Meio ambiente derrotado nas eleições

O cenário, é forçoso reconhecer, segue desfavorável a uma discussão madura sobre o desafio principal do futuro: a permanência do Homo sapiens neste planeta

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Foto: RioTur

De norte a sul do país, o segundo turno das eleições municipais promoveu um desfecho bastante previsível ao que se desenhara na primeira rodada. Um domínio bastante impressionante da instituição “reeleição”; uma força quase imbatível das máquinas irrigadas com emendas parlamentares; a grande vitória da “não-política”, com abstenção nas alturas, e um profundo esquecimento da defesa do meio ambiente e do enfrentamento à emergência do clima como temas centrais nacionais.

Belém, que irá sediar a Conferência da ONU em 2025 (COP 30), não debateu a questão da urgência de novos padrões de vida no segundo turno. O vencedor neste domingo não é um negacionista nem bolsonarista – e isso já é um grande avanço. Mas o plano de governo de Igor Normando (MDB) é composto por dez itens. O quinto deles, intitulado “Meio Ambiente e Sustentabilidade”, contém uma página com um diagnóstico de problemas ambientais e meia página com ações para enfrentá-los, segundo mostrou o portal “InfoAmazônia”. Quase nada, sem relevância.

Em São Paulo, não houve debate sobre preparação da maior cidade do país para enfrentar inundações ou ilhas de calor. A reboque das tempestades que deixaram milhares sem luz às vésperas do segundo turno, muito se falou em ausência de podas de árvores e ineficiência da concessionária de energia elétrica. A discussão ficou capenga e rasa.

Abilio Brunini (PL), eleito prefeito de Cuiabá (MT) ao bater Lúdio Cabral (PT), é um bolsonarista de carteirinha e não falou do tema durante a campanha. É um deputado federal estridente e grosseiro: Abilio foi acusado de transfobia contra a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) — o processo acabou arquivado. Defende boiadas e o agro que destroi e dinamita sua própria existência.

Porto Alegre, muitas vezes uma capital progressista, deu a reeleição a Sebastião Melo (MDB), que parecia condenado depois do despreparo que sua administração demonstrou nas chuvas de abril a maio deste ano, que levaram dor e quase 200 mortes ao Rio Grande do Sul. Os gaúchos da capital deixaram de ser governados pelo PT em 2005, e não parecem dispostos de voltar a sê-lo tão cedo.

Mas há exceções importantes: Rio e Niterói derrotaram candidaturas bolsonaristas e seguem governadas por progressistas que entendem a urgência do tema. Em Fortaleza, no Ceará, em disputa acirrada até o fim, Evandro Leitão venceu o bolsonarista André Fernandes e certamente terá olhar mais atento às questões ambientais.

O cenário, é forçoso reconhecer, segue desfavorável a uma discussão madura sobre o desafio principal do futuro: a permanência do Homo sapiens neste planeta. O mundo mudou, e nada será como antes. O eleitor brasileiro, entretanto, ainda não compreendeu essa urgência ou talvez esse tema não esteja sendo trabalhado de maneira correta pelos candidatos. O alerta está mais do que ligado, mas segue adormecido nas urnas. Perdemos todos.

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