Conduzir o leitor a imaginar uma sociedade construída sem a herança da violência colonial contra as pessoas negras. E também instigar reflexões sobre o seu futuro a partir da trajetória dos direitos humanos, políticas públicas, influência do consumo e até das mídias sociais. Essas são propostas do livro “Existíamos, existimos e existiremos: passado, presente e futuro do negro brasileiro sob a ótica das políticas públicas”, de Vitor Matos. Os lançamentos pela editora Appris serão no Rio (7/11), às 19h, no restaurante Kaza 123, em Vila Isabel; em Salvador (12/11), às 18h, no café Arawè, na Casa Verão Preta Brasil, e em São Paulo (15/11), às 18h, no Biyou´Z Gastronomia Africana.
Com prefácio da jornalista e pesquisadora Mônica Sanches, a obra apresenta visão abrangente das construções raciais no país e analisa pontos importantes do cenário racial e das políticas públicas mais relevantes para a população negra, que representa 55,5% do país, de acordo com o Censo de 2022. O autor destaca avanços na área de educação, sobretudo a superior. E conquistas importantes, como as cotas raciais para concursos públicos e para redes de ensino.
“Além da obtenção das vagas, elas propiciam a qualificação dos debates raciais dentro dos espaços de poder. O aumento da cobrança pela utilização de epistemologias negras e o resgate de pensadores e de conhecimentos até então absolutamente apagados ou escanteados. A formação em universidades de excelência traduz-se em transformações de olhares da sociedade a respeito de negros e negras. O “lugar de negro” finalmente começa a ser qualquer lugar, o que atinge a raiz do preconceito racial no Brasil, que é a marca”, diz Vitor, que é mestre em Políticas Públicas em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em Ciências Sociais, pela mesma instituição.
Apesar de pontos positivos, o livro mostra que ainda há um longo caminho para a população negra alcançar igualdade em direitos. Exemplos são altas taxas de mortalidade de crianças e jovens, violência obstétrica, evasão escolar, diferenças salariais, intolerância a religiões de matrizes africanas e violência policial contra pessoas negras. “É uma realidade que se impõe e atua como uma camada extra de obstáculos, o que representa um cenário de total desmotivação pelo futuro”, completa o autor.
A influência das redes sociais na vida dos negros também é tema de “Existíamos, existimos e existiremos”. Para Vitor, a crueldade das reações e dos cancelamentos só não é maior que o medo deles. Estar em um ambiente em que pessoas não precisam controlar seus impulsos de julgamento e ataque, por estarem apartados de uma práxis social (nas redes), já é perigoso o bastante para a subjetividade dos jovens.
“E se tratando de jovens negros isso piora substancialmente, pois as bolhas das redes sociais são, muitas vezes, o único lugar onde o jovem negro é aceito como bonito, desejável, padrão. É lá que se encontram outros semelhantes que esbanjam sucesso, dinheiro, alegria e afeto pleno. É preciso proteger a psiquê do jovem negro, para ele se tornar capaz de driblar os elementos que poderão levá-lo, muito provavelmente, à frustração”, conclui.