Além da diversão: ‘Micronação’ trata de formas diversas de líder com território, política e cultura

Apesar de não terem a sua autonomia territorial reconhecida oficialmente pelos seus países de origem, as micronações pululam pelo mundo, e o Brasil também possui a sua

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Apaixonado por novos países, o carioca Raphael Garcia desde os 14 anos se dedica ao estudo das micronações, territórios minúsculos cujos criadores dizem ter conquistado autonomia do país em que estão localizadas. O fenômeno não é novo e é conhecido como micronacionalismo, por meio do qual é possível aprender sobre geografia, política e relações internacionais. Na maioria dos casos, esses territórios não têm sua autonomia reconhecida oficialmente pelos seus países de origem. Ainda assim, as micronações pululam pelo mundo.

Segundo Raphael Garcia, que teve toda a sua formação acadêmica realizada em São Paulo, a criação de uma “micronação” ultrapassa a negativa de pagar impostos ou simples diversão. Em suas pesquisas, Garcia chegou ao Sacro Império de Reunião, uma das primeiras micronações virtuais brasileiras. A sua monografia de conclusão do curso de Relações Internacionais, defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (na PUC-SP), teve como tema: “Identidade e Ciberespaço: O Micronacionalismo enquanto Comunidade Imaginada”.

Partindo da indagação sobre os motivos que levam alguém a fundar uma micronação, Raphael Garcia encontrou disse que variados e que vão desde o interesse em explorar novas ideias e formas de governo até o viés megalômano dos seus fundadores que, em muitos, levam a decisão muito a sério, apesar de saberem que não passa de uma brincadeira. Brincadeira ou não, o fato é que o fenômeno o influenciou nas suas escolhas profissional e acadêmica.

Raphael Garcia já morou na Itália, Espanha e Alemanha; e, atualmente, vive na Bélgica, onde editora uma revista de um grupo de comunicação focado em sustentabilidade ambiental. A sua tese de doutoramento, pela universidade espanhola de Deusto, teve como tema migração e diáspora.

Apesar de ser visto anedoticamente, o micronacionalismo é um campo de estudo sério, além de ser uma comunidade global que proporciona uma experiência singular de aprendizado e interação. De acordo com Raphael Garcia, por meio dele é possível ter acesso a aprendizados relacionados à capacidade de gerar novas ideias, excitar novas formas de governo, além de oferecer base para estudos de geografia e relações internacionais.

Motivos para criação de micronações

Variando entre entidades puramente virtuais até aquelas que reivindicam território físico, como Principado de Hutt River, que foi fundado, em 1970, por um fazendeiro australiano para não pagar impostos e que foi “dissolvido” após a sua morte, em 2020; as micronações físicas encontram as suas motivações em revoltas contra o governo, questão de taxas e impostos. Já as virtuais se concentram questões políticas e geográficas, segundo Raphael Garcia.

Outra exemplos de micronações são a Sealand, o Principado de Seborga e o Reino de Talossa. A primeira, uma das mais conhecidas, está localizada na costa da Inglaterra em uma plataforma marítima. Sealand foi proclamada pelo major do exército britânico Roy Bates, em 1967. Sua mulher, na ocasião, ganhou o título de “Princesa Joan”.  Ocupando 14 mil m², o Principado de Seborga, na região da Ligúria, na Itália, reivindica a sua autonomia com base em uma história que remonta o século XI. Já o Reino de Talossa foi fundado, em 1979, em Milwaukee, Winsconsin, EUA. No site da micronação, os seus “habitantes” dizem que a sua independência foi pacífica e revelam dúvidas de que os Estados Unidos a tenham notado.

O micronacionalismo contempla, ainda segundo Garcia, aspectos culturais e sociais, como a criação de religiões próprias, concursos de miss e mister e de times de futebol. “Existiam competições que a gente chamava de micronações lusófonas, e criava o seu time de futebol no começo dos anos 2000?, contou o estudioso ao jornal.

Embora seja impossível saber quantas micronações existem no mundo, há página de fãs na internet que contabiliza mais de 80 micronações que já existiram ou que estão em atividade e que possuem religiões próprias, como o Reino de Permaria, que criou o “Cristianismo Celta”.

Entre as raras micronações que possuem um território físico está Atlantium. Criada por George Cruickshank e dois amigos no quintal de 10 m² da sua casa, na Austrália, em 1981. Atualmente, Atlantium ocupa uma área de 0,76 km², tamanho semelhante a um pequeno parque. Proprietário das terras, Cruickshank, foi “coroado” imperador, autoproclamando-se “primeiro entre iguais”. “Você não pode ser chefe de Estado do Brasil, mas pode ser de uma micronação”, pontuou Raphael Garcia, acrescentando que, apesar de não ter sequer uma rua, a Atlantium tem placas de carros, selos, títulos de “nobreza” e outros souvenirs, que comercializáveis.

“No caso de Atlantium, a proposta é de criar um diálogo, uma representação física para atrair as pessoas. A coleção de selos, moedas e afins é uma forma de ligação com esse território”, explicou o estudioso, adiantando que o dinheiro arrecadado com as vendas, na maior parte das vezes, é para cobrir custos.

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