A chegada de um novo bebê é um momento de alegria e, ao mesmo tempo, um desafio para os pais, especialmente no que diz respeito ao preparo do filho mais velho. Recentemente, personalidades como Gisele Bündchen e Sabrina Sato anunciaram novas gestações. Ambas já são mães – Bündchen de Benjamin, de 14 anos, e Vivian, de 11; e Sato, da pequena Zoe, de 5 – e agora se preparam para dar as boas-vindas a novos integrantes na família.
Diante de situações como essas, sentimentos de ciúme, insegurança e medo de perder atenção são comuns entre os primogênitos. Compreender essas emoções pode ajudar a construir um ambiente acolhedor e saudável para a nova fase da família. Para falar sobre as reações comuns e oferecer orientações práticas aos pais, conversamos com a educadora parental Priscilla Montes, especialista em educação positiva. Ela traz conselhos sobre como incluir o primogênito no processo, lidar com expectativas realistas e respeitar a individualidade de cada criança. Confira a entrevista e veja dicas valiosas para fortalecer os laços entre irmãos e criar uma adaptação harmoniosa à nova dinâmica familiar.
1. Quais são as melhores formas de preparar o filho mais velho para a chegada de um irmão? Quando e como devemos iniciar essa conversa?
A chegada de mais um integrante na família sempre gera muita felicidade mas, também, muitas preocupações, expectativas e angústias. E, normalmente, depositamos muitas expectativas na relação criança mais velha e a criança que vai chegar. O primeiro ponto é trabalhar e ajustar essas expectativas que muitas vezes estão desalinhadas e exigindo demais dessa criança mais velha.
Esta conversa pode começar a partir do momento que descobriram que irá chegar mais uma criança neste lar. Importante que a criança mais velha se sinta parte disso como família e que possa acompanhar todos os passos desse momento tão importante. Que ele também se sinta pertencente e participe de todos os momentos. A maneira de começarmos esta conversa sempre será em um lugar de honestidade e sem depositar a expectativa na resposta. Fazer a criança se sentir parte.
2. Quais são as reações emocionais mais comuns do filho mais velho ao saber que vai ganhar um irmão? Como os pais podem lidar com sentimentos de ciúme ou insegurança?
As reações mais comuns, tendem a ser extremas, seja para gostar muito, seja para não gostar e a criança, por ainda não ter o cérebro maduro e córtex pré frontal totalmente desenvolvido e sem cognição cognitiva de lidar com as emoções, ou seja, é puro instinto, tendendo a ter reações mais impulsivas e sentimentos intensos seja gostando, seja não gostando da novidade. O ciúmes e insegurança neste período é normal e compreensível. O importante é SEMPRE VALIDAR o que a criança está sentindo, gerando segurança emocional e acolhimento. Até porque é muito comum na criança mais velha o medo de deixar de ser amada por conta da chegada de um bebê neste ambiente familiar. E para que isso não aconteça, é importante que esta criança esteja com o copinho emocional cheio de amor e pertencimento.
3. Como podemos envolver o filho mais velho durante a gravidez e após o nascimento para que ele se sinta parte da experiência?
Dizendo para a criança tudo que vai acontecer em cada fase e perguntar se ela gostaria de participar. Dizer que a ajuda dela será super bem vinda e especial. Importante após nascer não colocar responsabilidades de cuidado do irmão mais novo para o irmão mais velho. Criança não cuida de criança. E, sim, deixar com que o irmão mais velho participe de forma espontânea e fluida.
4. O que muda na dinâmica familiar com a chegada de um segundo filho? Como os pais podem se adaptar a essa nova fase sem deixar de atender às necessidades emocionais do primogênito?
Tudo muda! Vai existir mais um indivíduo neste ambiente familiar com características únicas e novas relações serão criadas. É um momento de novidades para todos. O mais importante é os pais entenderem que este irmão mais velho vai precisar de muito acolhimento, conexão e momentos de interações com estes cuidadores sozinho. Aonde ele vai encher o copinho dele de amor, estar com a atenção plena dos pais e se sentindo importante, nem que seja por pouco tempo. Não é sobre a quantidade mas qualidade do tempo oferecido.
5. Como os pais podem garantir que o filho mais velho não se sinta deixado de lado após o nascimento do novo bebê, especialmente nos primeiros meses?
Para que o mais velho não se sinta deixado de lado é importante entender que ele também é parte integrante deste processo, e dar a ele pequenos momentos de interação sozinho com um dos cuidadores. Para que ele saiba que a chegada de um bebê não significa que ele perderá o seu lugar na família, onde todos são importantes.
6. Quais são as melhores estratégias para minimizar o ciúme entre irmãos? Como é possível cultivar um bom relacionamento desde o início?
Aqui está o ponto chave do relacionamento entre irmãos: não depositar nessa relação a obrigatoriedade deles se amarem, mas, sim, se respeitarem! E é aqui que normalmente erramos pois depositamos expectativas desalinhadas nessa relação por acreditar que eles são obrigados a se amarem e se darem bem. É óbvio que este é o melhor cenário, mas, quando depositamos nessa relação diariamente esta obrigatoriedade, acabamos mais atrapalhando do que ajudando. Quantos mais respeitarmos os limites individuais de cada um e funcionarmos como coadjuvantes e não protagonistas mais estas relações tendem a ser melhores.
7. Como a mãe pode se preparar emocionalmente para o desafio de ter dois filhos, especialmente em relação à divisão do tempo e do cuidado?
Esta é a pergunta de milhões pois, em uma sociedade ainda muito patriarcal, com muitas mães solos, com muitas mães sem rede de apoio e sobrecarregadas, sabemos que é muito difícil e exaustivo dar conta de tudo mas, aqui está o ponto em questão. Não somos seres humanos que nascemos para dar conta de tudo, isto é algo que a educação tradicional nos fez acreditar. Então deixe os pratinhos das demandas menos urgentes caírem e tente focar ao máximo em você primeiro e depois na qualidade da relação com as crianças.
8. Quão importante é manter um diálogo aberto com o filho mais velho sobre a chegada do irmão? Há algo que os pais devem evitar dizer ou fazer durante essa conversa?
O diálogo aberto traz a sensação biológica de pertencimento e segurança para qualquer criança e eles já nascem com essa expectativa. Isso é uma necessidade emocional, portanto, independente de haver a chegada de outro irmão ou não a necessidade de se vincular e pertencer é uma necessidade básica e essencial para a construção da saúde emocional das crianças. Acredito que, além de conversas honestas, o que de mais eficaz podemos fazer é ter uma escuta ativa, ou seja, OUVIR sem interrupções, sem querer consertar os sentimentos, sem julgamentos ou críticas. Apenas estar presente para ouvir e ser colo.
9. Como os pais podem criar expectativas realistas tanto para o filho mais velho quanto para si mesmos em relação à nova rotina familiar?
Entender que vocês, pais, não são responsáveis por fazer esta relação dar “certo”. Vocês são responsáveis por preencher as necessidades básicas e emocionais de cada criança como indivíduo e proporcionar um ambiente de segurança, amor e acolhimento. Quanto mais respeitarmos as individualidades de cada um, os seus desejos e quereres, os seus sentimentos e respeitá-los mas, esta relação tende a ser positiva e com bases sólidas.
10. De que forma é possível ajudar o primogênito a ressignificar o seu papel na família após a chegada do irmão, sem que ele sinta uma perda de importância?
É lógico que fazer ele participar e estar presente em todos os momentos vai ajudar este primogênito a se sentir parte integrante, mas, o mais importante é cuidar da forma como ele será tratado, ouvido e considerado. E são nesses momentos que ele perceberá a sua importância. Temos a tendência a jogar pressão, pesos, expectativas nessas relações ao invés de criar um ambiente para essa relação florescer.