil e França de maneira única. Localizada no número 114 da famosa avenida Champs-Élysées, a placa homenageia ninguém menos que Alberto Santos-Dumont.
Flanar sem rumo pelas cidades que visito é, para mim, uma maneira de absorver a essência local, compreendendo plenamente a vida, os costumes, a arquitetura e o comportamento das pessoas. E, naquela manhã, ao me deparar com essa homenagem ao célebre brasileiro, que, como eu, era apaixonado pela capital francesa, senti a história ganhar vida em meio às ruas de Paris. A placa, situada em frente ao prédio onde Santos-Dumont morou, traz a seguinte inscrição:
“ALBERTO SANTOS-DUMONT
(1873 – 1932)
Brasileiro
Inventor – Construtor – Piloto
Pioneiro da Aeronáutica
Morou neste prédio em frente ao qual, em 1903, pousou seu dirigível n° 9.”
Essa simples homenagem em plena Champs-Élysées marca o ponto onde, no início do século XX, o inventor brasileiro realizou uma de suas maiores façanhas: pousar seu dirigível em frente à sua residência, algo inimaginável para a época. Santos-Dumont, pioneiro da aviação e uma figura emblemática tanto no Brasil quanto na França, sempre foi admirado por sua audácia e inovação. Seu nome se tornou sinônimo de conquistas aeronáuticas, e seu legado vive em Paris, imortalizado nas ruas e nas memórias.
Alberto Santos-Dumont nasceu em 20 de julho de 1873, em Palmira, Minas Gerais, no Brasil, e foi criado em um ambiente cercado por maquinarias, devido ao sucesso de sua família no cultivo de café. Desde cedo, ele demonstrou fascínio por máquinas e tecnologia, algo que seria decisivo em sua carreira. Em 1892, mudou-se para Paris, onde se tornou um pioneiro na aviação e no balonismo.
Paris foi o cenário de suas maiores conquistas aeronáuticas. Em 1901, Santos-Dumont ganhou fama mundial ao contornar a Torre Eiffel com seu dirigível e vencer o Prêmio Deutsch, consolidando-se como um herói internacional. Suas invenções, como o dirigível Número 3 e, mais tarde, o 14-bis, marcaram o início da navegação aérea controlada. Em 1906, ele realizou o primeiro voo público de um avião mais pesado que o ar, tornando-se um dos principais nomes da história da aviação.
Conhecido na França pelo carinhoso apelido de Le Petit Santôs, o pequeno Santôs, Santos-Dumont foi a primeira celebridade brasileira a alcançar fama global, especialmente em Paris, onde seu talento e inovações aeronáuticas fascinavam a todos. Sua trajetória ajudou a mudar a percepção que os franceses tinham dos brasileiros, associando o Brasil ao progresso e à modernidade. Ele representava, para muitos, o espírito inovador e destemido que desafiava os limites do possível.
A vida de Santos-Dumont foi cheia de curiosidades e desafios. Por exemplo, ele organizou a primeira corrida de triciclos em Paris, demonstrando seu fascínio não apenas pela aviação, mas por todos os tipos de máquinas modernas. Além disso, a construção de seu dirigível Número 1, que falhou na primeira tentativa, serviu como um marco em seu processo de aprendizado e aperfeiçoamento tecnológico, abrindo caminho para os sucessos futuros.
Um fato interessante sobre Santos-Dumont é a evolução de sua assinatura. Inicialmente, ele assinava seu nome com um hífen, Santos-Dumont, unindo suas origens brasileiras e francesas. Mais tarde, ele substituiu o hífen pelo sinal de igual, Santos=Dumont, como forma de expressar sua convicção de que o Brasil e a França estavam em pé de igualdade. Esse detalhe, aparentemente simples, reflete a profundidade de seu pensamento e a importância que ele atribuía às suas origens e ao reconhecimento internacional.
Santos-Dumont permanece uma figura icônica, celebrada tanto nas ruas de Paris quanto no imaginário brasileiro, e a placa que encontrei na Champs-Élysées é um lembrete eloquente de sua duradoura influência, tanto no campo da aviação quanto na maneira como o Brasil é visto internacionalmente.