Os trilhos que ligam a Região Metropolitana do Rio à Central do Brasil têm mais do que uma função de transporte: eles carregam uma rica história desde o século XIX, quando começaram a ser implantados. Desde sua criação, o sistema ferroviário tem sido fundamental para a integração dos cidadãos, ligando suas casas ao trabalho, e transportando uma multidão de passageiros diariamente. Apesar de as estatísticas de transporte apresentarem números em queda, a SuperVia, concessionária que administra os trens desde 1998, ainda transporta mais de 300 mil pessoas por dia.
Com 270 km de linhas férreas, cinco ramais, três extensões e 104 estações, a rede ferroviária do Rio tem uma história de transformações, sendo que muitas de suas antigas estações já não existem mais. Embora o público em geral conheça as principais estações, poucas pessoas ainda se lembram das que foram desativadas ao longo do tempo. Muitas delas foram demolidas, mas ainda existem vestígios que, para os mais atentos, podem ser observados nos trilhos e nas áreas ao redor.
Estações que viraram passagens subterrâneas
No ramal de Santa Cruz, o mais movimentado, por exemplo, cinco estações foram desativadas ao longo dos anos. Alguém se lembra de algumas delas? A Estação do Rocha é um exemplo. Foi desativada desde abril de 1971 e os vestígios podem ser encontrados na forma de uma passagem subterrânea conhecida como o Buraco do Rocha. Localizada entre as estações São Francisco Xavier e Riachuelo, a proximidade dessas duas estações tornou a do Rocha obsoleta. Recentemente, a passagem foi fechada pela Prefeitura do Rio, mas em 2021, chegou a circular o rumor de que o ponto poderia ser reativado, o que levou moradores da região a enviar um pedido ao prefeito Eduardo Paes solicitando a reabertura da estação.
Seguindo pela Zona Norte, outro exemplo de estação extinta é a Estação Todos os Santos, localizada entre o Méier e Engenho de Dentro. Ela foi fechada também em 1971, e seu prédio, agora em ruínas, ficou ao lado da via férrea. Perto dali, a Estação Encantado, que ficava quase embaixo do viaduto da Linha Amarela, foi desativada em 6 de fevereiro de 1971. A criação da CBTU em 1984 chegou a estudar a possibilidade de reabertura da estação, mas o projeto não foi adiante e a estação permaneceu fechada. Hoje, a área serve como passagem subterrânea para pedestres, mas as plataformas e acessos originais já foram demolidos.
Ponto final… Matadouro?
Em Santa Cruz, o passageiro se deparava com a Estação Matadouro, que também foi desativada na década de 1980. Era o ponto final da linha, logo após a estação principal do bairro, e havia sido construída ao lado do Matadouro Municipal, com a função de transportar carne e gado de corte, além de atender aos passageiros da região.
Nos primeiros anos da década de 1970, a estação de Santa Cruz passou por obras, o que acarretou a suspensão do tráfego até a Matadouro. Quando a estação reformada foi inaugurada em 1974, os trens não retornaram ao local. A situação dura até hoje, apesar das reformas da linha circular e da inauguração da nova estação Matadouro (Matadouro-Nova) em 1976. Curiosamente, a estrutura da “nova” estação ainda está de pé na Rua do Matadouro, mas bastante degradada. Na lateral, em uma rua que parece mais uma antiga vila operária, ainda dá pra observar as antigas estruturas da plataforma. Vale “dar um Google” pra ver!
Mais adiante, a antiga Estação Matadouro — desativada na década de 70 —, com sua estrutura histórica e rica em detalhes, infelizmente perdeu sua originalidade e foi descaracterizada após ser invadida por uma família que ocupou o imóvel abandonado.
Ramais Belford Roxo e Gramacho
Nos ramais de Belford Roxo e Gramacho, há outras estações extintas que fazem parte dessa memória esquecida. No ramal de Belford Roxo, exemplos como a Herédia de Sá (entre Triagem e Jacarézinho), Maria da Graça (entre Jacarezinho e Del Castilho), Walmart (entre Del Castilho e Pilares), Terra Nova (entre Pilares e Tomás Coelho), Engenheiro Leal e Eduardo Araújo (entre Cavalcanti e Mercadão de Madureira), e Turiaçu (entre Mercadão de Madureira e Rocha Miranda) já não operam mais, deixando para trás apenas vestígios e memórias. Já no ramal de Gramacho, a estação São Bento (entre Gramacho e Campos Elíseos) é o único exemplo de estação desativada.
A desativação dessas estações ao longo dos anos se deu por diversos fatores, como a falta de passageiros, a proximidade com outras estações e até problemas logísticos que tornaram seu funcionamento inviável.
Agradável leitura a respeito da história dessas estações. Uma pena não haver interesse e empenho, seja como investimento no transporte ferroviário, ou,
seja para aproveitar e transformar em algo que possa explorar como local de preservação da memoria e ponto de visitação agregando ao turismo.