Sete em cada dez moradores do Rio buscam imóveis já pensando em desconto

Já os donos de imóveis, sabendo disso, costumam colocar uma “gordurinha” nos preços. Estudo aponta que 81% dos entrevistados na região metropolitana dizem que têm dificuldades em encontrar informações claras sobre o preço adequado de imóveis

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Vista do Museu Chácara do Céu em Santa Teresa - Rio de Janeiro - Foto: Alexandre Macieira|Riotur

Parece que o carioca comprador de imóveis é meio “muquirana”. Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, encomendada pela imobiliária online paulista QuintoAndar, revelou que sete em cada dez moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro (74%) buscam imóveis para comprar ou alugar já com a firme expectativa de negociar um desconto no negócio. O estudo também destacou que 81% dos entrevistados relatam ter dificuldades em obter informações precisas sobre o valor adequado de um imóvel, o que contribuiria para a prática comum de tentar barganhar preços. Isso mesmo levando em conta a quantidade enorme de anúncios de classificados no jornal mais lido da cidade, O Globo, e nos portais imobiliários como Imovelweb, Olx, Zap, Casa Mineira e outros.

Todo mundo gosta de um descontinho”, brinca Lucy Dobbin, Superintendente da Sergio Castro Imóveis, maior anunciante de imóveis do Rio. A executiva da centenária corretora de imóveis conhecida pelas maiores vendas da cidade – como a casa de 220 milhões no Leblon ou o Edifício Serrador, de 150 milhões, vendido à Câmara Municipal – explica que isso gera um ciclo vicioso: “sabendo que todo mundo quer desconto, não é incomum que proprietários queiram colocar seu imóvel no mercado com uma boa gordurinha em cima do valor de avaliação”, diz. Mas Dobbin explica que o bom corretor não deve permitir que isso ocorra: “o cliente não é bobo, tem acesso à informação e na internet consegue descobrir a média correta se pesquisar, principalmente nas tipologias mais comuns”.

A busca por descontos no mercado imobiliário

O levantamento, que entrevistou 300 inquilinos, compradores, vendedores e proprietários de imóveis, mostrou que 50% dos que estão em busca de uma residência esperam conseguir um desconto de 5% a 10% sobre o valor anunciado. Essa prática reflete a cultura de negociação presente no mercado imobiliário na cidade. Algo bem diferente daqueles programas de TV sobre vendas imobiliárias no exterior, onde os descontos muitas vezes não chegam a 1% do valor pedido e há até vendas por valor maior que o anúncio.

“A barganha é algo cultural no mercado imobiliário. Mais da metade dos moradores do Rio considera o sobrepreço uma prática comum, o que faz com que muitos questionem se o valor anunciado tem margem para negociação,” explicou Thiago Reis, gerente de dados do QuintoAndar.

O preço como fator decisivo

A pesquisa também apontou que 61% dos entrevistados afirmam que o preço é o fator determinante na hora de fechar um negócio imobiliário. Para muitos inquilinos e compradores, encontrar um imóvel dentro do orçamento é uma das maiores dificuldades, sendo este fato citado por 50% dos entrevistados. “Isso era bem óbvio. O Rio de Janeiro é uma cidade imprensada entre as montanhas e o mar, e as partes mais valorizadas por vezes chocam clientes nossos de outros estados. O Fio é uma cidade cara, e a Zona Sul principalmente”, diz Dobbin.

Além disso, 68% dos proprietários de imóveis na região metropolitana do Rio também colocam seus imóveis à venda ou para alugar já considerando oferecer um desconto, exatamente como dito por Lucy Dobbin. Entre esses, 73% planejam conceder um desconto de 5% a 10% sobre o valor anunciado segundo a pesquisa.

“É essencial que os preços estejam ajustados à realidade do mercado. A falta de clareza sobre a possibilidade de negociação pode afastar potenciais compradores e inquilinos,” ressaltou Reis.

Suposta dificuldade em obter informações sobre preços

Um dos principais desafios identificados pelo estudo foi uma suposta falta de transparência em relação ao preço justo dos imóveis. 81% dos entrevistados relataram que é difícil obter informações claras e confiáveis sobre o valor adequado de uma residência, o que muitas vezes impede a tomada de decisão. Esse fator leva a incertezas e, segundo o levantamento, 61% dos participantes já desistiram de um negócio por não conseguirem determinar se o preço estava justo. “Quem quer desconto fala o que for preciso pra ter aquela ajudinha do corretor. Na verdade é publicada pela prefeitura uma lista dos valores arrecadados com o imposto de transmissão (ITBI) de onde se pode tirar informações bem claras sobre o valor dos imóveis, sem contar os anúncios que colocamos nos jornais e na internet. O desconto médio concedido é de cerca de 6%. Não é tão difícil fechar a matemática, mas é claro que quem quer desconto sempre quer mais.”, explica Lucy.

“É crucial que compradores, inquilinos e proprietários tenham acesso a informações abrangentes e confiáveis, o que tornaria o processo de negociação mais eficiente e menos estressante,” concluiu Reis.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa do DataFolha foi realizada entre 27 de agosto e 12 de setembro de 2024, com 2.005 entrevistas em todas as cinco regiões do Brasil (Sudeste, Sul, Norte, Nordeste e Centro-Oeste). A amostra incluiu inquilinos, compradores, vendedores e proprietários de imóveis, com foco nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, onde 309 pessoas foram ouvidas. A margem de erro para o total da amostra é de dois pontos percentuais, enquanto no Rio de Janeiro, a margem de erro é de seis pontos percentuais.

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