Morre Evandro Teixeira, considerado o maior fotojornalista do Brasil

O fotógrafo tinha mais de 70 anos de carreira dos quais 47 foram dedicados ao Jornal do Brasil. Evandro fotografou eventos, como: os golpes militares do Brasil e do Chile, as manifestações estudantis de 1968, e a morte de Pablo Neruda

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Tomada do Forte de Copacabana (RJ) durante golpe militar / Evandro Teixeira (Acervo IMS e Agência Brasil)

O fotojornalista Evandro Teixeira, de 88 anos, morreu nesta segunda-feira (4), na Clínica São Vicente, localizada no bairro da Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde estava internado. Evandro tratava de uma pneumonia e morreu por falência múltipla de órgãos. O fotógrafo será velado, nesta terça-feira (5), na Câmara Municipal do Rio (CMRJ), das 9h às 12h, segundo a Agência Brasil.

Evandro Teixeira é considerado o maior nome do fotojornalismo brasileiro ao qual dedicou mais de 70 da sua vida. As suas lentes registraram acontecimentos marcantes do século XX no Brasil e no mundo. Evandro tinha preferência pelo registro em preto e branco, técnica que fez suas fotografias virarem documentos atemporais.

Nascido no município de Irajuba, na Bahia, em 1935, Evandro Teixeira começou a sua carreira jornalística no Diário de Notícias, de Salvador, em 1958. Depois, veio para o Rio de Janeiro para trabalhar no Diário da Noite, do grupo dos Diários Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand.

Em 1963, começou a trabalhar no lendário Jornal do Brasil, onde construiu a sua vitoriosa e reconhecida carreira como fotojornalista. Foram quase 47 anos dedicados ao veículo, de onde saiu em 2010, quando a versão impressa do jornal deixou de circular, ficando apenas a edição digital. Evandro Teixeira também escreveu os livros: Fotojornalismo (1983); Canudos 100 anos (1997); e 68 destinos: Passeata dos 100 mil (2008).

O fotógrafo registrou os eventos que mais impactaram a segunda metade do século XX. Evandro fotografou a Copa do Mundo de 1962, o golpe militar no Brasil, em 1964; a repressão ao movimento estudantil, em 1968; o golpe militar do Chile, em 1973; e o massacre de Jonestown, em 1978, entre muitos outros eventos.

Um dos seus registros mais marcantes foi tomada do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 1º de abril de 1964. O registro mostra as silhuetas de soldados em meio a uma chuva torrencial. Ainda relacionada ao período, uma das suas fotos mais conhecidas é a de um estudante caindo no chão, ao ser perseguido por dois policiais durante as manifestações contra a ditadura, no dia 21 de junho de 1968.

O trabalho de Evandro Teixeira está reunido em coleções de instituições, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Instituto Moreira Salles, ambos no Rio de Janeiro; e o Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Cobertura internacional

Em 2023, o Centro Cultural do Banco do Brasil, do Rio de Janeiro, promoveu uma mostra com 160 imagens de Evandro Teixeira, com destaque para os 50 anos do golpe militar no Chile, em cuja capital ele conseguiu entrar, no dia 21 de setembro de 1973, dez dias após o golpe capitaneado pelo general Augusto Pinochet, que depôs o socialista Salvador Allende.

Apesar de toda a vigilância, Evandro documentou inúmeras violações de direitos humanos no país. Ele entrou no Estádio Nacional, onde driblou os soldados e registrou o porão onde os estudantes ficavam detidos. A fotografia foi revelada em um laboratório improvisado no banheiro do hotel e enviada ao Brasil por um aparelho de telefoto.

Outra façanha de Evandro Teixeira foi o registro da morte de Pablo Neruda. O fotógrafo entrou pela lateral do hospital onde estava o corpo do poeta, sem ser notado pelos seguranças. No local, encontrou a viúva Matilde Urrutia velando o corpo Neruda em uma maca no corredor da unidade. Ele também documentou o velório e o enterro de Pablo Neruda, desta vez, com a permissão da família.

Apesar dos desafios enfrentados para fotografar ditaduras, Evandro Teixeira acabou sendo preso por denunciar as regalias dos militares, enquanto a população passava privações ou fome.

“Faltava carne de vaca para a população, que só comia galinha e porco. Eu estava andando pela cidade e passei em frente ao Ministério da Defesa. Vi um carro de açougueiro parado e um cidadão entrar com um boi inteiro nas costas para o pessoal do quartel. Achei uma sacanagem e fiz a foto”, contou Evandro à época, segundo a Agência Brasil.

Autoridades e colegas de profissão repercutiram a perda de Evandro Teixeira:

“Brasil perde hoje Evandro Teixeira, referência no fotojornalismo do nosso país e do mundo. Com mais de 70 anos de carreira, Evandro registrou momentos históricos como o período da ditadura militar no Brasil. É de sua autoria uma das fotos mais emblemáticas desse período: a Tomada do Forte de Copacabana, de 1964. Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país. Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira”, disse o presidente Lula (PT).

O presidente da CMRJ, Carlo Caiado (PSD) lamentou: “O fotojornalismo brasileiro e mundial perde hoje um dos seus maiores gênios. Evandro apenas nos deixou fisicamente. Ele é eterno com suas fotografias históricas. Um fotógrafo incomparável. Evandro deixa muitas memórias e muita saudade. Minha solidariedade e afeto a toda a família, os amigos e os amantes da fotografia”, reproduziu o G1.

Ancelmo Gois (O Globo), por sua vez, afirmou: “Evandro foi um fotógrafo que melhor registrou a política brasileira na segunda metade do século XX. Aqueles anos, intensos, da ditadura militar de 64 até 85, o Evandro acompanhou aquilo e fez um registro fotográfico da melhor importância para a história nacional”.

Chico Regueira, segundo o G1, disse: “Tive o privilégio da amizade de Evandro Teixeira, um dos mais importantes repórteres fotográficos do mundo que viu, viveu e registou a história nos últimos 70 anos. O golpe militar no Brasil, a passeata dos 100 mil, os massacres no estádio Nacional do Chile e na Guiana Inglesa, a desigualdade, tudo ele viu de perto, estava lá. Para quem vive a reportagem como eu, Evandro é um tipo de super herói. De modo geral, nós repórteres somos os primeiros escritores da história. Evandro fez história”.

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