Felipe Lucena: Cláudio Castro e as operações-ostentação 

Enquanto o governo quer mostrar força com ações policiais violentas, a população sente na pele e vive (e morre) em um estado repleto de problemas  

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Foto: Reprodução/ Redes Sociais (@pmerj)

Em muitos momentos, o governo Cláudio Castro é visto por analistas políticos e grande parte da população como apático, inoperante, quase inexistente. São tantos os problemas pelos quais o Rio de Janeiro passa e o governador não se faz presente. Além das denúncias que giram em torno da gestão. Contudo, quando o assunto são as operações policiais, Castro faz questão de ostentar força. Ou tenta. Força essa que não parece trazer grandes benefícios a quem vive no estado do Rio, como vimos nesta quinta-feira (24/10) pela manhã, com a Avenida Brasil parada, mortos, feridos e muitas outras pessoas tendo que se esconder das balas que passavam em uma das vias mais movimentadas e importantes do país. 

Dados mostram essa ostentação policial do governo Castro. Um relatório da Universidade Federal Fluminense (UFF), publicado em 2023, constatou que entre 2007 e 2022 aconteceram chacinas em 629 operações policiais no Rio de Janeiro, nas quais foram assassinadas 2.554 pessoas. O estudo da UFF considera como “chacina” qualquer matança em que três pessoas ou mais foram mortas. Nesse período, 27 dessas matanças (4,2%) tiveram 8 ou mais mortos – classificadas como “mega chacinas policiais”. Um terço dessas 27 “mega chacinas” (9) ocorreram no período de 2020 a 2022, na gestão Cláudio Castro. 

Em maio de 2021, 27 pessoas foram mortas em uma operação policial no Jacarezinho, Zona Norte da capital Fluminense. Um ano depois, no mesmo mês de 2022, na Penha, Vila Cruzeiro, 23 perderam a vida em uma ação das forças de segurança do estado do Rio.  Respectivamente, as duas maiores chacinas policiais da história do RJ. 

Em julho de 2022, mesmo com o Supremo Tribunal Federal (STF) obrigando que o Governo do Estado do Rio de Janeiro colocasse em prática um plano para reduzir a letalidade policial nas operações realizadas em favelas, aconteceu uma nova chacina. Dessa vez no Complexo do Alemão, com 16 mortos. A quarta maior da história do RJ. 

Como bem sabemos, Jacarezinho, Penha e Alemão não se tornaram Suíça, Noruega e Islândia, os três países com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo depois dessas operações. Isso só para citar um dado comparativo, pois muita gente ainda acredita que esse tipo de ação que derrama sangue por onde passa resolve alguma coisa. 

Ano passado, o número de assassinatos no estado do Rio voltou a passar o de São Paulo – que tem quase o triplo da nossa população. Em 2023, o Rio de Janeiro registrou 3.388 mortes violentas – média de 9 por dia, e 233 a mais que as 3.155 registradas em 2022, uma alta de 7,4%. Em SP foram 2.977 assassinatos no último ano, 10% a menos que o total de 3.316 de dois anos atrás.

Os dados fazem parte da edição final do levantamento periódico de assassinatos feito pelo Monitor da Violência, uma parceria entre o Portal G1, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo – USP

O levantamento leva em conta homicídios dolosos (incluindo feminicídios), latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte. Mortes decorrentes de violência policial não entram. Se entrassem, os números do Rio seriam ainda maiores. 

Antes que venham os argumentos de comentário de rede social, não estou dizendo que Governo do Estado e as polícias devam cruzar os braços diante da criminalidade. Não é isso. Muito pelo contrário. A gestão estadual tem o dever de zelar pela segurança de sua população e assim deve ser feito. O problema é esse modelo de segurança pública mais que falido que se aplica no RJ há pelo menos umas quatro décadas. Ele não dá resultado positivo. Os números das muitas formas de violência só se multiplicam e todo mundo sofre, inclusive policiais, que são colocados nas linhas de frente dessas operações. 

Nesta operação que terminou com a Avenida Brasil fechada, a Polícia Militar informou que não tinha dados de inteligência em relação à reação que poderia vir do Complexo de Israel durante a operação.

Já passou da hora de se investir e executar uma outra forma de segurança pública pautada por inteligência, tecnologia, investigações, tudo atrelado ao social, educação, cidadania, direitos básicos e constitucionais. Operação-ostentação só serve para agradar alguns setores da sociedade que estão bem longe de onde essas ações acontecem e pouco se importam com a vida dos favelados, pretos, pobres, trabalhadores que já sofrem todos os dias com as desigualdades e tantas violências desse país. 

Nem mesmo o atual governador consegue mostrar força ordenando essas operações enquanto posta nas redes sociais que o Rio de Janeiro não é bagunça, como fez no episódio provocado por torcedores do Peñarol nesta quarta-feira (23/10), no bairro do Recreio dos Bandeirantes. A pesquisa Datafolha de julho deste ano mostrou que 46% dos moradores do estado do Rio consideram o governo de Cláudio Castro ruim ou péssimo. 

Castro já chamou de “efeito colateral” os assassinatos cometidos por policiais em operações. O comando da PM já disse que essas operações que enxugam gelo são necessárias. Enquanto isso, o Rio de Janeiro ostenta números de guerra e a população sente os problemas, não só em relação à segurança, mas também nas outras áreas de atuação do governo. Ou alguém acha que temos muitos motivos para ostentar alegria? 

Este é um artigo de opinião e não reflete, necessariamente, as ideias do DIÁRIO DO RIO.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Ostenta força?
    Castro é FROUXO, BUNDA-MOLE E OMISSO. Idem à polícia. São frouxos e coniventes.
    A saída é revolta popular e banho de sangue. Encher o Rio de cadáveres de bandidos, tanto da favela quanto do colarinho branco.

    • O machinho bozoloide Lorram como todo bozoloide retardado nem faz ideia do que acontece.
      Por isso a persistência do bozoloide vir com o discursinho pronto “Somos a vergonha do país”, “Somos motivo de chacota”, etc etc etc.
      Bozoloide Lorram, queres carona para o aeroporto?

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