Em dias quentes, a água se torna essencial para o cotidiano, especialmente para quem vive uma rotina agitada, seja em casa ou no comércio. No entanto, desde o dia 4 de novembro, milhares de moradores e comerciantes do Centro do Rio e bairros vizinhos estão sem abastecimento regular de água. A falta desse item básico compromete atividades essenciais e já gerou uma crise que persiste há semanas.
De acordo com a apuração feita pelo DIÁRIO DO RIO, os bairros mais afetados incluem o Centro, Glória, Rio Comprido e o Polo Comercial Saara, com áreas como a Rua Riachuelo e a Rua Buenos Aires sofrendo com o desabastecimento prolongado. Os endereços mais críticos são:
- Rua Riachuelo (números 126, 136, 159, 221, 257, 271) – desabastecimento prolongado;
- Rua Monte Alegre (números 19 e 21) – permanecem sem abastecimento regular de água;
- Rua Buenos Aires (número 314) – sem abastecimento há 3 semanas;
- Rua do Bispo (número 191) – há mais de um ano sem abastecimento regular;
- Ladeira de Nossa Senhora da Glória (número 158) – sem água há dias.
Em entrevista ao DIÁRIO DO RIO, Gisele Oliveira, moradora e liderança comunitária da região há 20 anos, destaca a precariedade na resposta da Águas do Rio, responsável pelo abastecimento. Segundo ela, a empresa tem enviado caminhões-pipa, mas o volume de água não é suficiente para atender à demanda.
“Imaginem um prédio inteiro sem abastecimento desde 04 de novembro, e recebendo apenas 10m³ em caminhão-pipa. Isso mesmo. Não dá nem para um dia, com muita economia. Receber 1 caminhão-pipa de 10m³, quando você ainda tem reserva, é uma coisa, pois ele vai ser somado ao que já existe. Mas com a cisterna vazia, o caminhão-pipa vai embora logo. Ora, se a Águas do Rio estima que cada unidade residencial, em um condomínio, consome 15m³ por mês, 10m³ em pipa não chega nem ao consumo estimado de uma unidade”, afirmou.
Nos bairros mais afetados, como na Rua do Bispo, onde a falta de água já dura mais de um ano, moradores precisam improvisar com cisternas e reservar água ao máximo. “Alguns síndicos, com mais dinheiro, compram pipa, quando conseguem. Pois, em época de grande demanda, os preços sobem e não há pipas suficientes para todos. Os condomínios que têm maior reserva fazem racionamento ou manobras emergenciais. Os que não têm reserva ou dinheiro, esperam pela decência da concessionária, em fornecer pipas, direito do consumidor, pelo qual brigo o tempo todo”, completa Gisele.
De acordo com moradores e comerciantes, o impacto também atinge tanto os pequenos quanto os grandes comércios, gerando sérios transtornos na rotina e nas atividades econômicas, especialmente no Polo Comercial Saara, um dos maiores centros de comércio popular da cidade. Comerciantes da Rua Riachuelo, uma das maiores zonas comerciais da cidade, também enfrentam o desabastecimento. Lojas como Citycol, Sapataria Verdun e Fortaleza dos Sucos recorrem a alternativas improvisadas, como baldes de água enviados de estabelecimentos vizinhos.
“Os síndicos com reservatórios maiores (cisternas e caixas d’água) conseguem suportar por mais tempo, e racionando. Alguns comércios pegam baldes em outros endereços ou recorrem aos descartáveis para conseguir operar, caso da Padaria Seu Zé na Rua Riachuelo”, comenta a moradora da região.
A liderança comunitária também faz duras críticas à gestão da Águas do Rio, apontando a ineficiência da empresa em resolver a questão do desabastecimento e a falta de agilidade nas respostas. “Águas do Rio tem um departamento muito bom, que é o Afluentes, algumas pessoas me ajudando e no operacional também. Entretanto, essas questões não dependem só deles. Com a CEDAE, o problema era resolvido rapidamente, mas agora a demora é muito maior. Quando as demandas dependem do gerente da área Centro-Sul, nada anda. É preciso recorrer ao diretor“, expõe.
Ela ainda ressalta o impacto do aumento das tarifas, que tem piorado a condição financeira tanto de moradores quanto de pequenos comércios. “A situação está difícil, não só para os moradores, mas também para os comércios locais. As faturas estão muito altas, e os estabelecimentos estão enfrentando sérias dificuldades financeiras. Gostaria que a concessionária fizesse melhorias nas tubulações, válvulas e registros, para que as pessoas tenham água o dia inteiro, a semana inteira, ao invés de pagarem por algo que não recebem. Que a Águas do Rio desse desconto pelos dias sem abastecimento. Queremos serviços que sejam equivalentes aos altos valores cobrados e mais eficiência e celeridade, já que são uma empresa privada”, disse Gisele.
O DIÁRIO DO RIO entrou em contato com a Águas do Rio cobrando um posicionamento sobre a situação. Em nota, a empresa respondeu que reforça seu serviço. “A concessionária reforça que está realizando o abastecimento alternativo dos clientes afetados através do uso de caminhões-pipas, mas ressalta que o atendimento é prioritário para serviços de saúde, como hospitais e clínicas.”
“A Águas do Rio informa que a queda para menos de 20% na produção de água no Sistema Guandu, sob gestão da Cedae, afetou gravemente o abastecimento da Capital Fluminense, na última segunda-feira (04/11). Somente na noite de terça-feira (05/11), a estatal restabeleceu integralmente a produção na estação de tratamento de água.
Passado o período de recuperação gradativa do fornecimento, que foi até sexta-feira (08/11), ocorrências identificadas no sistema de distribuição afetaram regiões pontuais da área central da cidade, como a Rua Riachuelo, na Lapa, onde equipes atuam, nesta segunda-feira (11/11), no reparo de três vazamentos em diferentes pontos da via. A normalização do abastecimento nessas localidades será gradativa, após término dos serviços, previstos até esta terça-feira (12/11).
Por fim, a empresa esclarece que, após longos períodos de interrupção ou reduções no sistema, como ocorrido na última semana, casos de vazamentos podem ser registrados, devido à variação da pressão da água no interior das tubulações”, informou.
A empresa também ressaltou que segue disponível pelo número 0800 195 0 195, oferecendo atendimento gratuito por ligações e mensagens via WhatsApp. Além disso, comunicou que os seguintes endereços já foram atendidos com caminhões-pipa: Rua Riachuelo, 271 (10m³ entregues), Rua Riachuelo, 257 (10m³ entregues), Rua Riachuelo, 221, Aptos (10m³ entregues), Rua Riachuelo, 221, Lojas, Rua Monte Alegre, 19, Rua Buenos Aires, 314 e Rua do Bispo, 191.
*Matéria em atualização.
Poxa, só no Centro? A jornalista deveria dar uma passada no subúrbio para ver que em muitos lugares a situação é a mesma