Este Sábado, Capela na rua do Ouvidor celebra Finados com música barroca

Cerimônia terá início ao meio-dia e será celebrada em latim, com a Igreja ornamentada com paramentos pretos. A Santa Missa terá execução do Réquiem composto pelo Padre José Maurício, um dos maiores compositores sacros do Brasil, e bênção final com a relíquia da Santa Cruz

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Igreja da Lapa dos Mercadores, Centro do Rio de Janeiro / Diário do Rio

A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Centro do Rio, celebra o Dia de Finados, neste sábado (2), com um rito muito solene, todo oficiado em latim, e com direito a música sacra de qualidade. À frente da Missa Solene em Honra dos Mortos, estará o Padre Vítor Pimentel Pereira. Na ocasião, será usada importante prataria sacra do Século XVIII e a bênção será dada pelo padre com uma relíquia da Santa Cruz. O momento, apesar de doloroso para muitos, será de respeitosa introspecção diante daqueles que se foram. A Missa Solene vai ser acompanhada por parte da obra Missa de Réquiem, do Padre José Maurício Nunes Garcia, maior compositor católico da História do Brasil.

A Santa Missa contará ainda com a participação da cantora soprano, Juliana Sucupira, que conduzirá os músicos responsáveis por entoar parte da obra barroca do religioso, que foi composta por ocasião do falecimento da Rainha, Dona Maria I. Durante a execução musical, o público poderá perceber as várias homenagens prestadas pelo Padre José Maurício a Mozart. Outras peças consagradas serão entoadas a partir das 12h, na igreja da irmandade dos Mercadores, fundada em 1743.

A cerimônia terá procissão de entrada, com uso de turíbulo e incenso sacro. Seguindo o rito tradicional para a data, a Igreja será respeitosamente e totalmente ornamentada com paramentos pretos, tal qual era feito no século XIX. Na ocasião, além de rezarem pelos seus entes queridos, os fiéis poderão incluir os nomes dos falecidos na missa. Por estar localizada no Corredor Cultural, a Igreja da Lapa dos Mercadores utiliza várias tradições históricas nas suas celebrações. Sua Missa Solene com Coral e Orquestra todos os sábados e domingos ao meio-dia já se tornou parte do calendário cultural e religioso da cidade.

O momento especial da Santa Missa será no final da celebração eucarística, quando o Padre Vítor dará a benção de encerramento com uma relíquia da Santa Cruz, na qual Cristo teria sido crucificado. A relíquia é um pequenino pedaço do madeiro encontrado por Flávia Júlia Helena, também conhecida como Santa Helena de Constantinopla, mãe do Imperador romano Constantino, em Jerusalém.

Segundo a tradição, Constantino, que era pagão, enfrentava dificuldades de vencer uma batalha, em 312, quando avistou no céu as letras gregas X (Khi) e P (rho), que são as duas primeiras letras do nome de Cristo em grego. Além desse sinal, ele viu ainda uma Cruz com a inscrição: “In hoc signo vinces”; “Com este sinal vencerás”. O imperador então gravou o símbolo nos escudos e nas bandeiras usadas pelo seu exército, vencendo a batalha.

A partir de então, Constantino e sua mãe se converteram ao Cristianismo. Convencido de que foi vitorioso graças a ação de Juses Cristo, o imperador proibiu a perseguição contra os cristãos, que acontecia há três séculos e registrou a “ordem” no Edito de Milão, a partir do qual os cristãos passaram a ser livres para propagar o culto ao Deus único e verdadeiro.

Helena, já convertida, viajou a Jerusalém, Terra Santa, onde “derrubou” símbolos hereges que estavam sobre o Santo Sepulcro. Ao escavar o lugar, a mãe de Constantino encontrou três cruzes, sem saber qual delas seria a de Cristo, Santa Helena decidiu tirar a prova expondo os doentes da cidade ao poder do madeiro.

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Ao tocarem na primeira cruz, alguns doentes ficaram curados e outros não. O que a levou a discernir que seria a cruz do “Bom ladrão”. Nenhum dos doentes que tocou na segunda cruz ficou curado. Fato que a fez entender que se tratava do madeiro do “Mau ladrão.” Os milagres aconteceram com a terceira Cruz, por meio da qual todos os enfermos saíram curados. Santa Helena, então, interpretou que se tratava da Sagrada Cruz de Jesus Cristo.

Quem foi Padre José Maurício Garcia Nunes?

Nascido do Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 1767, Padre José Maurício, além de religioso foi professor de música, compositor, maestro e multi-instrumentista. De família pobre e mulato, desde cedo Nunes Garcia apresentou fortes inclinações religiosa e musical, traços que fizeram com o preconceito contra ele fosse amenizado.

O religioso viveu em uma época de transição entre o Brasil colonial e o Império independente, e entre o Barroco e o Neoclassicismo. A sólida formação construída entre os padres católicos, e os estudos musicais rigorosos, aliados a um grande talento, fizeram do Padre José Maurício um grande e prolífico compositor na sua época. Atualmente, ele também considerado pelos estudiosos um nos nomes mais importantes da música brasileira.

Pesquisadores afirmam que há mais de 240 composições catalogadas do Padre compositor, todas no gênero sacro e vocal, entre missas, motetos, antífonas, matinas, vésperas; obras voltadas para o culto católico, algumas modinhas, peças orquestrais e dramáticas, obras didáticas, e outras desconhecidas e pedidas. Padre José Maurício também foi um consagrado professor de música e instrumentista, sendo enaltecido pelas suas qualidades como improvisador e acompanhador ao teclado.

Programação:

Missa Solene de Finados

Celebrante: Padre Vítor Pimentel Pereira

Coral e Orquestra, sob a condução da cantora soprano Juliana Sucupira

Sábado, 2 de novembro, às 12h

Rua do Ouvidor, 35, Centro do Rio

De segunda à sexta-feira, das 9h às 18h, são realizadas visitações turísticas da nave e altares laterais do templo. Não há serviço nem visitação nos feriados. Os interessados em conhecer a sacristia e o átrio de Nossa Senhora da Fé, podem comparecer à igreja nos dias úteis, das 9h às 14h, aos sábados de 9h às 17h, e aos domingos das 9h às 16h. Não há visitação nos horários das missas, que são sempre ao meio-dia.

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