Favelas do Rio viram esconderijo para bandidos de outros estados

Maior parte das comunidades que abrigam os bandidos são dominadas por facções criminosas. Os bandidos, muitas vezes, conduzem suas atividades do território fluminense, dividindo os lucros com os traficantes locais

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Agentes da Polícia Militar do Rio de Janeiro em Guarda / Divulgação

As favelas da região Metropolitana do Rio de Janeiro estão servindo como refúgio para bandidos provenientes de outras Unidades da Federação, segundo um levantamento realizado pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). Entre janeiro e 15 de outubro deste ano, a corporação já prendeu 140 criminosos foragidos de 19 Estados. Todos com prisões decretadas pela Justiça de seus locais de origem, por crimes como homicídio, roubo e tráfico, sendo a maioria deles deles integrante de alguma facção criminosa.

Com 36, 29 e 11 fugitivos, respectivamente, Minas Gerais, São Paulo e Paraíba lideraram as estatísticas de bandidos recapturados pela polícia fluminense. Outros 18 criminosos detidos e listados pela PM não informaram os seus locais de origem. Entre os bandidos presos, segundo a corporação, há alguns não pertencentes a facções criminosas e outros que eram procurados por não pagarem pensão alimentícia.

Segundo o subsecretário operacional da PM, o coronel Ranulfo Brandão, a maioria dos bandidos estava escondida em favelas dominadas pelo Comando Vermelho (CV) ou pelo Terceiro Comando Puro (TCP). Outras facções criminosas ou milícias não foram citadas na lista da PMERJ, assim como suspeitos presos pela Polícia Civil.

“A maioria veio de Minas Gerais, de São Paulo, e de alguns estados do Nordeste. Os foragidos são mais encontrados, normalmente, em comunidades, principalmente nos complexos de Israel (Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Cidade Alta), da Penha e do Alemão, além da Rocinha. É até natural (a preferência dos criminosos pelos locais) pela complexidade para se operar (a polícia atuar) nesses locais. E eles também têm conhecimento disso”, explicou o militar ao jornal O Globo.

Um dos bandidos presos no Rio, suspeito de ter participado de, pelo menos, dez assassinatos, cometidos em disputas entre facções rivais no Ceará, Ismario Wanderson Fernandes da Silva, o Bacurau, de 34 anos, foi encontrado no Complexo da Maré, durante uma operação realizada nos 11 e 12 de junho deste ano. A incursão resultou na morte de dois policiais, em um ônibus incendiado e 24 detidos. Bacurau, que era procurado pelas autoridades cearenses, é apontado como o principal homem do TCP em Itaitinga e no bairro Conjunto Palmeiras, ambos localizados em Fortaleza, na capital do Ceará.

Procurado por tráfico de armas e drogas, além de envolvimento em assaltos a bancos na Bahia, Jeimes Cassiano Lisboa, o Lavezzi, de 26 anos, foi um dos últimos bandidos foragidos e a ser preso pela PMERJ, no dia 10 de outubro, quando foi encontrado com outros três homens e três jovens em um motel, na Avenida Brasil. O grupo já havia escapado de uma operação policial no Complexo de Israel, quando policiais tentavam prender o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, que é um dos principais chefes do TCP. O traficante conseguiu escapar, mas duas mansões usadas pelo criminoso, uma delas com piscina, churrasqueira e sauna, foram identificadas pela Polícia.

As funções desempenhadas pelos criminosos nas favelas onde foram detidos ainda são desconhecidas. Em alguns casos, entretanto, os foragidos usavam os locais como esconderijo para chefiar o crime em seus Estados ou para cometer assaltos no Rio. Em troca, cediam parte dos lucros obtidos nas atividades para pagar pelo abrigo.

Troca de informações

A recorrência e o grande número de bandidos que fogem de outros Estados em direção ao território fluminense levaram aos setores de inteligência da PM e outras corporações a autuarem de forma integrada. Ação resultou na rápida identificação e confirmação de identidade de um foragido da Bahia.

“(O trabalho) sempre foi integrado. Existe um canal oficial. Mas, por exemplo, a nossa inteligência tem o WhatsApp do chefe da inteligência dos estados do Nordeste. Eles compartilham fotos”, contou Ranulfo Brandão, acrescentando: ”Teve um preso, que era da Bahia, em que houve uma dificuldade. Ele não quis abrir o celular, nem quis se identificar. Fizeram contato com a polícia da Bahia para poder identificá-lo aqui. Então, isso é fruto dessa integração, porque não tem como trabalhar sem isso”, comentou o militar, de acordo com O Globo.

Durante uma operação realizada, no dia 16 de agosto, no Complexo de Santa Teresa (dominado pelo TCP), em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, a Polícia prendeu Demilson Sales das Neves, o Tutuca, de 35 anos; um dos principais chefes do tráfico de Salvador e suspeito de matar um policial civil.

No dia 28 de agosto, a Polícia prendeu Guilherme Augusto Rodrigues Gomes Ribeiro, o Menor ou Playboy, de 18 anos, em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. A região também é ligada ao TCP. Menor, que era procurado pela morte de um policial em Cariacica, na Grande Vitória (ES), é integrante da facção Família Capixaba.

Em 31 de janeiro, policiais do Bope balearam Fábio de Almeida Maias, o Biú, de 29 anos, durante uma ação no Complexo da Penha, na Zona Norte. O bandido foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas morreu na unidade. Em protesto, bandidos aliados mandaram fechar o comércio no bairro Pirambu, em Fortaleza. Biú, que era um dos chefes do CV no estado, era procurado por mais de 50 crimes no Ceará.

Segundo o Globo, a Polícia Civil informou, em abril, que o território fluminense tinha menos 101 traficantes de outros Estados abrigados em favelas da Região Metropolitana. Todas dominadas por facções criminosas. Caso dos 12 chefes do Comando Vermelho do Pará. Segundo a polícia, migração é resultado, na maioria das vezes, da decretação de prisão desses bandidos em seus Estados de origem.

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